Crônica - Ideologia - Manoel Messias Pereira

 



A ideologia brasileira no Século XXI 

Uma das maiores confusões é a ideia de esquerda e direita no Brasil quando trata-se do viés politico. E nós professores  sentimos que está dizimado e cristalizado entre todos os segmentos um processo de plena ignorância social nesta abordagem temática. E até mesmo os operadores do contexto político nos brindam com algumas opiniões nas suas andanças, que teoricamente permitem aumentar essas confusões. E para tal observo algumas frases ditas pelo ex-presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva e comparo com a ex-candidata a presidência Marina Silva que  carecem de minhas observações.

Luis Inácio Lula da Silva disse no dia 22 de dezembro de 2006 as 18:15h na Agencia Estado, disse ser de esquerda, pois de esquerda é defender o que ele defende, mas seu governo não é de esquerda. Já em 11 de dezembro de 2006 ele afirmou ser centro. e arrematou que ele era um torneiro mecânico de profissão, católico por opçõ religiosa e corintiano por opção futebolística.E o seu governo era de correlação de forças políticas por uma sociedade que tens inclinação pelo atendimento das demandas sociais, que é para que o povo elegeu. Numa reunião com empresários quando recebe o Prêmio de Brasileiro do Ano da Revista Isto é, afirmou que ser de esquerda é uma ideologia da juventude e que uma pessoa nova ser de direita ela tem problema. Já envelhecendo fica no centro num equilíbrio. E em 13/12/2006 Lula praticamente renega a esquerda e caus um mal estar no Partido dos Trabalhadores -PT.

Seguindo o presidente Lula em 20 de janeiro de 2016, há uma mudança nas suas falas, encontramos essa frase dele "Eu sou mais a esquerda do que antes. Porém em 2018 quem eram os amigos dele da Conciliação de classe some e os partidos da Esquerda lutam para que ele tenha o respeito de toda a nação(não no sentido da expressão eurocêntrica), e tenha o direito de disputar as eleições. Pois há uma conspiração de membros da burguesia aristocrata e do judiciário para tirá-lo da disputa.

Já  Marina Silva tenho a observação, de prestar a atenção na sua entrevista na Revista Época/globo, feita por Eugênio Bucci, em que a ex-ministra e agora na Rede Sustentabilidade afirma que não é nem de centro, nem de esquerda e nem de direita e muito pelo contrário, e com isto fico preocupado ela está flutuando. Mas ela tem um peso, maior do que o ar ela vai cair. É a lei da gravidade. Já reportagem da BBC-português numa matéria assinada por Julia Dias existe  um comentário do fundador da rede sustentabilidade Luis Eduardo Soares de que Marina queimou caravelas com a esquerda para apoiar o impeachment. E pegando um gancho da entrevista de Bucci, ele afirma como pode um partido não ter posição ideológica nem na esquerda nem na direita e nem no centro, sem saber se é oposição, se é situação. Mas na fala de Marina Silva é um partido que não deixa-se aprisionar por dogmas.

Esses dois fragmentos de pensares políticos do Brasil permitem-me entender a convulsão na mídia entre esquerda e direita e isto na cabeça do eleitor, que formata-se e cristaliza-se num processo de plena ignorância.

Essa ideia de esquerda e direita remonta nos a Revolução Francesa de 1789 em que de princípio tínhamos o Antigo Regime que é uma expressão cunhada pelos revolucionários para designar tudo aquilo que eles acreditavam ter liquidado ou seja o processo de mudança embora fosse mentira eles estavam num capitalismo embrionário com a monarquia absoluta onde  os privilégios sociais estavam juridicamente justificados, com o Primeiro Estado na mãos do clero, o Segundo Estado com a Nobreza e todos isentos impostos diretos e possuíam exclusividades para exercer determinados cargos como  a oficialidade do Exercito.

E por fim  o Terceiro Estado com a burguesia que representava 97% da população francesa e era formado por um universo heterogêneo: havia a alta burguesia composta por armadores, grandes banqueiros e comerciantes, e podia, pela compra, ingressar no Segundo  Estado eram moderados e tendentes a conciliação e pagavam impostos, também havia a pequena burguesia formada por comerciantes, profissionais liberais e pequenos proprietários, com tendência a radicalização; somavam neste bolo os trabalhadores urbanos que representavam um proletariado em formação, mas que no contexto estavam agregados a burguesia, e disto temos artesãos, trabalhadores das industrias domésticas e das manufaturas, aprendizes e oficiais dos grêmios artesanais, pequenos lojistas, conhecidos como sans-culottes e foram os mais combatidos elementos da revolução e por fim os camponeses que representavam 80% da população francesa, que incluía pequenos proprietários, arrendatários, assalariados rurais e ainda alguns servos.

A situação da França torna-se revolucionária, a partir de cinco  elementos,1) a crise financeira determinada pelo deficit público crônico agravado pela participação da França na guerra de Independência dos Estados Unidos da América,  2) a crise econômica agravada por problemas climáticos, que geraram a alta dos preços e a pauperização dos trabalhadores urbanos e dos camponeses 3) o governo dos últimos  reis absolutistas como Luis XV e Luis XVI, que mostraram insensíveis à situação da França, 4)As ideias iluministas que forneciam o fundo ideológico  liberal e que canalizou a insatisfação do Terceiro Estado (burguês) e por fim 50 As Contradições entre o grau de desenvolvimento das forças produtivas, impulsionadoras do sistema capitalista e a permanência das relações sociais de produção ainda preponderantemente feudais. E por isto eu chamo de capitalismo embrionário.

Diante do agravamento do quadro financeiro, o rei Luis XVI, vai acatar as sugestões de seus ministros de princípio o Sr, Anne Robert Jacques Turgot que foi o economista que fez o elo entre a fisiocracia francesa e a economia clássica britânica, e depois Jacques Necker, um economista que seguiu Turgot e aconselharam o rei na cobrança de impostos dos chamados estamentos isentos, como o clero e a nobreza. E foi exatamente isto que permitiu surgir  a revolta Nobilática, contra o Estado absolutista em 1787 e 1789, e eram uma revolta de caráter reacionária que permite o rei a convocar o Estados Gerais. E neste  momento usando do expediente até hoje usado a burguesia quer participar com 50% do parlamento e logo que isto e posto  pra ela uma vez que os revoltosos eram nobreza e clero. Há negociações cooptações e pate do primeiro e segundo estado vem compor com o Terceiro estado que passa a ter maioria e determina-se em Assembleia Nacional e logo após em Assembléia nacional Constituinte e era a tomada de poder pela burguesia.

E nisto trataremos de fases do processo revolucionário para o entendimento didático. A primeira fase da Revolução foi da assembleia Nacional Constituinte onde organiza-se a Lei Normativa entre 1789 e 1791 onde ainda não havia partidos políticos organizados. A maioria dos deputados eram monarquistas, haviam distinções entre partidários de reformas profundas, moderados e conservadores se faziam pelo lugar ocupado por cada um dos deputados na Assembleia respectivamente esquerda, centro e direita. Numa segunda fase da Revolução, é da Assembléia Legislativa (1791-1792) e a chamada Monarquia constitucional, portanto não havia ainda a República como defendia o teórico Jean Jacques Rousseau. Tínhamos 745 deputados na sua maioria monarquistas e que desejavam um entendimento com o rei. E daí a importância crescente dos girondinos, também chamados de patriotas (centristas) e dos montanheses 1/4 da Assembléia, de tendência esquerdista e formados pelos jacobinos e cordelieres, que era a Sociedade dos Amigos dos Direitos do Homem e do cidadão popular sociedade política. E por isto em 179, os girondinos passam a integrar o ministério do rei. Ou seja o rei parlamentarista portanto já sem o poder absoluto. Numa terceira fase  temos o que vamos chamar de Convenção Nacional de 1792 a 1795 Já é o momento em que temos a República primeiro de 1792 junho de 1793 é a Republica Girondina  e depois dito entre junho de 1793 a julho de 1794 temos a República jacobina que foi caracterizado pela radicalização do processo revolucionário, chamado pelos girondinos como período do terror.  E isto porque representavam a pequena burguesia no poder. e para retirá-lo temos a chamada Reação Termidoriana e essa experiencia mais radical e democrática do período revolucionário foi posta de lado e surge o Diretório. E essa radicalização é devido a organização do Comitê de Salvação Pública formado por nove membros e encarregado do poder executivo e Comitê de Segurança encarregado de descobrir os suspeito de traição da revolução e a Criação do Tribunal Revolucionário e a Elaboração da constituição de 1793. Vale ressaltar que os girondinos mataram mais gente do que os jacobinos, porém o que aparece em livros didáticos é o chamado período de terror jacobino pura manipulação ideológica.

Com o diretório temos a volta da alta burguesia portanto os Girondinos voltam  no poder e anulação das medidas mais radicais e de maior alcance social efeitos da ação jacobinas. E deforma fragmentadas os jacobinos já não chegam mais ao poder. Temos a Conspiração dos Iguais em 1796 de inspiração socialista de François Noel Babeuf contra o diretório, apesar de fracassado o Movimento conseguiu lançar as base da ideia de um regime social igualitário. Com o Diretório tivemos um aumento no custo de vida e uma dependência do exercito, e daí fica a merce do golpe de Napoleão.

Quando Karl Marx em 1848 juntamente com Friedrich Engels elaboram e publicam o Manifesto Comunista abriu caminho para o Socialismo científico, e na base deste pensamento há três correntes ideológicas: a dialética hegeliana, a economia política inglesa e o socialismo na experiência francesa em que ele observa o período jacobino e a base igualitária de Babeuf , juntamente com Buonarroti o italiano que estudou jurisprudência e participou ativamente do Conspiração dos Iguais, sendo ambos representantes do chamado comunismo utópico, precursor do movimento que encontraria a sua definição com o Manifesto de Karl Marx e Engels. E assim passamos a compreender que a ideia de esquerda, direita e de centro surge exatamente com a revolução francesa. E portanto em questão das lutas de classes, vemos a alta burguesia como direita, donas dos meios de produção aquele que explora o trabalho dos proletários  e camponeses, que impõem as suas ideologias, no três poderes constituídos ainda alimentam os pensares nas mídias, nas escolas nas artes e nas culturas de um país e cria o processo de indiferença de exclusão social como algo natural. E a esquerda como o setor que defende a atuação do trabalhador como protagonista de seus ideais, dos seus direitos sociais, como alimentação vestimentas, locais de moradias, de respeito, e nisto incluem salários decentes para que possam ter as suas necessidades básicas atendidas, assim como os serviços públicos disponíveis ao seu dispor.

Mas para entender o que Luis Inácio Lula da Silva fala, assim como Marina da Silva, precisamos ainda compreender o que foi a Teoria social da Igreja. Pois a partir do Século XIX, temos a Igreja Católica Apostólica Romana, que formulou por meio de encíclicas, o que convencionou a chamar o Socialismo Cristão. Expressão inadequada pois a Igreja católica não condenou expressamente o capitalismo, antes procurou sugerir soluções que visavam a uma maior justiça social do que propriamente a uma transformação da realidade. E Nisto temos a Rerum Novarum do papa Leão XIII, que é uma carta aberta que mostra a questão social, critica a situação de miséria dos trabalhadores submetidos ao liberalismo irresponsável e ao capitalismo selvagem de patrões desumanos e que a ganancia deles fazem perder os sentidos dos princípios cristãos. Ao mesmo tempo que a Igreja defende a riqueza como um dom de Deus. E alicerçado em Leão XIII, temos no século XX, que permitiu avançar com a encíclica Pacem in Terra e assumida pelos documentos conciliares especialmente a Gaudium el Spes na Doutrina Social da Igreja , que permite assim a Teologia da Libertação, na figura de um Cristo libertário e trabalhador, nas experiências pastorais sociais e nos núcleos eclesiais de base, preocupados com os excluídos da sociedade. E com isto no Brasil tivemos a necessidade de um Partido Político que surge em plena ditadura civil e militar o Partido dos Trabalhadores o PT, assim como uma Central de Trabalhadores e com isto temos a CUT e o Movimento dos Sem Terras, como disse D. José de Louveira todos filhos da Santa Igreja Católica. Em relação ao partido ganhou outros ares, juntou-se com pessoas com outras experiencias da classe trabalhadora e neste contexto é que vai surgir o Presidente Luis Inácio Lula da Silva membro da Pastoral do Trabalho ou Pastoral Operária e Marina Silva, uma moça que pensava em ser madre, porém não era a sua vocação, porém  ambos no mesmo nicho politico.

A Igreja católica de princípio tinha a ideia de um socialismo espiritualista, que pudesse contrapor os comunistas, bastante critica pela própria Igreja, como ateu, e materialistas. Sem se dar conta de que o materialismo histórico dialético, e pensado a partir das questões materiais que possibilita a vida do ser humano, como alimentação, vestimentas, a moradias ou seja as coisas básica, muito diferente do acúmulos de bens materiais como todos os socialistas criticam.

Quando Luis Inácio Lula da Silva, fala da esquerda na juventude e na velhice no centro é bom lembrar que na revolução francês o centro eram dos monarquistas, quando ele trata de falar sobre a Social Democracia, vale informar que a II Internacional refletiu  numa divisão do movimento em três grupo distintos: Como o grupo Revisionista, de Bernstein que discordava da maior parte das ideias dos marxistas, Grupo Moderado, liderado por Karl Kaustsky que discordava essencialmente dos revisionistas e defendia Karl Marx e Engels e o Grupo de radicais ou marxistas revolucionários e esses são os comunistas liderados por Lênin, Rosa de Luxemburgo que advogava uma renovação dentro do próprio marxismo, mas de caráter revolucionário. E o fim da II Internacional sabemos que está ligado ao confronto imperialista em 1914 em que os países ricos, desenvolvidos, que ousaram em traçar um neo-colonialismo traçados com violências sem iguais envolvendo e contra os povos da África e da Ásia assim como da América, e com isto tivemos a Primeira  Guerra Mundial. Portanto esse grupo de social democrata que tens uma proximidade com o liberalismo é exatamente a Social Democracia que o jornalismo chama de cor de rosa, que estabeleceram o bem estar social ou "walfare states", e tendem neste contexto de século XXI, implementar uma politica neo-liberal e entreguista e dai volta-se contra essa esquerda combativa ou não ou que está em flutuando.

Quando digo flutuando lembro de Marina Silva, que afirma não ser de esquerda, nem de direita e nem tampouco de Centro, portanto flutua e cria um partido de desesperado que não tem rumo, não tem princípios ou seja uma monstruosidade, que não dá pra entender qual droga sintética que esse povo usa. 

Com esses apontamentos teóricos penso que podemos esboçar uma linha de conduta, que vai no sentido de tentar organizar-se teoricamente a compreensão desta convulsão de ideias que traz no processo falas, mídias e todos perdidos, pois enquanto isto a prosperidade burguesa é fundamentada sobre a miséria, no trabalho forçado do povo, forçado não pela lei, mas pela fome, e isto é a verdade.

Hoje Lula está preso pois foi confiar na classe opressora, na sua conciliação foi abandonado e caiu na armadilha de mais um golpe do país, que tens na sua historiografia um doutorado em golpismo e se antes tivemos o golpe da Independência, o golpe da República, o Golpe de Getúlio e da Aliança Liberal, O golpe do Estado Novo, O golpe de 1964, que foi alicerçado com a Operação Brother Sam, Operação Condor e combinado com a Operação Bandeirantes e partes dos que sofreram com isto ainda estão vivos enquanto que há uma grande maioria que morreram, agora todos os trabalhadores foram surpreendidos com o golpe Parlamentar Judiciário que tirou a presidente Dilma Roussef e por consequência prendeu o Luis Inácio Lula da silva em razão de um imóvel desmascarando a Justiça com a ocupação do Triplex do Guarujá, em que alguém solicitou que a policia  fosse a té lá, mas o tal proprietário segundo a justiça está numa prisão em Curitiba, coisas difícil de interpretar a luz de nossos conhecimento científico e social.

Manoel Messias Pereira

professor, cronista, poeta
Membro do Coletivo Minervino de Oliveira
Membro da Academia de Letras do Brasil- ALB
São José do Rio Preto -SP. Brasil



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