Crônica - A Leitura dos Presépios - Manoel Messias Pereira




 A leitura da arte do presépio



Um dia na minha infância passei numa loja e observei um presépio. Lá vi uma manjedoura, com Jesus, maria José, e um anjo e uma brilhante Estrela Guia. E fiquei sabendo que a estrela Guia era a luz de deus que vinha ao encontro do Salvador. O anjo era aquele que anunciava a chegada de Jesus. Maria a mulher escolhida, para ser a mãe de Cristo. E é chamada de Imaculada. Já José o pai adotivo de Jesus. A árvore é o símbolo da vida e as bolas e as guirlandas os frutos para alcançar a prosperidade. E Jesus era a imagem da criança depositada sobre as palhas, ele representava a própria luz. Pois anteriormente nesta data era a festa pagã do deus Mitra, o deus Sol.

Depois da festa de Reis, o que chamam de "Epifânia", passa-se ao domingo seguinte na qual temos o que chamam de a festa do Batismo do Senhor. Somente depois disto é que devem desmontar os presépios com uma breve oração. E os resíduos do presépio disse que não pode ser jogados no lixo .

E ao tomar conhecimento destas informações, fico mergulhado nas festas de reis, nos cânticos mambembes que percorriam as casas desde a preparação advento em novembro até a festa do batismo do senhor. Era um período em que eles recolhiam doações de populares, que faziam promessas e pagavam com galinha, porcos, vacas, carneiros, cabritos, arroz, feijão, macarrão e a festa era animadas com muita comida musicas e danças, além do espetáculo da chegada da Cia de Reis, quando não do encontro de Cias, era assim com um ritual todo próprio. O que via muito falar era se a companhia ou folia era baiana, mineira ou paulista pois havia uma forma de apresentar-se e de cantar. Um canto que nunca esqueço era de uns parentes obviamente baianos que cantavam "Cristo nasceu em Belém para todo o nosso bem para todo o nossos bem"

Tudo isto remete-me ao Novo testamento, João 3:16 "Deus amou tanto o mundo que entregou o seu filho único para que todos que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". Mas lendo uma revista, li um artigo de Rodrigo Cavalcante que afirma "Jesus não nasceu em Belém, teve vários irmãos entre eles Tiago, José, Simão e Judas e a sua morte passou quase despercebia no Império Romano" ele afirma era um ser que possuía uma pele escura, e que nascera num vilarejo que tinha aproximadamente 400 habitantes. Essas histórias dos irmãos de Jesus segundo a Igreja eram apenas primos. E essa data do Natal foi fixada pela Igreja no ano de 525. Há quem diga que Jesus nasceu em Nazaré, conforme recolhemos isto do padre Jaldemir Vitório, do Centro de estudos Superiores da Companhia de Jesus em Belo Horizonte. Mas em Matheus encontramos a cidade de Belém.

O padre Jaldemir, explica que o texto segue o gênero literário conhecido como midrash. E o midrash é uma forma de contar a história da vida de alguém usando como pano de fundo a biografia de outras personalidades históricas e a referência a Belém é feita pra associar ao Rei Davi do Antigo Testamento que segundo a tradição teria nascido lá mas é em Belém que realizou a terrível execução de recém nascidos ordenadas por Heródes e a fuga de Maria e José para o Egito, também teria sido uma licença poética para simbolizar Jesus como um novo Moisés.

Hoje quando vejo um presépio já faço um leitura sobre a cidade de Jerusalém, conhecida como a cidade santa das três religiões, o judaísmo, cristianismo e o islamismo. Local onde viviam os cananeus, os filisteus, cuja as escavações datada de 25 séculos antes de Cristo, estabeleceram na Colina de Ofel, posteriormente chamada de Sião. E no final do Século XIX o jornalista Theodor Herzl idealizou um movimento que tinha como objetivo estabelecer um Estado Judeu na Região, e por isto as pessoas que seguiam uma orientação ideológica com base em Herzl, é chamada até hoje de sionistas, ou seja ocuparam a Colina de Sião.  Mas   a partir do Século VII, Jerusalém caiu sob o domínio do Islã, primeiro com os árabes e depois os turcos otomanos que assim como o Cristianismo e o judaísmo conferiu um caráter sagrado . E o que dizem os especialistas é que em Jerusalém está a Mesquita do Domo da Rocha, o terceiro mais importante santuário do Islã depois de Meca e Medina.

Creio que na próximo ano em 6 (seis) de janeiro  já começam a desmontar os presépios. É interessante que o tempo passa e nossos olhares passam a ter leituras, que possibilitam-nos manter um diálogo sobre a tradição, o folclore, a teologia, a antropologia, a própria história. E todas essas culturas fazem-nos, entender que a vida é construída numa diversidade, em que mantemos o respeito ao outro, as verdades científicas, poéticas as licenciosidades de todas elas num mesmo contexto humanista. E assim vamos educando o nosso olhar nestas manifestações sacras populares.


Manoel Messias Pereira

cronista
membro da Academia de Letra do Brasil - ALB
São José do Rio Preto -SP.
 

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