A PUC_SP cobra uma dívida de forma abusiva. Pretendo, com meu caso, mobilizar outras tantas pessoas que estejam na mesma condição, nesse momento de difícil de emprego e geração de renda.
Carta Pública
Ao
Grão-Chanceler Arcebispo Metropolitano de São Paulo, Presidente da Fundação São Paulo, Odilo Pedro Scherer.
Prezado Senhor.
Venho por meio desta expor minha situação e pedir sua intercessão junto a Fundação São Paulo, riquíssima mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, da qual sua eminência é o presidente.
Sou operário da educação, atividade pela qual sobrevivo. Vivo mal nesse momento pelos motivos que o senhor há de saber pela via dos noticiários. Também divido com minha companheira igualmente educadora, a formação dos filhos, com os parcos recursos advindos dessa atividade laboral. Logo, não nos foi possível acumular bens, até ao contrário. Agora, já próximo de atingir a condição sexagenária, não devo me aposentar e ainda vejo no horizonte barreiras enormes que se erguerem além de mim e perigos eminentes em relação aos meus direitos sociais e evidentemente, de milhões de outros brasileiros nessas mesmas condições. E chegamos até aqui com apoio público e explícito das instituições cristãs católicas que o senhor representa em São Paulo.
Mas, dependendo do prisma posso até ser considerado um homem negro “privilegiado”.
Me formei na PUC_SP, onde acumulei grande experiência e sólida formação acadêmica, suponho. Isso, contudo, não é capaz de esconder minha contradição de homem negro pobre, de origem sertaneja, educado justamente numa rica instituição que significou a continuidade das expropriações radicais dos meus ancestres, cuja humanidade foi negada pela Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana. Instituição mundial, sabidamente riquíssima e “incorruptível”, que durante 4 séculos foi parceira de traficantes de pessoas e fundou estrutura basilar da colonização e foi ferramenta fundamental da produção escravista, em forma de plantaion. Mas essa não é uma aula de História do tráfico, da escravidão e do papel da Igreja na formação do Brasil, nem sobre racismo, desigualdade e injustiça. É em verdade uma manifestação pública de agravo.
Presentemente sou alvo de uma ação civil no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que visa apreensão de meu veículo automotor. O qual utilizo em trabalho. Penhora para saldar um dívida avaliada incialmente em R$14.635,77, atualmente calculada em R$ 24.020,04, mas que conforme a empresa advocatícia, contratada para me representar alcançaria aproximadamente R$36.000,00. Veja: “AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL, 1001399-29.2017.8.26.0268. Manifeste-se o exequente, em 05 (cinco) dias, sobre resultado da penhora realizada para transferência dos valores bloqueados (fls. 198/200), bem como se tem interesse nos veículo restrito (fls. 201), ressalto que não persiste mais restrições junto ao seu RENAVAM.”
Até a década de 1990 podíamos recorrer e negociar diretamente com o setor de dívidas na própria PUC-SP. Lá havia um funcionário chamado René que na medida do possível nos orientava para as melhores soluções para cada caso. Contudo, a partir de finais da década de 1990, a universidade contratou empresas privadas de advogados. Estas elaboraram e implementaram tal engenharia de cálculos e cobranças, que tem certamente tem sido muito eficiente no sentido de acumular mais e mais capitais drenados dos mais pobres que recorrem ao ensino privado como alternativa de formação escolar superior. Mas tudo isso, deve ser sido porque a PUC se expandiu bastante, cresceu e multiplicou o alunado, abrindo outros novos campis.
Certamente o senhor deve estar convencido que isso é um mal necessário, tal como foi o argumento utilizado sobre o tráfico e a escravidão dos meus ancestrais. Entretanto, se fossemos pensar em termos das lições de Joshua, quando andou por Alexandria e talvez até o Bilá El Sudan, tudo isso não passa de uma grandiosa injustiça de Roma.
Não todos, mas alguns de nós obtivemos uma condição razoavelmente digna de existência nessa sociedade, apesar dos perigos e medos constantes, da violência avassaladora dos últimos tempos e das poderosas instituições mantenedoras da ordem racial e social mais antiga. Ainda estamos longe de legar uma vitória definitiva contra as iniquidades renovadas, a corrupção sistêmica e o conluio constante entre o estado e a fé cristã.
Diante disso, proponho um ato simbólico. O senhor vem a público justificar as práticas lesivas do seu sistema jurídico-religioso-financeiro e em contrapartida eu entrego meu veículo para a PUC-SP. Após isso uma auditória pública poderá rever todas as injustiças e lesa patrimônio dessa instituição cometidas aos estudantes pobres nos últimos 20 anos, quando foram acoimados por suas dividas já pagas pelas gerações anteriores.
Salloma Salomão Jovino da Silva.
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