Cronica - São José do Rio Preto na arte da memória - Manoel Messias Pereira


São José do Rio Preto-SP na arte da memória

Eu sempre tive o prazer de caminhar como se meus pés estivesse procurando sentir seguros da base em que todas as coisas estão assentadas. Como os edifícios, as ruas pavimentadas, os calçamentos, os muros e grades das casas, as arquiteturas do lugar. E por aqui observei que as coisas mudam rapidamente. E onde havia uma casa um casarão ou um casebre agora é outra coisa a um certo dinamismo em termos de construções. E isto alimenta a saudade que podemos rever nas antigas fotos e o que guardamos na memória. Aqui eu não tenho a possibilidade de ficar admirando um prédio do século XIX, com os  detalhes arquitetônicos da época imperial ou que tivesse um olhar futurista indicando uma tendência republicana ou coisa assim. Portanto estou numa cidade que tens ares de uma contemporaneidade, como se não tivesse passado.

Quando temos uma cidade, que desconhece a sua origem como berço de uma cultura preservada, temos o culto a uma imensa mudança, rápida. Parece que a saudade não quer ter tempo de fazer ninguém chorar. Porém o choro é parte de um sentimento de amor de pertencimento.

E como poeta que sou, olho as ruas, as casas, as pessoas, com seus sorrisos, com seus gestos de cumprimentos, entendendo um ritual de vida. E tentando identificar seus opacos sentimentos que estão escondidos, camuflados, na rigidez, na forma clássica de pensar o viver.  Ou seja social, politica econômica e culturalmente.

A cidade de São José do Rio Preto - SP nasceu segundo consta em 1852, com a construção da residência de João Bernardino de Seixas Ribeiro. Num local central da cidade onde está instalado o Moto-taxi União, ali até havia uma placa na minha juventude indicando que era um local histórico a placa foi para um lugar incerto. Se perguntar para alguém o ponto onde foi feita essa primeira casa do fundador ninguém vai saber essa cidade tens mania de apagar suas memorias.

E quando penso em memória, geralmente reporto-me aos grandes mestres da literatura do mundo e recordo uma frase do poeta Joseph Freiherr Von Eichendorff(1788 a 1857) o polonês que escreveu "Há uma canção adormecida em todas as coisas que sonham infinitamente e o mundo começará a cantar-se encontraremos a chave." É nisto me faz lembrar a música. Existe a música com a sua sonoridade e existe a música como as notas em branco com os seus silêncios. E geralmente é no silencio que as vezes choramos. Tristes ou calados em nós mesmos.

Em relação a essa música sonora lembro que  o José Cunha ou melhor o Mestre Boca, aquele que constroem instrumentos de percussão e toca como ninguém. Que na suas lembranças um dia comentou e deixou isto registrado numa página social em que as tardes e as noites apresentava na Praça Rui Barbosa o Renato Peres e Orquestra. Mas eu também recordo que eu estive juntamente com o Duilio Divino, que tinha conjunto e apreciamos o Mestre Boca a tocar o seu pandeiro. Portanto ali eu também guardo essa saudade na memória. E como é bom lembrar.

O Conselho do Patrimônio do Município de São José do Rio Preto o "Condephaact", tem no seu tombamento a Banda da Policia Militar, que na minha infância tocava e encantava na Praça Pública. E era inclusive para quem não tivesse as condições de comparecer ficávamos em casa ouvindo pela Radio Piratininga. Essa sonoridade que pensamos as vezes continua no nosso silencio. Quando falamos passa a compor as vozes de um grande coral, que não pode ser ouvido sem a batuta do maestro. E eis a ai a chave da expressão de um munícipe, a sua palavra. A sua santa expressão por meio da voz.

Não tem as vezes importância que apagamos os rastros de memória como um cultura á previamente estabelecida nesta cidade "art -déco," ou seja de um estilo que teve início na Europa em 1910. Portanto do século XX, ou seja essa cidade tem o brilho da contemporaneidade. E neste contexto permite-me refletir sobre a frase do pintor e poeta Pablo Picasso (1181-1973), que diz "A arte começa onde o realismo termina". E isto permite-me entender que a arte é a interpretação deste realismo e não é uma outra coisa. E a interpretação é o revestimento artístico que existe na realidade.

E assim vejo que Michel Ribon no seu livro "A arte e a natureza" disse que "a beleza que o artista pode extrair não se oferece na serenidade de um contemplação desinteressada" Ou seja o olhar do artista é a partir de um sentimento e de uma intenção e essa está classificada somente para divertir,  na reflexão, no questionamento, na estética na ternura de ser arte transformadora e que muitas vezes ultrapassa a compreensão do status-quos de um época ou de um tendência de mundo, até mesmo humana. E segue para uma explicação metafísica.

Eichendorff, já refletindo a sua velhice disse "os filhos leva-nos a vida. Os amores? E também na velhice, a serenidade surge como um regresso à harmonia feliz da infância"  É sempre temos como assentada na nossa vida adulta as experiências gravadas da infância. E desde desta fase da minha vida tenho esse olhar apurado, sobre as casas, as ruas, os portões, os recapeamentos, as pessoas, om seus gestos, sua forma de falar seus sotaques, suas elegâncias e seus modos de vida.

Manoel Messias Pereira

cronista
São José do Rio Preto-SP-Brasil
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
correspondente Uberaba-MG.


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