Cronica - Thomé de Souza - Manoel Messias Pereira


Thomé de Souza

Geralmente o dia 29 de março recorda-me alguns fatos de minha vida e de minha história. Primeiro recordo-me que em 1969, cheguei até o primeiro ginasial e nesta época tive uma professora de história chamada dona Neusa Ramos, uma senhora que tornou-me minha amiga ao longo do tempo, tendo sido mais tarde a minha coordenadora na escola que trabalhei.

Porém em 1969, eu não tinha o livro de história, mas conheci algumas pessoas em torno da escola, como o Sr. Marcio,dono de uma papelaria, que geralmente arrumava-me todos os anos os cadernos, as vezes até um cobertor para que eu pudesse ter uma noite de sono e chegar até a escola. Era um senhor que sabia da miséria absoluta em que vivia, num barraco de madeira, local em que minha mãe recebia os adeptos da umbanda e benzia criancinhas de mau olhado. De outro senhor chamado sseu Arruda um sapateiro recebi um livro chamado "História do Brasil" autor João Ribeiro, recordo que na época a edição era de 1910, e foi com esse livro que comecei a questionar a professora de história. Que um dia até me deu nota baixa de 6,5 (seis e meio), porque eu escrevi alguma coisa que no entender dela estava fora da ótica dos outros garotos e da classe. Quando eu disse mais isto está no livro qual, eu disse do curso de História de ensino superior.

Porém recordo que foi neste livro que retirei algumas anotações que deixei num caderno que foi apossado pelo meu irmão o pintor Florêncio Pereira Duarte. E creio até que ele já jogou fora. Pois um dia ele me mostrou apenas um caderno de poema que escrevi na minha meninice. E eu disse você ainda tem isto? E ele respondeu é super genial. Mas eu disse eu era criança esquece disto.

Voltando as aulas de dona Neusa e ao livro recordo que anotei que na história do Brasil, as tais capitanias hereditárias, foi de fracasso, de fraqueza de desmoralização e depravação. E sempre havia aluta contra a pirataria na maior parte francesa que impunemente comercializava com os indígenas e procurava estabelecer-se na terra, e com isto induziram o rei de Portugal D. João III a criar o Governo Geral do Brasil.

E para a sede deste governo escolheu-se a Bahia, e o primo de Martin Afonso de Souza o fundador da primeira vila criada no Brasil a de São Vicente, foi quem foi o escolhido para vir como governador geral. Thomé de Souza, que gosto de escrever o nome dele com a mesma grafia que vi naquele livro com um h no nome e não como atualmente escreve-se. Até porque as pessoas que são professores, autores de livros editoras, precisam tomar juízo, vergonha  ou melhor  ter uma decência e deixar de elaborar texto com nomes das pessoas escrevendo errado ou mudando a grafia de nome próprio de pessoas. É uma canalhice editorial que naturalmente ocorre no Brasil.

Thomé de Souza (1549 a 1553) foi nomeado pelo regimento de 1548. E ele era um homem prudente e sisudo conforme escreveu João Ribeiro. E na verdade chegou em 29 de março de 1549, e logo assistido de portugueses entre os quais Caramuru, como ficou conhecido João Ramalho que já morava em Vila Velha numa pequena povoação indígena à barra do golfo, e com auxílio dos índios, lançou os fundamentos da Cidade do Salvador na chapada da montanha, no lugar que hoje se chama cidade alta.

E o governo geral devia conforme podemos ver no livro de Francisco de Assis, fundar vilas e povoações, conceder sesmarias para a instalação de engenhos de açúcar ou qualquer outra atividade econômica, coisa que muda tempo depois, explorar e descobrir terras no sertão, promover a criação de feiras nas vilas e povoações, exterminar os corsários como chamavam os piratas e destruir seus estabelecimentos nas costas do Brasil, edificar fortes e construir navios para a defesa da terra, garantir o monopólio real sobre a exploração do pau-brasil como era conhecida a madeira ibirapitanga, e fazer alianças com as tribos amigas e promover a catequese. O chefe de governo contava com três assessores o provedor -mor (tesoureiro) responsável pelos negócios da fazenda que foi o senhor Pero Borges. O ouvidor mor a espécie de Juiz responsável pela justiça, que foi o senhor Antonio Carlos de Barros , e o capitão mor militar responsável pela defesa da terra, que foi o senhor Pero Góis da Silveira.

Porém é bom que se diga o governo geral não extinguiu as capitanias que continuou a existir até ao século XVIII, quando então queriam transformar em capitanias reais e os governadores em vice reis. E neste caso penso que senão acabou com as capitanias apenas ampliou a depravação, a fraqueza e a desmoralização ou seja não estamos na colonia mas num pais com essas raízes históricas.

Thomé de Souza era um bastardo, porém de grande estimação entre a nobreza pelos serviços prestados no Oriente, e por ser sério e pouco vulgar, entre os seres humanos masculinos de menos esmerada educação conforme escreve o autor João Ribeiro.

E acompanhando Thomé de souza seis jesuítas sob a direção do padre Manuel da Nóbrega. Vinham com a ideia de catequizar os indígenas e prestar serviços à religião cristãs e dos bons costumes. Sob as ordens do padre manuel da Nóbrega, estavam os padres, Aspicuelta Navarro, Antonio Pires, Leonardo Nunes e os irmãos Diogo Jácome e Vicente Rodrigues. A quem diga que a administração de Thomé de  Souza foi hábil e de muitos frutos.

Com isto Thomé organizou a defesa da colônia, fortificando-as, tornando por toda a parte o serviço militar, mas sem excesso. Protegeu os indígenas, mas não sem castigá-los severamente e quando necessário de uma feita tendo esse mortificado e devorado dois portugueses aprisionados e várias outras crueldades inúteis. Porém para aumentar a população Thomé também revogou  seu arbítrio as leis penais das Ordenações e acumulou muitas dificuldades para os seus sucessores e autorizou maiores injustiças.

Percorrendo o Brasil Thomé de Souza encontrou Hans Staden que contratou  como artilheiro e que pouco depois foi aprisionado pelos tamoyos como conta o seu curioso livro de aventura no Brasil. Neste governo ainda organizou o primeiro bispado em 1552 tendo como primeiro bispo D. pero Fernandes Sardinha, esse que virou churrasco nas mãos dos índios brasileiros.

Thomé de Souza conforme livros escritos no Brasil trouxe gado da Ilha de Cabo Verde, introduziu a lavoura canavieira nas proximidades de Salvador-BA, fundou engenhos, sesmarias, incentivou a vinda de mulheres para aqui constituírem famílias. 

Ater um pouco sobre a história do Brasil, e também ter um pouco a noção de como o ser humano sempre lidou e tratou outro ser humano diferente ou de outra cultura com uma imposição, uma lei, um rigor, que desrespeita a cultura, como era dos indígenas, e qual foi o grau de estupidez e insensatez, no olhar do europeu português, que desde 1343, se posicionou como dono desta terra conforme expõe a carta Náutica de 1925 de angel D'Lorto e o reconhecimento do papa Clemente VI. É importante para entendermos essas relações humanas ainda hoje, tolhida de abusos e desrespeitos em relação as autoridades e ao povo que aqui vive.


Foram três navios da esquadra que trouxe Thomé de Souza o Conceição, Salvador e Ajuda e mais três caravelas numa comitiva de 600 homens de armas e 400 homens degredados. Assim formou-se a Bahia assim tivemos a organização politica e social na primeira cidade brasileira, sendo essa a primeira capital da colônia.


Manoel Messias Pereira

professor de história, cronista
São José do Rio Preto-SP - Brasil



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