Cronica "À Mulher Operária; de Raimundo Reis" - Manoel Messias Pereira



À mulher operária; de Raimundo Reis

Olhamos sempre os poemas na qual nós identificamos pela paz que ele transmite, pela ternura existente na s palavras, pela alegria que ele reflete todos os santos dias, e isto que permitem-nos viver na arte de versejar, de declamar, de recitar  enfim,começamos a refletir sobre a poesia engajada. E neste contexto vamos encontrar uma infinitude de poetas das quais muitos nem figuram nos livros acadêmicos. Outros ficaram famosos em jornais operários, e outros foram resgatados pela história.

A quantidade de poetas por exemplo que escreveu sobre o operário,o trabalhador do campo e da cidade é infinito, dentre os quais podemos citar alguns como Aphonso Romano, Celso Monteiro, Max de Vasconcelos, Vinicius de Morais, Chico Buarque de Holanda, Gomes Leal, Lirio Resende, Mauro Iasi, Daniel Perlungieri, Silvio Figueredo, Maximino Valencia Villar, Luiz Cebola, Landislaw Patricio, Manoel Matos, Raymundo Reis, Araujo Pereira, Miranda Santos,Adalberto Vianna, Octávio Brandão, Daniel de Montalvão, Olympio Higino, Luiz Victoriense.  Orlando Fasto, Luiz Barbosa, Francisco Marcani Gonçalves, Avelino Perez Recon, Angelo Jorge entre outros. O Brasil é um celeiro de grande poetas. Porém esses figuram naqueles que falam de um classe social que são os trabalhadores.

E todos esses poetas merecem ter um olhar sobre o seu trabalho e isto a história tem feito quando historiadores apresentam trabalhos nos encontros, sobre a linguagem que dá vozes aos trabalhadores. Mas creio que essas vozes nem chegam nas massas. Assim como esses trabalhos não são comentados nos círculos acadêmicos devidamente. E quando são as difusões sobre essa cultura de classe, não tem o alcance que necessitam e exatamente em razão da mídia, que com certeza é constituída de uma ideologia de um olhar que não é de esquerda. E para uma melhor compreensão, não é marxista, não é anarquista, não é trotskista, não é leninista, não é muito menos trabalhista.

E toquei neste ponto da chamada esquerda e direita, pois a mídia que é liberal, neo liberal em seus discursos analíticos ou muitas vezes de extrema direita. Mas joga no colo da esquerda, toda as suas frustrações provindas da contradição do sistema capitalista. E ameaça a imprensa, sempre dizendo que os jornalistas são de esquerda como eles falam na atualidade esquerdopatas como se isso pudesse ser constituído de uma patologia ou então petralhas. Ou seja a extrema direita e a direita que se une, que come na mesma mesa, e até dorme no mesmoquarto na mesma cama com a mesma foda entre elas é a desgraça em si.

E a vítima que é o operário o trabalhador, é visto por eles  como um ser responsável, pela desgraça que quem (des)governa com aprovação do mercado faz a esse trabalhador com a vida proletária de um modo geral. Assim como a ideia de trabalhista que hoje é mal, falado. Pois há uma série de partidos de direita que arrebenta com a vida do trabalhador, que vota sempre contra o trabalhador mas que mantém a sigla para enganar o trabalhador tendo no nome a palavra trabalhista. Quando são covis de velhacos pessoas inescrupulosas que estão lá serviço do capital.

Portanto a poesia tem a oportunidade de revelar isso que fica preso a um contexto, muito distante e estranho ao mundo da periferia. Porém vou tratar especificamente destas poesias hoje e em outras oportunidades. E escolhi desta feita , o poema de Raimundo Reis "À mulher Operária".

Raimundo Reis conheço pouco dele sei que militou no partido Comunista Brasileiro -PCB, juntamente com Everaldo Dias, e essas informações são encontradas no Livro de Astrojildo Pereira "Formação do PCB do período de 1922 a 1928"- Lisboa prelo de 1976. Num texto que retrata acrítica que faziam ao PCB pelo excesso número de intelectuais que frequentavam o partido. E com isso não via-se o operário.

Porém o poema "À Mulher operária" assinada por Raimundo Reis, foi um poema que apareceu no Jornal Terra Livre em abril de 1910. E novamente em 19 de abril de  1933 numa reedição em "A Plebe" e sofreu ligeiras modificações pois Reis organizou duas coleções de poesias, que desaparecera após a a sua morte. Já essas informações retirei do livro-revista "Sociedade e Cultura" da Revista Brasileira de História, Órgão da associação Nacional dos Professores Universitários de História - ANPUH Editada pela Marco Zero - São Paulo em fevereiro de 1988.

Ao poema:

À mulher Operária

Definhas, carne em dor, nessa estufa doentia
Onde impera o trabalho e reina a trama
Onde a fome, roaz,  brama de sol a sol
Brotaste na miséria e estás predestinada
A sofrer, trabalhar e morrer estiolada,
Sem que brilhe em teu seio a luz de um arrebol.

Nesse inferno a que foste atirada- a Oficina-
a burguesia vil, corrutora, assassina,
Com sólido grilhões te enleou a te prendeu.
E o infundo Capital o teu suor devora,
Como a águia de Legenda espedaçava a aurora
A rija carnação do bravo prometeu.

Para o mundo atual, tu és, unicamente,
A fonte do dinheiro, a máquina inconsciente,
O ventre fértil que produz a preço vil,
A carne do prazer para os grandes da terra,
A carne do canhão para pasto à guerra
e a carne que o industrial devora em seu covil!

Ó mulher infeliz, luta, trabalha, morre!
Mas o sangue, o suor da fronte te escorre
Vai formando esse mar de fúria e indignação
Que há-de, enfim, subverter o negro Despotismo
E de onde há-de emergir, após o cataclismo,
Um mundo mais humano e sem falta do pão !

Raimundo Reis.

O poema é uma peça artística, e que merece ser apreciado, lido, declamado e sentido. e cada um pode ter uma visão a partir da sua formação, do seu entendimento do mundo. Mas na minha opinião esse poema é uns dos poucos que aborda a mulher que doa-se para o trabalho, que num contexto marxista não é um trabalho que transforma, pois essa mulher está apenas sendo consumida, em seu labor quotidiano sem nenhum prazer, ou seja é a tortura diária, apenas para ganhar o pão com o seu suor, e nisto ela adoece, triste e miserável e o capitalismo além de levar o sangue e o suor ainda tem ela como um proletária aquela que vai do seu momento de dor e prazer e até mesmo sexual criar outras vidas para ser explorada e consumida pelo desgraçado capital. 

E isto é de doer na alma, no corpo e se quiser podemos até chorar, sobre o poema. Mas representa uma fase que chamamos em literatura de realista. E que merece estar no domínio dos saraus intelectuais da vida, e na acolhida do trabalhador. Pela sensibilidade poética.


Manoel Messias Pereira

professor,poeta e cronista
São José do Rio Preto-SP.

Comentários