Cronica - O capitalismo brasileiro - Manoel Messias Pereira







O Capitalismo Brasileiro

É sempre preciso entender as análises conjunturais de cada tempo. A linha de raciocínio geralmente acompanha o tempo vivido. E o que fica para a posteridade em relação a uma proposta  ou documento imaterial para ser discutido, ampliado, projetado ou materializado necessita estar num contexto humanístico e que vise a paz e o bem estar coletivo.

Uma vez li um artigo em Carlos Drummond de Andrade falava de João Cabral de Melo Neto, ambos dois grandes escritores que compartilharam o mesmo tempo histórico em relação conjuntura sócio - cultural e política no Brasil. Drummond tinha João como seu afilhado de casamento, mas escrevia com toda a desenvoltura que não via concepção poética de João que convergia ideologicamente com a dele. E chegou a dizer que no itinerário literário de João Cabral de Melo Neto via um individualismo, e que o seu afilhado sempre estava a beira da explosão que é tanto mais retido do que preste a se manifestar. E que ele Drummond declarava-se comunista. E o seu guia não era Mallarmé e sim um Manuel Bandeira.

Ou seja estavam no mesmo tempo histórico mais com uma visão de mundo particular e que provavelmente manifestavas -se na sua liberdade literária. Liberdade essa que vai de encontro as estruturas politico ideológica que se faz presente nos municípios nos estados e no País. Ou seja uma estrutura democrática e federalista. E tuas obras provavelmente colaboraram para uma análise conjuntural pluralística, embora no Brasil há uma mania de ter um olhar colado numa representação classista em termos de elite.

Embora essa forma de pensar e nós somos livres pra pensar, até porque somos seres pensantes, filosóficos e livres, principalmente em pensamentos. Porém podemos encontrar em 1991, um texto publicado num jornal de São Paulo escrito pelo articulista Nelson Ascher no dia 16/05/1991, em que ele escreve que a Literatura burguesa e proletária já não fazia nenhum sentido, pois pra ele a a arte não tem um caráter de classe. O que vou discordar e muito.

No mesmo texto do jornal intitulado "roda pé", ele chega a afirmar que o marxismo estava em crise e o socialismo se admite existe(sorex), ou seja que eu entendi que há dor nesta existência. E conclui que o socialismo tem sido enterrado menos numa ilhota  paleolítica, e conclui que ninguém que tens um QI acima de um liquidificador quebrado sonho com um processo revolucionário. E ainda acrescenta que o termo leninista pegava mal em qualquer jantar em Lenigrado. E num outro artigo no mesmo jornal no dia 27/07/1991, ele disse que a crítica marxista somente causou danos as analise literárias e que Marx precisa aprender muito com as críticas literárias e não tem nada pra ensinar. Mas fala que temos hoje fala em cultura popular que pra ele está enterrada que é uma cultura fechada etno antropológica,  e fala da cultura da elite que forma no correr da história um sistema próprio que inclui a sua auto preservação que continua com a elite, que é parte da sociedade industrial, com a sua correspondência das altas civilizações antigas, ocidentais e orientais. E com a cultura de massa que ele afirma pertencer a um fenômeno novo , que não ressuscita a cultura popular e vem via industrialização.

Esse fragmento do seus texto mostra muito bem como ele estava envolvido nas mudanças do Leste Europeu, no processo em que Mikhail Gorbachev andava trabalhando a sua Glasnost e Perestróika, afastando dos socialistas ortodoxos da ex União Soviética. E foi neste momento que vários críticos inclusive do mundo capitalista tecem comentários alicerçados numa mídia, de olhar capitalista algumas vezes conservadoras outras vezes não neo liberais.E estabeleceram que o marxismo teria fracassado.

E no Brasil, vimos um processo que um grupo de dentro do Partido Comunista Brasileiro saem, faz um Congresso espúrio, na qual pessoas de fora do partido pode participar, e esse processo foi liderado por seu Roberto Freire, que foi o Ministro da cultura de Michel Temer e que na época criou o Partido Popular Socialista, que não é nada socialista, mas que de certa forma já mudou de nome atualmente para Cidadania. Um nome qualquer para uma agremiação partidária de exploradores para os explorados, sem nenhum respeito que valha a pena comentar. E tem uma ideologicamente uma tendência  Social Democrata Revisionista, negando inclusive a Teoria marxista e não propondo a revolução. E casa com o neoliberalismo privativista, em outras palavras entreguista dos bens ativos do país, sem prestar contas a nação.

E para entender esse processo construído no processo da Segunda Internacional Socialista, que inicialmente vai ser incentivado por Friedrich Engels por ocasião  do Congresso Internacional de Paris de 14/07/1889 na época com delegados de vinte e três países e que de princípio foi baseado assim como na Primeira Internacional na luta de Classe. Depois de Paris muda-se para New York e Londres, e em que vai haver a redivisão do pensamento Social Democrata em revisionista, baseado nas experiências de Eduard Bernstein, outros em  conservadores em Marx, como pensava Karl Kausty e os Revolucionário que foram orientados por Valdimir I. Lênin, Rosa de Luxemburgo e  Willhelm Liebknecht , August Bebel, observamos ser estes  hoje os comunistas. E vale informar que os revisionistas tiveram uma aproximação grande com os neo - liberais.

Quando o autor fala da ilhota  até com um certo desprezo intelectual na sua análise, vejo que ele não foi conversar com os cubanos, que ainda hoje  orgulha de sua medicina que hoje faz benefício no mundo todo, e tens um processo educacional elogiado mundialmente e superior a do Brasil. E talvez até com um valor gasto menor do que os nossos gestores são capazes de realizar no seu trabalho.

 E  nós brasileiros estamos sim no capitalismo, com todas as nossas deficiências de serviços públicos, com todo o desrespeitos possíveis, com toda a violência estampada, com uma corrupção avassaladora, um grande comercio de drogas e de armas, com envolvimentos de parlamentares, de juízes,  com ministros, presidentes todos com processo de corrupção, e o jornalismo tacanho não consegue ter um olhar conjuntural e que este processo é sim prejudicial a uma série de pessoas da classe trabalhadora. E nisto temos que entender como ausência do Estado ou em outra análise  o descumprimento do seu papel regulador da sociedade. Observando bem é  isto é um desleixo social, gravíssimo e que a literatura precisa ter a coragem a competência o respeito a esse povo e escrever sim. E a ideia de esquerda e direita está no contexto sim. Negar que somos um país em que há uma vultuosa soma de valores sendo até escondidas em apartamentos como se encontrou malas de Gedel Vieira,  ou como o dinheiro de Paulo Preto, no exterior e que deveria ter sido já analisado por um judiciário um Ministério Público que deveria deixar de ser  meia boca, deixar de ser partidarizado ou omisso na sua tarefa constitucional, pois há uma série de evidencias em relação ao PSDB, e todos fazem -se de mortos, que não consegue julgar e convive cotidianamente como parceiro de  crimes, em rede social onde parlamentar ligado ao crime sai de sorriso com  juíz.  Dá licença isto é um escândalo de primeira monta e somente o jornalista é que fecha os olhos pra essa  esculhambação, e fica procurando pelo em ovos no galinheiro alheio parece que também não tem mais o compromisso social de comunicar os fatos dentro de suas evidencias.

E a ideia de cultura da elite assim como da cultura de massa, ou cultura popular, o que ele disse é pura ilação. Pois a Cultura popular que ele disse está enterrada está viva. É a cultura regional, de uma sociedade , de uma região, através de uma manifestação, como na dança, no teatro, na gastronomia, na música, no folclore. Cultua vem do latim ou aquilo que precisa cultuar e que é passada de geração em geração. No interior do estado de São Paulo vejo congada, moçambique, catira, Festa de Reis, Vaquejada, roda de viola, encontro de curimbas (cantos africanos dos terreiros) E essa cultura também pode ser chamada de cultura de massa ou de cultura tradicional. E o que vejo é a busca do mercado tentando entrar neste espaço e inclusive nas  festas de peões, que era algo originário brasileiro, temos  já a cultura americana estado unidense, com ritmo, produtos vendidos, o pega do garrote que era praticado somente nos Estado Unidos. Coisas que vai aos poucos retirando ou estabelecendo um outro lugar para o Cururu, o pagode cateretê, o catira, a moda de viola, o bate -pe´, a chula. As festas religiosas, que fogem aos padrões das Igrejas. E assim por diante. E neste contexto hoje temos os Coletivos culturais que inclusive promovem uma abordagem popular porém com toques eruditos e educacionais.

Já cultura de massa como ele fala veio sim da chamada indústria cultural, e constitui de todos os tipos de expressões culturais para atingir a maioria da população, na lógica do capital financeiro ela busca padronizar e homogeneizar os produtos para serem consumidos. Seja com músicas, filmes, série de Tvs, revistas, jornais quadrinhos e tens os meios de comunicação como principal aliados, jornais, revistas, rádios televisão e internet. Já a cultura da Elite é a cultura representada pela elite.

É neste aspecto que reafirmo a necessidade do entendimento das análises conjunturais. E a linha de raciocínio tem de acompanhar os tempos vividos, os pensamentos , as relações sociais políticas muito além dos marcos estabelecidos de onde tramam o jogo do poder. Pois política se faz com seres humanos dotados de inteligências e vontade de libertar desta angustia. Hoje há inclusive partidos que não estão no poder, que não faz parte do parlamento, mas eles continuam atuando na vida politica cotidianamente. Um jornalismo que não consegue ser dinâmico e acompanhar isto, escreve faz relato mas falta com a verdade ou omite acontecimentos.

Quando Carlos Drummond comenta que ele é o comunista e diz que o seu afilhado João Cabral de Mello Neto  é um individualista, obviamente que temos duas linhas de pensamentos ideológico, vivendo o mesmo contexto, e temos sim opiniões em suas obras literárias que privilegia este ou aquele entendimento, que reflete este ou aquele profissional, seja ele o patronato ou seja ele o trabalhador. E quando ele disse que o guia dele não é Mallarmé mas Manuel Bandeira, isto significa que ele tens os olhos voltados para o Brasil, num olhar regional.

Não entender que isto é algo construído por uma necessidade social, educacional, e cultural, parece mais uma birra do que  um jeito de fazer jornalismo, que não quer enxergar a vida. E acha que o  trabalhador precisa ser vaca de presépio que apenas diz amém. Parece que há uma perfeita harmonia na vida na sociedade como a frase estampada ditatorialmente na Bandeira Nacional de forma imperativa e que o conflito de classe não existe. Sendo essa uma imensa mentira. Por isto o trecho de Nelson Ascher, me fez entender que ele apenas estava em 1991, olhando a vida como se ela estivesse num contexto de  Guerra fria de 1948. Tentando isolar com seu cordão sanitários os pensadores e os governos socialistas. E nisto vejo que a análise feita não contemplou a minha realidade, que na mesma oportunidade vi que havia sim um golpe em curso nos ideais socialistas do mundo. E além disto somos um país capitalista, em que mantemos nas tardes todos os dia atração de televisão com programas de crimes, assaltos, assassinatos e o Estado inoperante que necessita com urgência  uma tomada de medida social, com respeito a todos os brasileiros, mas apenas aplaude, de maneira melancólica.

Manoel Messias Pereira

professor, cronista e poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto-SP. Brasil




Comentários