crônica - Uma vida para a Educação - Manoel Messias Pereira

 

Uma vida para a Educação

Hoje passei a olhar uma velha revista que por muito tempo acompanhou-me, enquanto regia uma sala de aula. E essa revista fez-me recordar da minha terceira série no antigo primário, isto nos idos de 1966, e exatamente por que para mim o ano de 1965 na escola foi perdido. Foi o ano que experimentei sarampo, catapora, caxumba, que recordo bem como era chato essas doenças que abatia sobre nós enquanto criança.

E foi nesta época que uma professora fez a pergunta o que quer ser quando crescer? E eu respondi de primeira professor. E ela indagou-me porque. A minha resposta foi imediata desejava ser professor para ser melhor do que os meus mestres. Pois bem a revista que estive olhando tem uma matéria assinada por dois professores a Alinne Caetano Batista que é uma especialista em orientação profissional da Faculdade Estácio de Sá e do professor Eduardo Carrusca Vieira, que era mestre de psicologia pela UFMG e era professor da PUC-MG. E essa pergunta vai exatamente tratar da orientação profissional na Escola: com atividade de trabalho para edificar o nosso projeto de vida, assim como os valores a nossa escola e o nosso próprio dever social e histórico.

E disto lembro que Karl Marx que será citado na matéria, afirmou que trabalhar não significa apenas modificar as condições concreta da existência e intervir no mundo, mas transformar o próprio ser que trabalha.

E neste contexto percebi e percebo ainda hoje o ser como parte desta natureza em que você modifica com o trabalho mas também se modifica. Como o artesão que ao tecer a sua arte sobre uma madeira, vai possibilitar transformar um objeto e o seu objetivo e ser também transformado. Em relação a minha condição social, de um ser que tinha apenas uma família com muitas dificuldades econômicas, financeiras e social. Sabendo que o meu pai aventurou-se por aí sumiu e que fiquei com uma mãe, que foi trabalhar em casa de residencial, ou em armazéns de café. Ganhando muito pouco, com três crianças ainda pequena. Com uma casa para morar bem inadequada feita de madeiras e de pedaços de plásticos. A mudança precisaria ser total. E não queria ser objeto de pena de ninguém, mas ser respeitado na minha integralidade de ser humano, pensante, criança, negra, sem calçado, sem roupa. Caminhando em ruas sem calçamento, sem luz. Enquanto criança se não tivesse esse sonho e esse objetivo, seria na verdade uma aberração.

E esses são os motivos que permite a criança assim como eu fiz de escolher uma profissão.  E a educação era o que mais me saltava aos olhos. E a ansiedade que vai recair sobre a escola que frequentava, que estudei, as minhas perspectivas de vida não tem nada a ver com os sonhos da Escola. Que apenas acha que o aluno precisa ir lá ser um robô, ser um religioso bobo, com todos os vícios desta sociedade na qual fui vítima enquanto ser humano.

E por que vítima, porque há um contexto social e econômico tocado por quem governa, e que leva a população a degradação total, vale informar que até a escravidão foi legal, num pais, em que o salário é imensamente uma forma de manter-se irrisório o ser humano, pois o salário mínimo não é para emancipar ninguém da classe operária, mas é apenas para manter o status quos, de simplesmente  eternizar-se como um escravo do sistema.

O que descobri que como ser pensante que não tenho em mãos os meios de produção, mas somente a o força de trabalho, sou um trabalhador. Filho de uma família que pensava apenas fazer outro ser humano para o trabalho e o enriquecimento da sociedade, descobri fruto de uma prole portanto proletariado. e penso que preciso estar organizado para ter a ampliação de meus valores de trabalhadores. Em outras palavras saber qual é o terreno que posso vir a conhecer e transformar- me sobre ele.

Entendi que neste caso como profissional, precisava entender que tenho que sempre ampliar a minha aliança com outros profissionais que não fosse proletários, além dos camponeses, sabendo que há nisto tudo uma dificuldade de compreensão de mundo. 

Sabemos que estamos num país que parece uma salada mista, ou melhor uma salada paulista, como era o nome de um restaurante da boemia que existia em são José do Rio Preto - SP, falo isto pois aqui temos um encontro para celebrar todos os ritmos, todas as cantigas e canções do mundo todas as religiões, todas as línguas, Porém temos o poder nas mãos de quem não deseja essa celebração essa mensagens plural de mundo. E nisto politicamente, culturalmente, há uma forma forçada de todos viver sob o mesmo ensino mal fadado, mal estudado e vergonhosamente exaltado. No poder exalta -se a burrice a estupidez a violência e a canalhice.

Por isto ao escolher ser professor nos meus 9 ou 10 anos de vida, pra ter a possibilidade de estudar para contrapor, para comparar, para estabelecer juízo, a respeito de tudo dos fatos e inclusive desta organização politica que permite todos dizer que a classe politica é de seres desonestos. E quem fala muito isto tem razão porém tem também no seu contexto uma imensa ignorância do ponto de vista da operação de caráter. Pois onde temos a inverdade temos que restabelecer a verdade e contestar e contextualizar.

Com isto penso que podemos entender que ao longo de nossa profissão teremos entre a ressonância, a dissonância, A nossa tarefa complexa de existir e exigir sempre uma mudança capaz de dinamizar uma democracia de fato e de direitos, de respeito humano e de liberdade de expressão que façamos do mundo uma caixa de ressonância entre todos os seres humanos.

E assim que olho a velha revista e sinto-me tocado pela lembranças da escola enquanto menino, criança ativa no meu canto, no meu silêncio na minha observação com todo o respeito mas aprovação e desaprovação. E mais tarde enquanto profissional, no meu discurso, observando as decisões e indecisões, tantos dos gestores quanto do governo, que sempre foi para mim um excesso de decepção. Enquanto isto vou contestando e vivendo. Até enquanto puder respirar.


Manoel Messias Pereira

professor, poeta cronista

São Jose do Rio Preto -SP



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