Poema de Processo
Haroldo de Campos - transcriações poéticas
Haroldo de Campos - foto: German Lorca |
Dois anos depois, formou o grupo Noigandres, com Augusto de Campos, seu irmão, e Décio Pignatari, ambos também estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Noigandres, palavra provençal de significado controverso mencionada no décimo dos Cantos do poeta norte-americano Ezra Pound, também se tornou o título da revista publicada pelo grupo, em cinco números, durante dez anos (Noigandres I, 1952; II, 1955; III, 1956; IV, 1958; V, 1962)*. Como coinventor da Poesia Concreta em âmbito internacional, o grupo Noigandres também expôs sua produção poética, para além dos limites de suas publicações impressas, na Exposição Nacional de Arte Concreta, ocorrida no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1956, e no Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, 1957. Com a ampliação das atividades do grupo Noigandres no contexto da equipe Invenção, Haroldo colaborou com publicações para a página por ela editada no diário Correio Paulistano, em frequência semanal, de 1960 a 1967. A Invenção – Revista de arte e vanguarda**, editada pela equipe em cinco números, entre 1962 e 1967, também contou com a sua significativa contribuição.
A primeira coletânea de sua obra poética, Xadrez de estrelas – Percurso textual (1949-1974), publicada em 1976, contém sua produção inicial e concreta, além de uma amostra significativa de Galáxias, obra em prosa poética, editada – em sua versão definitiva – em 1984. Em seus livros de poesia posteriores – de Signantia: Quase Coelum – Signância: quase céu (1979) até o póstumo Entremilênios (2009) –, Haroldo de Campos revela uma escrita de grande densidade intertextual e algo grau de elaboração e complexidade poéticas, o que o torna uma das referências centrais da poesia brasileira.
Haroldo de Campos - foto: (...) |
Sua atividade tradutória, também exercida como reflexão crítica sobre o fazer literário, sempre foi acompanhada de intensa atividade teórica, registrada em inúmeros ensaios sobre arte e literatura. Seu intenso intercâmbio com intelectuais de todo o mundo – como Umberto Eco, Roman Jakobson, Tzvetan Todorov, Octavio Paz, entre muitos outros – transparece em seus textos, dotados de uma atenção singular para com o pensamento contemporâneo, paralelamente a um interesse erudito em desvendar o passado em suas fontes.
:: Fonte: Casa das Rosas (acessado em 15.2.2016).
(* e **) Na pagina dedicada a Décio Pignatari neste site, você poderá encontrar mais informações sobre as revistas 'Noigandres' e 'Invenção'.
Texto da Revista Cult
O poeta, tradutor, ensaísta, e professor universitário Haroldo de Campos, um dos criadores e principais expoentes do movimento concretista, faleceu em São Paulo no dia 16 de agosto de 2003.
Haroldo de Campos notabilizou-se, ao lado do irmão Augusto de Campos e de Décio Pignatari, como um dos líderes do movimento de poesia concreta. O concretismo se vale de técnicas assimiladas das artes plásticas e visuais, e a própria disposição gráfica dos versos dos poemas faz parte da unidade semântica do texto.
Polêmico por excelência, Haroldo de Campos considerava a poesia concreta como legítima herdeira da tradição provençal de Arnaut Daniel, da lírica de Dante e das inovações vocabulares de Pound e James Joyce. Autores que formaram, aliás, o panteão de escritores que receberam recriações (ou “transcriações”, como preferia o escritor) através das traduções de Haroldo de Campos. O escritor também verteu para o português textos de clássicos como Homero, Maiakóvski, Rimbaud e Mallarmé, além de passagens do Antigo Testamento.
A veia de polemista de Haroldo de Campos revelou-se quando da publicação de seu O sequestro do Barroco, no qual criticava a ausência de Gregório de Mattos e de Antônio Vieira no célebre ensaio Formação da Literatura Brasileira, de Antonio Candido.
Haroldo de Campos publicou dezenas de volumes de poesia e ensaística, dentre os quais se destacam Xadrez de estrelas, Galáxias e A máquina do mundo repensada (poesias) e A arte no horizonte do provável, Deus e o Diabo no Fausto de Goethe e O sequestro do Barroco na Formação da Literatura Brasileira: o caso Gregório de Mattos (ensaios).
CARLOS EDUARDO ORTOLAN MIRANDA é doutorando e mestre em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas FFLCH – USP