Cronica - O poço nos simples olhares de meus filho - Manoel Messias Pereira


O Poço nos simples olhares de meus filhos

Nós todos temos um defeito  ou uma qualidade em relação a conviver com o nosso isolamento social, eu tenho quase que o prazer de sempre ter a minha mesa um ou dois livros. Porém há aquele livro que é para mim um companheiro e sempre que osso olho uma de suas páginas, não como se fosse um manual de escoteiro, ou uma bíblia que tivesse a explicação provinda de algo divino de uma mensagem metafísica. Ou seja o livro é esse amigo. Um companheiro de todas as  horas. E o livro que está aqui na mesa é ainda o de Pierre Macherey, intitulado "Para a teoria da produção literária". E  portanto esse é o meu instrumento que ajuda-me a ter um olhar diferente ou que permite passar o tempo.

Na pagina 73 deste livro deparo com a informação sobre a "Explicação e a interpretação". E ele começa falando da recusa do mito envelhecido do texto, uma crítica que se queira profunda terá como finalidade a determinação dum sentido: designa-se por si própria pela sua natureza interpretativa, no sentido lato do temo. Que se ganha com a substituição da explicação que responde a pergunta como é feita a obra. E pela interpretação por que é feita a obra?

Tudo isso parece simples, mas é isso que permite a diferença de opiniões, e de explicações e de interpretações. Recentemente um dos meus filhos, o Thiago veio me contar que havia assistindo a  um filme chamado "O poço" e segundo e impressiona, pois o que ele sentiu é que ali neste filme estava explicito ou senão explicito colocado o processo de luta de classe, diante de um grupo preso num poço e faminto, em que todos na sua maioria desejava era devorar primeiro a comida e deixar tudo bagunçado para o seu próximo. OU seja isso é um individualismo. E isso o capitalismo traz para nós todos os dias.

Já o meu segundo filho o Teófilo veio e disse que não gostou do filme pois é algo surreal, muito maluco que não dá explicação como o elevador que entra no poço aonde está sendo dirigido, quem os dirige, e para quem e disse não tem nada que eu possa classificá-lo como uma boa obra. Só achou uma obra de arte confusa.

resolvi não assisti ao filme e trabalhar apenas com a opinião de meus dois filhos masculinos. Ambos professores, ou seja com uma formação universitária, o Thiago com licenciatura e bacharelado em ciências biológicas pela Unesp. E o Teófilo com licenciatura e bacharelado em ciências sociais pela Unesp. E com interpretações diferente sobre o mesmo filme.

O filme se fosse dissecado para uma análise sociológica, psicológica teria-se um resultado. O filme olhado sentido e discutido por seres humanos simples traz essas versões  divergentes. Como é feita vai muito da direção agora por que é feita vai muito da intenção de quem escreveu o escript.

Recordo que na obra o duplo Assassinato da rua Morgue,  de Edgar Alan Poe, existe uma frase escrita que disse exatamente assim "A verdade nem sempre se encontra  no fundo dum poço. Em suma, e quanto ao que se diz respeito as noções que mais se interessam, julgo que a verdade está invariavelmente à superfície. Procuramo-la nas profundidades dum vale: iremos encontrá-la no cume das montanhas."

Ou seja neste contexto eu continuo a procurar no cume da montanha na interpretação de dois jovens, filhos meus, com seus aprofundamentos no olhar da obra portanto um olhar lato, e talvez não stricto senso, ou seja não aprofundado mas cada qual com o seu sentido a sua formação e a sua ética apurada na ora de ver a obra de arte.

O que vamos observar é que o filme mostra-se como uma metáfora, e usa uma linguagem artística e que a obra pode ser vista num sentido contrario ao seu próprio sentido. Estou dizendo teoricamente pois não estive com o olhar na obra em discussão.

E para responder o que propomos acima em relação a interpretação e a explicação, precisamos e ter a certeza de qual era a intenção do autor. Que nem sempre revela o seu segredo, pois ai perderia a graça da obra polêmica. Comparando um pouco com o romance de Machado de Assis, Capitu em que sempre fica a polêmica se Bentinho foi traído ou não. Talvez sim talvez não a obra de arte fala por si, ou seja deixa a duvida, como objeto de especulação.

Enquanto isto vou olhando, observando, as folhas solta de Pierre Macherey tentando descobrir a intenção do autor de o Poço, e para que  ou para quem essa obra foi feita. E para qual serviço, ou beneficio essa obra traz a humanidade só diverte ou faz pensar. E se pensam em que e como que, fica a dúvida deste texto pra você assistir ao filme e responder.

Manoel Messis Pereira

professor. poeta
São José do Rio Preto-SP. Brasil


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