Os quinze anos do falecimento do camarada Apolônio de Carvalho
No dia 23 de setembro de 2005, quando teve inicio a primavera, vários camaradas, companheiros e companheiras reuniam-se para dizer Apolônio de Carvalho, presente, Apolônio de Carvalho presente, Apolônio de Carvalho presente agora e sempre. Era a despedida simbólica do camarada que nos seus 93 (noventa e três) anos partia para toda a eternidade. Um grande brasileiro, um grande comunista, também um grande petista, o militar que perdeu a patente do Exercito brasileiro em 1935, por suas convicções politicas, mas que recebeu o título de herói na França na luta contra os fascistas. E a sua história constitui páginas duma beleza infinita e que precisa ser conhecida por todas as gerações.
Apolônio de Carvalho nasceu em Corumbá-MT no dia 9 de fevereiro de 1912, seu pai era um soldado de Sergipe e a sua mãe uma senhora gaúcha. Morando no Mato Grosso, entrou para a escol militar e em 1933 chegou ao oficialato ainda muito jovem, mas tinha uma convicção de que o Brasil e o mundo precisava de uma mudança. E engajado politicamente ajudou a fundar em 1935, a Aliança Nacional Libertadora, porém em pleno governo de Getúlio Vargas, acabou sendo preso e foi destituído de sua patente do Exercito brasileiro assim como expulso.
E em junho de 1937 sai da prisão e ingressa no Partido Comunista Brasileiro-PCB, e via na linha politica do partido os mesmos ideais que orientava a ANL, que tinha no seu contexto a luta contra os monopólios estrangeiros, luta pela reforma agrária, pela autonomia sindical, pelas liberdades sindicais, nas lutas pelas conquistas sociais.
Foi orientado a partir para a Espanha porque naquele momento o franquismo, o fascismo e o nazismo avançava e surgia a Guerra Civil Espanhola. E Apolónio foi combater esse mal totalitário ao lado das forças das Brigadas Internacionais, juntamente com outros brasileiros. E em fevereiro de 1939 deixa a Espanha e parte pa a França onde permanece num campo de refugiado de Gurs, mas em maio 1940 consegue fugir dali e segue para Marselha onde ingressa na Resistência Francesa em 1942, e chegou a Comandante da Guerrilha para a região sul com sede em Lyon.
Em Lyon neste mesmo ano conheceu a jovem Renée France Lougery, de 17 anos também comunista, entre eles floreceu uma paixão um amor casaram-se e ela foi a vida toda a sua eterna compnheira, tiveram dois filhos René Louis e Raul Apolônio, em 1944 mudaram-se para Nime, quando organizaram o ataque a prisão daquela cidade e libertaram 23(vinte e tres) militante da resistência. Em maio mudou-se para Toulosse. Em agosto comanda a liberação de Carmau Abi e Toulose. e por sua coragem e bravira acaba sendo Condecorado com a Legião de Honra Francesa.
Com o fim da Guerra vão para Paris e embarcam para o Rio de Janeiro, e acabam vivendo clandestinamente no Brasil militando entre o Rio e São Paulo. Em 1953 vai para a União Soviética para um curso e somente retorna ao Brasil em 1957 período que passa a viver numa semi clandestinidade. e segue assim até ao golpe civil e Militar quando os Brasil atende aos anseios de Washington, em relação as Operações Bandeirantes, Condor e Brother Sam. E neste contexto Apolônio de Carvalho engaja na luta contra a ditadura. E em relação a isto surge as divergências com os camaradas do Partido, e ele sai do PCB e juntamente com Mario Alves, e Jacob Gorender e outros dissidentes fundam o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário -PCBR. Em janeiro 1970, todos são presos Mario Alves é assassinado pela ditadura. E em fevereiro de 1970 seus filhos Rene e Raul também são presos.
Apolônio de Carvalho em junho de 1970 juntamente com 39 outros presos políticos chegam a Argel, foram trocados pelo embaixador da Alemanha Ocidental Ehrenfried Von Holliben que fora sequestrado numa ação conjunta dos militantes da ALN Ação Libertadora Nacional e a VPR Vanguarda Popular Revolucionária. Seus filhos serão libertados juntamente com outros 69 presos políticos pelo embaixador da Suíça Giovani Bucher. A sua esposa deixa o Brasil e a família reúne-se em Paris. Ficam longe do Brasil até outubro de 1979 depois da Anistia, voltam.
Em fevereiro de 1980 quando o PT surge Apolônio está junto aos seus companheiros na fundação do Partido e de lá fica até 1987, quando começa a sentir que a sua saúde pede mais atenção. Em dezembro de 1997, a Revista Caderno do Terceiro Mundo no "Espaço do Livro" trazia o livro "Vale a Pena sonhar" de Apolonio de Carvalho e um texto de Monica Peres que escrevia na Revista que falava do autor e de sua obra e o título deste artigo era "O voluntario Liberdade".
Para a minha felicidade chegando a sede do Centro de Formação Lucia Galli, deparei com um cartaz, que trazia a foto de Apolônio, obviamente que havia outros nomes e outros cartazes, porém recordei que ele havia sido homenageado pelo PT, porém como sempre tive bem demarcado a origem dos movimentos sociais assim como dos pensares da esquerda e sei que o PT não era e nem nunca oi marxista lenininsta, obviamente que procurei olhar com carinho a sua biografia. E vi nele um lutador pelas convicções de um novo mundo possível, era um entusiasta do movimento sem terra. Eu creio que foi um grande camarada, um grande companheiro como dizem os petistas. Que quando soube que ia chegar a Primavera em 23 de setembro de 2005, partiu deixando em todos a saudade e o grito forte de Apolônio de Carvalho, presente, presente, presente agora e sempre.
Manoel Messias Pereira
professor de história, poeta e cronista
São José do Rio Preto- SP. Brasil
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