Crônica - O Fuzilamento de Frei Caneca - Manoel Messias Pereira


 O Fuzilamento de Frei Caneca


O fuzilamento de frei Caneca


A data de 13 de janeiro de 1825, lembramos que na escola todos os alunos tiveram a informação sobre o fuzilamento do frei Caneca. O religioso  que teve o nome de batismo como Joaquim da Silva Rabelo e que adotou o nome de Joaquim do Amor Divino Rabelo. E o motivo do fuzilamento geralmente os alunos esquecem assim como grande parte da população que passou pela escola pública ou privada. 

E eu bem sei disto porque fui professor da escola pública, e geralmente a história é uma disciplina em que o aluno precisa entender que é parte dos estudos sociais, em que é necessário que haja uma noção geral sobre as questões que envolva a politica, a religião, a antropologia, a filosofia, a geografia, a sociologia, a economia. Portanto o fato não ocorre simplesmente sem que haja uma ligação entre essa tantas disciplina.

E em primeiro lugar é sempre bom lembrar em que fase da história do Brasil que tudo ocorreu. Verás que estes são os primeiros anos do Brasil Império, portanto logo após ao processo de Independência ocorrido em 1822, e também relativo ao processo de organização da Assembleia constituinte de 1823, a dissolução desta mesma Assembleia em 12 de novembro de 1823, quando D. Pedro I não admitia de forma alguma limitação de seus poderes, como desejavam os constituintes que passaram a noite de Agonia, votando. E por fim o Imperador comandou uma força militar que cercou o prédio da Assembleia. E neste episódio vário deputados acabaram sendo presos e os irmão Andrada desterrados, que é mesmo que degredado ou expatriado.

Depois de de dissolver a Assembleia Constituinte, nomeia um Conselho de Estado formado por dez (10) homens escolhido por ele e que representava o ideário conservador e absolutista. E trabalharam no anteprojeto dos constituinte mas que dava ao executivo a soberania sobre o Legislativo e garantiram o absolutismo e o autoritarismo. e essa Constituição foi outorgada em 25 de março de 1824. O Imperador tinha o Poder Moderador. que dava a ele o direito de dissolver a Câmara, conceder anistia e convocar assembleia Geral, nomear senadores, suspender juízes, aprovar e suspender resoluções dos Conselho Provinciais e o direito de vetar o Ato do Poder Legislativo.

Abaixo do Poder Moderador tínhamos ainda o Conselho do Estado, que era órgão  assessor direto e composto por conselheiros do monarca. Em relação ao voto continuou a ser censitário, baseado na renda e no nível de escolaridade do eleitor. Portanto a eleição não tinha um fator cultural e sim econômico. Os eleitores eram chamados de Província e de paróquia. que elegiam senadores e deputados Um eleitor de paróquia tinha que ter uma renda anual de cem mil  reis e o de província de 200 mil reis, para ser deputado ou senador a renda era de 400 a 800 mil respectivamente.

Enquanto isto estava circulando entre a sociedade os ideais republicanos e federativos principalmente em Pernambuco, e motivados pelas medidas radicais e autoritárias do imperador, até  mesmo com a dissolução da assembleia Constituinte que em 1824 via a Constituição centralista e controlada pelo monarca. Portanto anti-democrática e que não representava os anseios nacionais.Além do mais havia questões econômicas como da produção do algodão e do açúcar que continuava crítica, devido a queda nas exportações, somando a baixa produtividade e o aumento dos impostos. O que possibilitou o aumento dos preços dos gêneros de primeiras necessidades, onerando principalmente as camadas mais pobres da população.

Esse ambiente de revolta . A imprensa através dos jornais como a Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco de Cipriano Barata, o Tífis Pernambucano, dirigido pelo jornalista e carmelita frei Caneca, que divulgava os ideários republicanos e prega a rebelião.

O Imperador nomeia para o Estado de Pernambuco em 1824 Francisco Paes Barreto, mas os eleitores não aceitam, e insistem para que o imperador reconheça Manuel Pais de Andrada eleito. D. Pedro mantem a nomeação e as forças de segurança prendem Manuel Paes de Andrade. É uma arquitetura de revolução estava a desenhar-se. Em julho Pais de Andrade Proclama a Confederação do Equador, rompe com a capital e pregam a união do Norte e Nordeste e a adoção de uma república federativa nos moldes republicanos, implantados nos outros países da America Latina. E até que ficasse pronta a Constituição da república do Equador adotaram a Constituição da Colômbia . E Pais Andrade enviou emissários e todas as províncias da Bahia ao Ceará. Porém apenas Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e o Ceará aderiram  a Confederação.

Os tais revolucionários, acreditando precisar do apoio do povo , organizaram brigadas populares compostas de brancos pobres, negros e mestiços, além de militares de baixa patente. E assim foram contra a aristocracia rural, a não obediência as ordens de comando. E nisto surgiu a radicalização da comunidade afro e mestiços que num protesto ameaçava a população branca do Recife. E neste contexto a ideia de abolir a escravidão passou a ameaçar ou amedrontar a elite latifundiária. E muitos apoiadores passam a deixar o movimento e a alegação é para que não ocorra o que ocorreu no Haiti, quando os senhores de pessoas escravizadas foram mortos pelos escravizados. Além do mais perder a mão de obra escravizada era extremamente prejudicial aquela elite. E até mesmo Paes Andrade deixa o movimento e isto que facilitou a vitória do governo central.

Alguns rebeldes sob a liderança de Frei Caneca até tentaram resistir, mas um nova divisão  revolucionaria partiu de Olinda para juntar -se ao revolucionários no Ceará porem esse encontro não aconteceu e muitos cansados e na impossibilidade de continuar na luta os homens de frei Caneca renderam-se foram presos. E vários líderes acabaram sendo condenados a mortes.

Frei Caneca de princípio ficou no Calabouço detido na casa de detenção em Recife, e por sua altivez, seu caráter e sua honra e o ideário republicano, foi um ser humano que nenhum carrasco queria enforcá-lo, por isso coube as forças de segurança fuzilá-lo em 13 de janeiro de 1825.

O que sabemos é que a repressão oficial foi montada com ajuda de militares externos  e com a ajuda de hum milhão de libra esterlina pela Inglaterra e por terra e por mar seguiram as forças de repressão . O brigadeiro Lima e Silva e o almirante Cochanre tinham ordens expressas para aniquilar o movimento. E com extrema violência, com saques e incêndios de grande partes das casas e massacre indiscriminado, da população foi o que restou neste contexto. O importante foi o ideário republicano que foi proposto pelos revolucionários, mas que infelizmente encontrou em contraponto, uma monarquia absolutista extremamente autoritária. E isto é parte da história do Brasil.

Manoel Messias Pereira

professor, cronista e poeta
membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio reto-SP/Uberaba-MG.















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