Crônica - O dia do soldado - Manoel Messias Pereira

 

O dia do soldado

Todo o dia 25 de agosto, na escola lembrava que era o dia do soldado. Em casa minha mãe lembrava o soldado como um santo, como um guia espiritual. Para ela São Jorge, São Sebastião, Sant Joana D'arc e até Luís Alves de Lima e Silva eram todos santos, e iluminados.

Eu dizia que não entendia essas colocações nem que vinha da escola e nem que vinha da família. Primeiro porque o soldado era aquele que tinha que cumprir a função de calar a boca da gente quando reclamava, era ele que manipulava a arma, para sufocar as pessoas com gás lacrimogêneo, era ele que tinha a bala de borracha e que inclusive já atirou em pessoas físicas e desarmadas era ele que atirou em pessoas na periferia e matou.

E lembrava do meu tio Miguel que saiu do trabalho, sentou numa praça e foi abordado de forma truculenta. Miguel tinha um defeito de olhar com um olho meio fechado e outro aberto. Era só um trabalhador duma churrascaria. Além do mais era um músico amador, tocava bateria quando dava. Mas a policia veio e invocou com ele sentado na praça. E ele tentou argumentar que somente sentou no banco da praça pois estava cansado, mas nem por isso deixou de levar uns pescoção até que apareceu o seu patrão e disse deixe o rapaz é meu funcionário que acabou de sair do trabalho. E tudo foi serenado.

Mas a minha argumentação de que o soldado não era tão divino assim não convencia ninguém. E que via é que existia um olhar malvado, principalmente quando sabíamos que éramos negros. A abordagem é muito agressiva, para quem tem a pele escura. É neste sentido a minha mãe argumentava. Polícia não é soldado. Pois o soldado é aquele que vai para a guerra. Que defende a Pátria. 

E neste sentido não aceitei muita explicação. Pois detesto guerra, pois os interesses da classe de quem promove a guerra difere e muito de quem morre na guerra. e quanto policia achei que devia ser uma espécie de guarda-noturno pelo menos ambos usavam fardas.

O guarda noturno trazia o apito na boca, para avisar ou alertar o ladrão que ele não podia entrar nesta ou naquele residência, até que minha mãe disse não é assim filho. E explicou que o guarda noturno existe para espantar o ladrão. E eu imaginei o guarda noturno como espantalho da noite. Com aquele boneco doido que usam nas hortas para espantar os pássaros.

Já a policia existe imaginava para cumprir todas as ordens que vinham do judiciário para prender as pessoas, e geralmente vinha naquele fusquinha preto e branco e aquela sireninha , que parecia de de brinquedinho. Eram um meio soldado brincando de prender gente. Ou que passava nos cinemas para mim uma espécie de Bat-man e Robin. Mas acho que estava errado. Ou outra função que acreditava era de ser músico e tocar nas praça nos domingos. E isto achava lindo. E depois que cresci, fiz parte do Conselho do Patrimônio Histórico que tombou com reconhecimento e mérito a Banda de Musica do Batalhão da Policia como Patrimônio imaterial no Município de São José do Rio Preto -SP.

Quanto os santos soldados, aprendi que esses apenas defendiam o "Cristianismo" e que forma mártir disto. São Jorge da Capadócia, sei lá a sua história só sei que estava dominando um dragão que solta fogo pela boca, brincadeirinha de criança e coisa hoje de vídeo game, uma lenda. Já Sebastião aprendi e li que era o soldado de D. Deocleciano, mas um cristão fervoroso, e Deocleciano ao descobrir isto mandou que matasse-o. Primeiro atiraram as flechas sobre ele, mas ele ficou vivo veio a Luciana que na Igreja Católica é a Santa Luciana recorreu, recolheu tratou dele mas ao invés de fugir ele voltou. E agora Deocleciano ordenou aos seus outros soldados ou capangas que mate e ai deram pedradas nele e não teve dúvida ele morreu. Já Joana Darc assisti o filme que passava a sua história os reis e a Igreja utilizaram a lenda dela falar com os santos, até que serviram para manter a lenda depois quando ela já estava sendo problema deram um jeito de mandar frente a uma guerra, em que ela ia sem armas mas apenas com o poder divino e uma bandeira branca. Ai não teve dúvida, ela foi para o céu mais cedo. Ah! quanto a Duque de Caxias sei que conversei com um jornalista que disse era um sufocador de revolta, mas que na guerra do Paraguai ele recusou a matar crianças, fugiu da guerra e trouxe dois cavalos e por isto há um discurso no Senado brasileiro que disse que ele era ladrão de cavalo. 

Se ele era não sei, não sou desta época falo pelo que ficou escrito, mas é o Patrono do Exército brasileiro, e isto era valorizado na Escola. Embora fosse ensino positivista, franco-luso. E estamos conversado. E quanto a tudo que ensinaram continuo respeitando mas sabendo que entre o joio e o trigo tenho que fazer escolha e isto é o que ensinaram -me no contexto religioso. E essa história é sempre um pensamento que permite-me estabelecer uma crônica diária.

Manoel Messias Pereira

professor, cronista, poeta

São José do Rio Preto- SP.


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