A Revolta da Chibata
A data de 24 de junho sempre traz a mente dos brasileiros o ano de 1888, quando nasceu em Encruzilhada, João Candido Felisberto, também conhecido como o Almirante negro e que na sua vida de marinheiro brasileiro foi o principal líder de uma revolta histórica conhecida como a Revolta da Chibata. E não há como falar sobre a sua vida sem no entanto reportar a esse episódio histórico.
O fato que recorremos na história do Brasil, está alicerçado num contexto de violência contra trabalhadores e neste caso usando -se de um expediente utilizado durante o processo de escravatura no Brasil, que foi a surra no escravizado. Mas é preciso entender que em 1910 o Brasil estava numa República oligárquica em que a ideia de um sonho de democracia era algo forjado pelos coronéis que contratavam as máquinas eleitorais, e aqui venceu as eleições neste ano Hermes da Fonseca com apoio de Nilo Peçanha.
E neste período diziam que a Marinha brasileira havia passado por uma reforma modernizante, mas pelo vista ainda guardou e preservou como um patrimônio de indecências e falta de pudor o vício antigo do tratamento pessoal. Alicerçando uma infinita distância em quem era oficial e quem era os subalternos, óbvio atendendo a hierarquia existente no contexto militar, mas que retratava assim o elitismo.
E o interessante era que a grande massa dos marinheiros provinham das famílias pobres ou de afrodescendentes, o que intitulamos camadas populares. Que pela elite era adjetivadas como escória. e alguns eram recrutados a força e segundo os historiadores do Brasil, traziam para o contexto desajustes, filhos com problemas, e até criminosos. Furto da desgraça implementada pelo sistema capitalista colonial, monárquico e que continuou após essa republica de golpistas brasileiros, que protagonizaram a história na chamada república velha dos Estados Unidos do Brasil.
Aos negros, ou pretos e aos multos ou morenos portanto afrodescendentes eram proibidos e estudo na Escola naval, e isto estou detalhando para mostrar como o preconceito e a discriminação que são sintomas do racismo estavam por aqui bem plantado. E aos brasileiros independentes de sua origem ficavam reservados esses tais castigos corporais em razão da falta disciplinares cometidas.
O castigo da chibata era realizado com uma corda de linho e ultrapassada por agulhas de aço. e era a força mais usual de castigos. E o exemplo era dado era dado em frente aos demais marinheiro e sob o rufar de tambores. E isto mostra que era um forma de humilhação e degradação da alto estima daquele castigado. Porém quem assistia também se sentia castigado e castrado em suas atitudes.
Mas essa moda de castigo corporal foi sem duvida a desencadeadora de uma atitude como de João Candido Felisberto que já estava cansado, de maus tratos, do trabalho árduo, de salários baixos salários, da concessões das baixas e que dependia da vontade do oficialato, e das péssimas alimentações servidas.
E depois de presenciarem a aplicação do açoite no marinheiro Marcelino Rodrigues que havia sido condenado a 250 chibatas, os marinheiros do encouraçado de Minas Gerais sob a liderança de Joao Candido Felisberto, sublevaram e mataram alguns oficiais e aqueles marinheiros puxa saco como sempre tens no caso de opressão e que reagiram ao movimento.
Depois de algumas escaramuças com alguns oficiais que resolveram contra-atacar, e esperar do governo a anistia desejada, Jõao Candido comandando o encouraçado de Minas Gerais de São Paulo e outros navios que mantinham os canhões voltados para o Rio de Janeiro, enviou ao governo um ultimato exigindo o fim da chibatada e de outros castigos corporais, e melhoria do soldo para quem não sabe o salario, e uma menor hora de trabalho. Caso contrário a cidade seria bombardeada.
Impossibilitados de reprimir o movimento, dada a habilidade com que os insurretos manobravam as naves, e sob ameaça de bombardeio, o governo e o parlamento resolveram atender as reivindicações dos rebeldes e lhe conceder anistia.
Porém sabemos que a "Anistia" não foi cumprida. Os marinheiros depuseram as armas, mas continuaram a serem hostilizados pelas autoridades que esperavam uma oportunidade de continuar o castigo como escreve o historiador Francisco de Assis, precisava "castigar aqueles que dá cozinha rebelaram contra a sala de estar".
E finalmente os marinheiros hostilizados iniciaram um rebelião na Ilha das Cobras. E sem complacência das autoridades. Ao motim seguiram a destruição da Ilha das Cobras, o estado de sítio e a morte de centenas de marinheiros, centenas de prisões, inclusive a de João Candido Felisberto e o degredo para Amazonas de vários implicados. E depois de um longo tempo preso em masmorra João Candido foi absolvido em 1912, e isto ainda no governo de Hermes da Fonseca. E esse herói tornou-se símbolo da classe trabalhadora. E que veio a falecer aos 89 anos em 6 de dezembro de 1969.
E não há como citar a sua história sem no entanto retratar a Revolta da Chibata, e demonstrar como sempre foi asquerosa e repugnante a elite brasileira no trato como as classes populares. E por ora um abraço.
Manoel Messias Pereira
professor de história e poeta brasileiro
Membro do Coletivo Minervino de Oliveira de São José do Rio Preto
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB-São José do Rio Preto e Uberaba-MG.
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