ilustra esse trabalho literário a foto de Miguel Gustavo Lucena de Souza, morto pela policia em São José dos Campos
Minha Infância nua e crua
Temos sempre um pensamento que devemos acolher o próximo, na vida, se precisar chorar juntos se precisar sorrir juntos, como se tudo fosse uma linda canção de amor. O período de nossa existência é o período de expiação de nosso criador. Em que devemos acolher e respeitar o nosso próximo como a nós mesmo e ter sempre a certeza de manter os olhos no horizonte em busca de algo muito além dos sonhos e das pessoas que vivem ao nosso redor. E esse horizonte se não for concreto seja pelo menos uma prece ao cair da tarde se possível. Era assim que a minha mãe ensinava-me. Com um olhar religioso, com uma dedicação a certos princípios e tocava a vida,mesmo que ela não tivesse o mar de rosas e que o rosa fosse apenas o por do sol.
Eu poderia ter outro destino, pois sendo negro poderia sofrer muito mais assim como senti toda a exclusão, discriminação e racismo. E neste trabalho coloquei a foto de um menino negro como eu que foi alvejado por um policial militar do Estado de São Paulo, pelo motivo talvez de ser negro. E trata na foto do garoto Miguel Gustavo Lucena de Souza. Que encontrei nas estatística de dor que sofre as crianças negras no Brasil.
Recordo que sempre fui o primeiro a levantar em casa, quando era criança ficava sentado na escada do quarto e via ela ir correndo acender o fogo a lenha e colocar o café para fazer. Eu ficava observando. e quando o café estava pronto ela retirava o pão do forno que fazíamos em casa e servia-me e deixava com inúmeras recomendações, como tenho que ir trabalhar, mas cuide de sua irmã se ela chorar põe ela no carrinho acerta com mantas e travesseiro e caminhe no terreiro. E logo era o meu pai que tomava o café e ia embora também.
E eu ficava interessado em saber como era que a mesa tinha certos contornos que era feitos do trabalho artesanal da fabrica mas eu falei como alguém consegue fazer isto e eu não. Então peguei uma faca e cortei toda a quina da mesa. Logo amenina acordou eu fiz exatamente o que ela mandou peguei a minha irmã e caminhava no terreiro. E a minha irmã chorava demais e eu ia brincando e falando uma frase desconexa que ela não entendia nada mas ria eu dizia "llalalabal iaiai lalabaalaabala iaiaia" e ela caia na risada. Até que dormia e eu voltava para dentro da casa passava a vassoura naquele piso de tijolo.Coisa que não existe mais morava num casarão imenso que parecia abandonado, mas essa casa de uma tia e os tijolos eram grande de um barro amarelo, nunca mais vi. Inventava brincadeiras que somente eu sabia oque era, uma bolinha de borracha pra derrubar uns preguinhos que fazia passava o tempo.
Eu era uma criança que ficava sozinha em tempos diferente de hoje, morava num chácara, que tinha o casarão uma porteira e dos outros lados moravam meus tios, uma família que falava-se poucos mas tudo bem, não precisava ficar conversando com eles e tinha uma madrinha, chamada Lazinha, que dizia que ela e o marido dela o senhor Jesuíno disse que tinha crismado-me acreditei. E assim tomava bença e quando eu não sabia fazer alguma coisa em casa chamava ela. Ela era legal só que falava demais. E tinha um grande cachorro que chamava Lord. De vez enquanto eu pensava que ela também poderia ser minha mãe, mas não eu era negro e ela era branca, magra e falava como uma maritaca, barulhenta como a matraca das almas. Deixa quieto.
Ela falava as vezes que eu queria eu dizia faz uma gemada e coloca farinha e mandioca. Ela ria e dizia nunca vi isso. E eu respondia é assim que gosto.
Minha mãe não tardava a chegar, vinha cheia de carinho, pois ia fazer limpeza nas casas das putas ricas, e trazia o dinheiro para casa e também comprava as vezes um docinho. Meu pai já não chegava de fogo todos os dias e traziam doces de bombocados, ou paçoca, doce de leite. Eu gostava só ficava triste pois ele caia na escada e as vezes dormia ali, e tentava puxar para dentro mas que nada o negro era grande e eu apenas um menino de cinco anos. Achava um negrão meio folgado , meio safadão, mais era o meu pai estava tudo certo.
Minha mãe pelo excesso de amores de meu pai as vezes chorava, pela bebedeira também pelas brigas que ele fazia em todos os lugares também. Ele fiquei sabendo que andava com um tal de nona Paula, não recordo o rosto dela, fiz questão de apagar. Lembro que tinha uma perna grossa ai isto tinha.
Se a minha mãe chorava eu também chorava junto, se minha mãe rezava eu também rezava junto, se ela cantava eu também cantava junto. Ela a noite ficava sentada num banco na beira da casa cantando para as estrelas para os vaga-lumes naquele escuro de meu Deus e eu pegava umas latas de óleo e fazia a minha batucada, até que ela veio e entrou no meu conjunto e começou a tocar também.
Recordo que num fim de ano fui a Radio Rio Preto PRB-8, buscar o presente de natal sai de casa quatro horas da manhã, E neste período da minha vida meu pai ja´tinha ficado no passado e ido morar com outras mulheres uma vez que ele tinha mais três família. E lá ganhei um tambor de lata, mas com duas baquetas de plastico. é sei que não era profissional maseu chorei de felicidade, pois podia tocar com a minha mãe quando estávamos sozinhos e no escuro.
Mas tudo bem um dia quando já adulto apresentava numa orquestra, de baile, Reinaldo e Sua Orquestra lá no Club do Lago. Onde hoje está localizado o Sindicato dos servidores Públicos municipais ela entrou na porta e ficou observando-me e logo foi embora. Noutro dia em que estive com ela. Ela reportou-me em lembranças de como eu era pequeno. E disse que eu dei muitos orgulhos para ela e senti que ela chorava, mas entendi que era um choro de felicidade.
A vida é assim de momentos tristes mas há outros de felicidade. E sempre tem a emoção em todos os instantes para fazer isto com a gente. Respeitei sempre ela e fiz sempre como ela ensinou respeite o meu próximo sempre, estudei na vida nas escolas como deu. E as vezes achava ela um pouco, bitolada em crença, e desesperada em ilusões dos céus, a espera de um milagre.
Nunca tive bens materiais, dinheiro ou coisa assim, sempre viva do meu suor respeitei sempre o próximo. Passei a estudar a religião dela e por queda as outras também. E vi que essa procura do ser humano na busca do criador é quase a ideia da esperança, você passa a vida toda neste sonho e morre as vezes olhando o céu. E talvez entendendo que nem sempre a vida é um mar de rosa, porém, a preocupação de aprender os seus ensinamentos. Que cabe a mim correções mas que jamais fiz ela era a minha mãe. E com ela eu sorri, eu chorei e vivi e assim aprendi a olhar o horizonte. A minha irmã hoje de cabelos brancos tem um documento que deseja arrumar, pois a minha mãe quando fez o registro dela no cartório, colocaram uma data que não existia no calendário. Mas isto é uma falha humana. Acho que o cartorário devia estar de fogo. E não cabe julgar. Quanto a minha irmã ela está correndo atrás disto pois precisa aposentar. Pois o tempo passou e a nossa vida já está quase como o sol poente, necessitando de preces em todas as tardes.
Manoel Messias Pereira
professor de história, cronista, e poeta
São José do Rio Preto-SP
Lembranças!
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