Artigo - O dia 11 de junho na memória dos afrodescendentes rio-pretenses - Manoel Messias Pereira



O dia 11 junho na memória dos  afrodescendentes rio-pretenses

A data de 11 de junho para a história do Movimento negro de São José do Rio Preto-SP, é uma data de lembranças, pois rememora o falecimento de duas grandes figuras históricas e sociais deste movimento, em São José do Rio Preto. Que foi o falecimento de Aristides dos Santos em 2013e José Afonso Imbá em 2015. Duas grande personalidades e eu que convivi com ambos possa falar destas relações sociais., que envolve de minha  amizade, respeito, lealdade e princípios e valores éticos. E que é fundamental para a historiografia do município.
José Anfonso Imbá, escritor, poeta, autor de Zeca da sabina, pianista, bombeiro, declamador de poesias, ativista do Movimento Negro, criador do Grupo Dindara
falecido em 11 de junho de 2015
Sr. Aristides dos Santos, engraxate, ativista pelos direitos do negro, autor de Flores do Mesmo Jardim, e Retrato de uma raça com a professora Doutora em antropologia  Niminon Suzel Pinheiro

Essas amizades comecei a ter ainda na minha juventude. O Sr. Aristides eu conheci na loja em que trabalhava em São José do Rio Preto - SP, quando o Sr. Angelo Cal que na época era meu patrão apresentou-me, isto por volta de 1976. E eu disse a ele que já conhecia os Sr. Aristides, pelo menos de vista. Pois ele estava sempre envolvido em artes, esportes  foi cantor de orquestra por um bom tempo, foi ator amador do Grupo Teatral rio-pretense do professor  Nelson de Castro, sabia que era um engraxate e teve uma engraxataria bem no centro de São José do Rio Preto. E sabia que ele estava envolvido no movimento negro da cidade. Inicialmente  conversamos amigavelmente, e foi somente essa o primeiro contato, depois passei a encontra-lo sempre frente ao Clube Sírio Brasileiro de São José do Rio Preto na Rua Voluntario de São Paulo e cumprimentávamos.

Já o contato inicial com José Afonso Imbá, foi na casa de Cultura em agosto de 1979, quando pelo jornal Folha de Rio Preto, um estudante com o nome de João Aparecido Cruz, propunha a formação de um grupo de estudos sobre a cultura afro. E neste contexto eu lá compareci juntamente com outros membros da comunidade negra. Mas também surgiu algumas pessoas que não era do movimento, mas era do movimento cultural da cidade, Como o traço cultural rio-pretense que nunca mais ouvi falar, ou seja em outras palavras virou um sorvete derreteu-se. E desta reunião surgiu uma matéria neste mesmo jornal, que tinha mais crítica aos negros e as suas organizações do que praticamente um olhar de respeitabilidade as questões do negro.

Provavelmente muita coisa rolou, ocorreu, desenvolveu, antes desta reunião sobre o movimento afro-brasileiro no município de São José do Rio Preto - SP, pois por aqui o Movimento teve inicio com a União Faz a Força, que reunia-se onde era a Panela de Pressão, salão que havia no bairro Anchieta, que era uma Sociedade dos homens de cor como chamavam os negros e foi fundada em 6 de outubro de 1923 conforme está registrado no álbum ilustrado da Comarca de São José do Rio Preto - SP, página 609. E o que fiquei  sabendo era que esse ambiente era uma forma de unir esses negros, pretos ou afro descendentes para o lazer dançar e também congratular-se com outros negros de outras cidades e região.

E a história de Aristides dos Santos também está neste contexto pois no período da sua juventude ele aqui formou o time da Ponte Preta, e depois do Corinthians que era uma equipe da várzea mais que estava sempre jogando em campeonatos. Outro motivo interessante é que em são Jose do Rio Preto, tinha a rainha da Comunidade e neste contexto recordo que Aristides  trouxe o presidente do Corinthians num dos bailes da cidade. Outros momento o Sr. Aristides estava sempre as voltas com os sambas e as escolas de samba e com isto ele teve até uma leve discussão com parlamentares rio-pretense em relação as escolas. Pois em período que não recordo mas que ele falava, a Escolas de Samba passaram a apresentar em Catanduva, pois aqui não tinham verbas. E a imprensa ou parte dela convidou-o para mudar-se de cidade.
O tenente coronel José Afonso Imbá conheci ele ainda como sargento da Policia Militar, no bombeiro. E recordo, que ele estava na reunião de agosto de 1979. E conforme as críticas que recebemos resolvemos conhecer outros grupos, e começar a organizar o movimento negro uma vez que não víamos a presença de negros nem na imprensa, nem na politica, nem nas universidade e somente na Escola de Samba. Com isto passamos a organizar as nossas reuniões num grupo pequeno na casa de João Aparecido Cruz, no Jardim Urano. E nestas reuniões reuníamos, eu Manoel Messias Pereira, João Aparecido Cruz, Paulo Cesar de Oliveira, José Afonso Imbá,  José Luckas Chandobeck, João Roberto Mendes e  Ligia que tornou a sua esposa. E assim pensamos na criação de uma associação. E criamos a Fusocaab -Fundação Sócio Cultural e Assistencial Afro Brasileira. E depois vieram o José Eduardo Pereira, o José Antônio dos Santos, Odair de Oliveira, a Cleide a Graça e outros importantes colaboradores que ajudaram na construção do movimento negro de São José do Rio Preto-SP

De principio buscamos apoio num revista chamada Ébano, e não fomos felizes, pois vendemos vários números, e a editora deixou de atender quem assinou-a. E todo reclamaram. Na comunidade, mais todos sabíamos que havíamos caído numa cilada. E depois disto em fevereiro de 1981 registramos a entidade pois foi quando o João aparecido que escolhemos como presidente completou a sua maioridade. Fizemos a !a. Semana Afro em Fevereiro de 1981, com desfile na boate  Etc, vídeo na Casa de Cultura, Audição de piano e poesia, e um baile, e uma roda de Samba feita no bairro redentora, uma exposição de Artes plásticas, com o Florêncio, com Daniel Firmino, o Fernando e participou ainda o Mauricio Gomes e Miguelavo que é um artista do Ceará radicado no município de São José do Rio Preto. E no mês de maio de 1981 organização a Noite Real do Samba, com a presença do Marron como era conhecido o Arciel,  que deixou o samba e hoje toca apenas em Igreja e nos projetos sociais como professor de Música. Mas na época chamamos o Ditinho da Vila que não deu crédito ao movimento. Em julho de 1981 trouxemos o grupo nigeriano Ogbang de Lagos da Universidade da Nigéria.Participamos em novembro do Feconezu em Campinas, com uma delegação de rio-pretense.

 E em 1982 organizamos outra semana intitulada Semab, com a presença da cantora Rosa Maria, com um exposição de artes de Daniel Firmino e de Florêncio Pereira Duarte, Fernando que era um pintor que o irmão dele trabalhava no cinema do Curt mas especificamente no Cine Meridien. Trouxemos um grupo de danças e que não foi o que esperávamos. E uma apresentação do Guen, o nigerino que fez uma apresentação no Teatro Municipal , mas também apresentou no Rio Preto Automóvel Club, E compareceu num baile do Sexteto Brasileiro, que tinha o Vavá, o Vadeco, o Baltazar, o Nestor na bateria, o trompetista Vendramini que trabalhou muito tempo com o Chitaozinho e Xororó e havia um outro músico que agora não recordo-me mas que tocava sax alto. Criamos um time de futebol de basquete e de vôlei. E o professor Imbá corria organizando tudo buscando os atletas com o seu próprio carro e mostrando-se todo um processo de construção de identidade cultural afro.
  
Além disto fomos até Brasília e conhecemos pessoa como sr. Deputado Carlos dos Santos -PMDB, o Deputado Alceu Colares -PDT, que mais tarde transformou-se em governador do Rio Grande do Sul e visitamos varias embaixadas, Nigéria, Senegal, antigo Zaire, Costa do Marfim trouxemos filmes  da Costa do Marfim foram dois filmes, trouxemos muitos livros e revistas que desapareceram dentro da nossos prédios públicos, Os filmes exibimos  no Centro Cultural professor Daud Jorge Simão. E a nossa intenção era fortalecer as escolas trazer a ideia de que todas as escolas precisaria ser bilíngues, com pelo menos o aluno no ensino médio saindo falando e escrevendo quatro línguas inclusive o yorubá. Era estabelecer que todas as escolas tivessem capoeira no currículo. E a história da cultura afro-brasileira assim como a história da África, e tudo isto era um desafio. E que houvesse intercâmbios culturais. Esse sonho nós ainda não chegamos a ver, outros parcialmente estamos bem.

Nos dia em que o Sr. Aristides morreu eu estive lá pela manhã porém tinha um compromisso na escola e segui. O livro Aristides Retalho de uma raça já estava pronto. E foi lançado após a sua morte no mês de julho. Quando do falecimento do Imbá, também estava viajando pois lecionava fora. Mas juntos com os amigos a família no Museu Naif Jose Antônio da Silva, organizamos juntamente com o professor Romildo Santana uma noite de poesia. E lembranças.

Portanto a história de São José do Rio Preto, o dia 11 de junho marca esses dois episódios de dor, em 2013 e 2015. Dois negros, dois autores, dois escritores, em que os ideais floresceram e deixaram marcas para toda a eternidade e como escreveu um dia o poeta e filósofo Ralph Waldo Emerson "Somente os que constroem sobre as ideias é que constroem para a eternidade".

Manoel Messias Pereira

professor de história
Membro do coletivo Minervino de Oliveira de São José do Rio Preto-SP



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