Em dia mundial, ONU pede solidariedade a mulheres sobreviventes de violência
Organismos celebraram a força de movimentos sociais, como o #MeToo (#EuTambém), que expuseram a dimensão dos abusos baseados em gênero — quando a mulher é atacada ou intimidada apenas por ser mulher.
m mensagem para o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher, lembrado em 25 de novembro, agências da ONU pediram solidariedade a mulheres sobreviventes de agressões e violações de direitos. Organismos celebraram a força de movimentos sociais, como o #MeToo (#EuTambém), que expuseram a dimensão dos abusos baseados em gênero — quando a mulher é atacada ou intimidada apenas por ser mulher.
“Mais de um terço das mulheres no mundo todo (já) sofreram ou violência sexual ou violência física em algum momento de suas vidas. Além disso, pesquisas indicam que o custo da violência contra as mulheres pode chegar anualmente a em torno de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) global. Isso equivale a 1,5 trilhão de dólares”, afirmou o comunicado.
“O último ano foi extraordinário em termos da conscientização que foi suscitada a respeito da extensão e da magnitudade das diferentes formas de violência infligidas às mulheres e meninas. A campanha #MeToo, um dos movimentos sociais mais virais e poderosos dos anos recentes, trouxe a questão para os holofotes”, acrescentou o pronunciamento.
A mensagem foi assinada pela diretora-executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, pela chefe do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Natalia Kanem, pelo administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Achim Steiner, e pela diretora-executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Henrietta Fore.
Os chefes dos organismos ressaltaram que o dia internacional é uma ocasião para “manifestar solidariedde com os sobreviventes e com ativistas dos direitos humanos das mulheres”. A data também reitera a necessidade de intensificar esforços pelo fim da violência de gênero, descrita como “um flagelo global”.
Na avaliação dos dirigentes, a conscientização sobre a violência contra as mulheres foi ampliada ainda pela premiação do Nobel da Paz de 2018, que reconheceu a ativista da minoria yazidi e sobrevivente de perseguição pelo Estado Islâmico, Nadia Murad, e o médico Denis Mukwege. O clínico é especialista em cirurgias de reconstrução do órgão genital feminino para mulheres e meninas vítimas de mutilação.
“A família da ONU está trabalhando incansavelmente com nossos parceiros para fortalecer os enquadramentos legais e as instituições, para melhorar os serviços para sobreviventes e para enfrentar as raízes da violência, desafiando as normas e comportamentos sociais e combatendo as desigualdades de gênero mais amplas”, disseram as agências.
Há mais de 20 anos, Fundo Fiduciário da ONU pelo Fim da Violência contra as Mulheres investe em iniciativas locais e nacionais para traduzir promessas de políticas em conquistas concretas para mulheres e meninas. Estima-se que projetos financiados com esses recursos levaram assistência a mais de 6 milhões de pessoas no ano passado. O fundo é gerencido pela ONU Mulheres. A agência também implementa o projeto Spotlight, um programa em parceria com a União Europeia que já angariou 500 milhões de euros para erradicar a violência contra as mulheres.
“Entendemos que reduzir e prevenir a violência contra as mulheres é transformador: melhora a saúde das mulheres e crianças, reduz os riscos de adquirir o HIV e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), melhora a produtividade econômica e o desempenho educacional e reduz os riscos de doenças mentais e do uso abusivo de substâncias, entre outros benefícios”, concluiu a mensagem.
ONU: 16 dias pelo fim da violência contra as mulheres
O 25 de novembro marca o início da campanha anual da ONU 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres. As ações de conscientização são organizadas para se encerrarem em 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. Em 2018, a iniciativa tem como tema o apelo #HearMeToo ou #MeEscuteTambém, na tradução em português. A proposta das Nações Unidas é expressar apoio às milhares de vítimas de assédio sexual e outros tipos de abuso, muitas das quais vieram a público ao longo do ano passado para denunciar agressões.
“É um chamado para ouvir e acreditar nas sobreviventes, colocar fim à cultura de silêncio e que a nossa resposta tenha como foco as sobreviventes. Deve-se deixar de questionar a credibilidade da vítima. Em vez disso, deve-se centrar na prestação de contas do agressor”, explicou a chefe da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, em pronunciamento sobre a campanha.
Segundo a dirigente, a estratégia de mobilização visa honrar e amplificar as vozes das pessoas – da dona de casa, no seu lar, a uma aluna que sofre abuso do seu professor, de uma secretária de escritório a uma atleta ou uma estagiária em uma empresa.
A campanha #MeEscuteTambém vai na esteira de movimentos globais recentes, como o #MeToo (#EuTambém), #NiUnaMenos, #TimesUp e #BalanceTonPorc.
Ao trazerem à tona casos generalizados e ocultos de violência de gênero, essas manifestações “reverteram o isolamento em sororidade mundial”, disse a chefe da ONU Mulheres.
“Graças a essas ações, estão sendo exigidas as responsabilidades dos agressores e se expõe a prevalência da violência num espectro que envolve desde a alta direção até o chão da fábrica.”
Mlambo-Ngcuka explicou que a verdadeira proporção da violência de gênero é desconhecida porque o medo de represálias, os efeitos da desconfiança e o estigma associado às vítimas “silenciaram as vozes de milhões de sobreviventes”. O resultado é a distorção da real dimensão do “contínuo horror” que as mulheres sofrem.
“Aquelas pessoas que se manifestaram nos ajudaram a entender melhor como o assédio sexual tem sido normalizado e até mesmo justificado como uma parte inevitável da vida de uma mulher. A sua generalização, mesmo dentro do Sistema das Nações Unidas, contribuiu para que seja percebido como um problema menor, que pode ser passado por cima ou até mesmo tolerado. Assim, apenas os casos mais atrozes têm tido o esforço para empreender o árduo caminho da denúncia. É um círculo vicioso que deve terminar”, avaliou a dirigente.
A chefe da ONU Mulheres pediu o fim da impunidade dos crimes cometidos contra as mulheres – o que envolve engajar instituições do Estado e também do setor privado.
“Poucos casos são relatados à polícia. Menos ainda são os casos com penalidades, dos quais somente alguns são de prisão. A polícia e as instituições judiciais devem levar muito a sério as denúncias e dar prioridade à segurança e ao bem-estar das sobreviventes, por exemplo, por meio de medidas inclusivas, como mais mulheres policiais para atender às denúncias de violência apresentadas pelas mulheres”, defendeu Mlambo-Ngcuka.
A dirigente também cobrou que as legislações reconheçam o assédio sexual como “uma forma de discriminação contra as mulheres e uma violação dos direitos humanos”.
“Também quem oferece emprego, em todos os países, pode influenciar decisivamente a propor padrões de comportamento que promovem a igualdade de gênero e tolerância zero para qualquer tipo de abuso”, concluiu a oficial das Nações Unidas.
UNESCO lembra agressões dentro de relacionamentos
Também por ocasião do dia internacional, a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, lembrou que “a violência contra a mulher geralmente ocorre em ambientes domésticos ou privados”. “Nossas sociedades tendem a minimizar ou banalizar o problema, seja devido ao medo de represálias ou pela vergonha em relação à família e aos amigos”, disse a dirigente.
De acordo com Azoulay, em alguns países, 70% das mulheres já sofreram violência física ou sexual pelas mãos de um parceiro – um número que não leva em conta o assédio a que elas também são submetidas.
“Quase metade dos feminicídios no mundo são cometidos por um parceiro íntimo ou membro da família. Cento e vinte milhões de mulheres e meninas com menos de 20 anos foram violadas sexualmente ao menos uma vez na vida. Duzentos milhões de mulheres que vivem hoje sofreram mutilação genital feminina, geralmente antes dos cinco anos de idade”, afirmou a chefe da UNESCO.
Nossa dignidade
coletiva e a nossa
humanidade estão em jogo.
A autoridade máxima do organismo alertou ainda para novos problemas vividos pelas mulheres, associados a mudanças no mundo moderno.
“As mulheres são especialmente alvos do cyberbullying, mas também são assediadas em seus locais de trabalho. Esses fenômenos não são exclusivos de setores sociais, culturas ou países específicos. Elas ocorrem em todas as sociedades do mundo e atingem até mesmo os mais altos círculos políticos”, explicou a dirigente.
Para Azoulay, a luta pelo fim da violência contra as mulheres é impulsionada pela “vontade ainda maior de se alcançar um mundo em que as mulheres não tenham menos direitos, menos oportunidades e menos escolhas, simplesmente porque são mulheres”.
“A UNESCO reafirma seu firme compromisso com as mulheres do mundo e convida a todos os seus parceiros a redobrar esforços para vencer essa batalha onde nada menos que a nossa dignidade coletiva e a nossa humanidade estão em jogo”, concluiu.
Comentários
Postar um comentário