Análise Comparada - Da poesia a prosa o tema é o ser humano na terra - Manoel Messias Pereira

 





Chico Buarque de Holanda
Ana Cruz


Da Poesia a Prosa o tema é o ser humano na terra



O poeta e escritor carioca  Chico Buarque de Holanda, escreveu o poema "Levantados do chão"

Como então? Desgarrados da terra?
Como assim? Levantados do chão?
Como embaixo dos pés uma terra
Como água escorrendo da mão

Como em sonho correr uma estrada?
Deslizando no mesmo lugar?
Como em sonho perder a passada
E no oco da terra a tombar?

Como então? Desgarrados da terra?
Como assim? Levantados do chão?
Ou nas plantas dos pés uma terra
Com água na palma da mão?

Habitar uma lama sem fundo?
Como em cama de pó se deitar?
Num balanço de rede sem rede?
Ver o mundo de perna pro ar?

Como assim? Levitante colono?
Pasto aéreo? Celeste curral?
Um rebanho nas nuvens? Mas como?
Boi alado? Alazão sideral?

Que esquisita lavoura? Mas como?
Um arado no espaço? será?
Choverá que laranja? Que pomo?
Como? Sumo? Granizo? Maná?


A poetisa mineira  de Visconde do Rio Branco, Ana Cruz, escreveu em prosa "Um tempo" e eu recolhi esse fragmento,

Chegou um tempo das águas de dezembro, das mangas, milho verde. Milhos, mangas, atraindo abelhas, passarinhos. Meninos pretos e brancos e sararas, sabiás nas pimenteiras.  Dias longos, casa alegre enternecida com cheiro de novo.

Em metade de março quando São José assegurar a boa chuva, a terra estará preparada para o plantio do feijão, das batatas doce brancas, amarelas e roxas. Nada de estender as plantações. Izé está querendo ocupar as reservas das ormigas, cobras, tamanduas, e pragas necessárias. Sua avareza potencializou-se depois de ter ouvido de um padre da TFP que os comunistas pretende tomar a cidade e depois irão para a roça, onde houver terras ociosas irão ocupaá-las, para colocar estranhos. Com isso vão perder a privacidade.

. . . E no ultimo paragrafo desta prosa observo. Único pedido é que a colheita seja farta, pois eles sabem que a paz, saúde e prosperidade vêm junto com a distribuição justa da fartura. A não ser quando alguém se apropria sozinho dela.

Esses fragmento de Ana Cruz e o texto poético de Chico Buarque tem duas coisas em comum, ambos falam da terra e do homem atuando sobre ela.

No texto de Chico Buarque ele poeticamente questiona, pergunta, ele traz a indagação que permeia todo o título do poema levantados da terra. é na verdade está falando do ser humano que sempre esteve ligado a produção agrícola, sempre com calos nas mãos, mas a terra é como uma mãe. Esses seres humanos que tanto trabalhou, lavrou o chão, trouxe fartura. Um dia foi deserdado de um sonho e pouca gente, herdou latifúndios que na verdade não comprou grilou. Mas Chico questiona como o sonho perde a passada. É que na verdade os grandes latifundiários são os tais grileiros e não lavradores. É que a terra que muitas vezes é do estado ou seja da União, passa a ter dono quando um posseiro julga ter nela o uso capião muitas vezes com um documento esquentado em cartórios, com urinas de grilos portanto portando  um documento com aparecia de velho e muitas vezes com uma sentença preparada por um juíz. Sendo que esse uso capião pode ser ordinário, extraordinário e especial ou pro-labore.

O trabalhador nunca detém esse poder ele ganha as estradas com sua família, sem instrução, com calos nas mãos seguem, e esse são o que Chico chama de levantados do chão. Se tornam sem terras pois suas raízes profundas foi de quem teve a vida dedicada a agricultura e agora, caminham sem paz. Até encontrar outros trabalhadores com a mesma tristeza, mas com os mesmos sonhos.

E os sonhos desses trabalhadores  é buscar, se encontrar e se inscreverem no Incra, identificar as áreas publicas ou que está em litígios, que alguém disse que é dono mais é área devoluta, ou abandonada, que não se pagam impostos.  Espera na pista na rodovia em acampamentos 1, 2, 3, 4, 5, 6, anos ou mais, para que o processo da ocupação ocorra, mas antes a terra reivindicada passa por uma  vistoria da Policia Federal, a documentação passa por análise das autoridades competentes e somente após isso, todos que desejam ter essa terra para trabalhar para assentar portanto voltar as raízes e deixar de ser o desgarrado da terra conforme a poesia. Terá o Incra conferindo todos os nomes as documentações, e dá as autorizações de entrada na terra. Esse tramite legal, põe o trabalhador para ocupar a terra. E se quebra um quesito, volta para o fim da fila do Incra. E mesmo com a entrada da terra precisam aguardar ordem e ou fazer todo o processo que passa por financiamento com visto de engenheiro, assistente social, só depois podem começar a construir. E por isso não há invasões de terra por parte de trabalhadores.

 E neste tempo capitalista esses seres humanos enquanto aguarda as decisões da justiça seja na rodovia ou no local a ser assentado é escorraçado, corre o risco de morrer a bala, levam pedradas, tem prefeito solicitando a retirada destes trabalhadores, usando policia militar, usando tratores e tendo apoio de latifundiários. A luta é resistir sempre. E são chamados de invasores. Quando estão ocupando a terra, que são de onde provem o sustento para as suas famílias. E também a produção de hortaliças de legumes  e de vários produtos sem o uso do agrotóxico.

E a também prefeitos que compram barracas e buscam pessoas que não são do movimento, para conseguir adeptos e votos, principalmente em cidades pequenas. Por isso cabe a Justiça e a policia civil investigar.

No texto de Ana Terra, vemos que ela fala da chuva de dezembro, da fartura das frutas, como a manga, as batatas brancas, roxas e amarelas, o feijão ou seja falam da plantação de comida. Fala da fartura e atribui isto as chuvas e a proteção de São José. O santo protetor de São José do Rio Preto, de São José do Rio Pardo, de São José dos Campos e assim por diante. E neste contexto religioso, ela traz um elemento perigoso que adentram as Igrejas católicas que é a Tradição Família e Propriedade-TFP, que é a chamada extrema direita da Igreja católica, e que tens os ruralistas também influenciando e dando as cartas, passando recados nas missas e provocando os trabalhadores sem terra com se fossem bandidos. Esse grupo de latifundiários de ruralistas de donos de terra provindas ninguém sabe como, provavelmente da grilagem tem vozes de padres, os verdadeiros pastores dos crimes e que pregam contra os pensadores socialistas e comunistas. Dizendo exatamente como no enredo da prosa de Ana Cruz. O Izé o personagem da poetiza entendeu o recado daquele padre. Dizendo que os comunistas estavam na cidade e agora vão também para o campo invadir. Como é a linguagem da direita, ou extrema direita. E como exemplo disto vamos lembrar que essa extrema direita que tens esses latifundiários foi responsável pela morte do Padre Jósimo Tavares, dentro de sua Igreja morto por fazendeiros. Esse padre era coordenador da Pastoral da Terra. Portanto fazia um papel social importante para os trabalhadores da terra.

O que podemos entender é que existe uma luta de classe que se apresenta na Igreja Católica Apostólica Romana, de um lado temos a extrema direita com sintonia muito presente no atual momento politico brasileiro. De outro lado temos as pastorais sociais, como da terra, do trabalho, que é fruto dos esforços de papas como Leão XIII, João XXIII, que permitiram todos os trabalhos das Teologia da Libertação que nos mostra um Cristo trabalhador, e com isto voltado ao campo que alguns chamam de socialismo Cristão, mais sabemos de uma forma errada. Porém são esse segmento religioso, que permitiu historicamente o surgimento de partido como Partido dos Trabalhadores-PT, como a Central Única de Trabalhadores como a CUT e também o Movimento Sem Terra. E recordo muito bem que estive na casa de Maria em Campinas-SP, e ouvindo e participando de uma reunião religiosa quando D. José de Louveira diz, O PT, a CUT e o MST são filhos da nossa Santa Igreja.

E quando sustentamos que o atual quadro politico é favorável a direita portanto aos grandes detentores de terras e latifúndios, vemos que o atual presidente Jair Bolsonaro incrementa verba para os ruralistas e com certezas latifundiários, para o tal agro negócio e portanto podemos observar isto no Orçamento para o Incra de 2021, e praticamente reduz a verba para o setor da agricultura familiar , o que entra os últimos assentados.

E sobre isto vemos que a Procuradoria do Mato Grosso, viu com certa atenção a omissão do Incra em relação a reforma agrária. E inclusive  foi extinta a Pronera no governo de Jair Bolsonaro . Ou seja acabou o Programa de educação para a reforma Agrária. E o Incra juntou-se com o Ministério da agricultura. Portanto temos um governo tendencioso, e creio que no campo deve ter um clima de melancolia. Pois sabemos que sempre houve assassinato no campo, chacinas como de Eldorado dos Carajás e que a Pastoral da terra -CPT sempre nos mostrou essa realidade, coisa que o Ministério da reforma Agraria sempre negava falando que era luta sindical estou falando do período de Raul Jungman. Inclusive devemos lembrar da morte segundo a Ouvidoria da reforma agrária, como de Nilton Barbosa de Lima, ou de Lucídio que estava hospedado num Hotel e dizem que oi morto por engano e que levou Dom Tomás Balduino a criticar Raul Jungman.

De uma coisa eu sei a poesia dizem as verdades que na politica alguns seres de gravatas querem encobrir, querem apagar, querem negar,  bendito seja o pais que tens Chico Buarque de Holanda, ou Ana Cruz ambos falam de terra. Ana Cruz de forma sutil falam de consequências perversas nas entranhas do  capitalismo, no seu livro intitulados "gravados na memória." Chico no seu poema "Levantados do Chão" pergunta sobre esses seres humanos cuja a raízes estavam ou sempre estiveram na terra mas Chico pergunta por que estão desgarrados da terra? São indagações que creio trazer um pouco de incomodo,  e desconforto, para alguns cidadãos da direita, e acho que a poesia  é uma ficção mas vezes provoca, numa concretude que merece ser declamada, cantada, e respondida com políticas públicas. Mas é claro se tiver  pessoas com um mínimo de dignidade, de bom senso, e respeito nos poderes constituídos da nossa república, do contrário ficamos no status- quos, realmente desolados e desencanta e tristes. E por ora é isso.  Um abraço.


Manoel Messias Pereira

professor, cronista, poeta

São José do Rio Preto-SP.







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