Cronica - O trem em minhas lembranças- Manoel Messias Pereira



O Trem em minhas lembranças

Da minha infância dos cinco ou seis anos recordo-me que o trem passava próximo de minha casa às  nove horas. Como ficava sozinho entendia que aquele momento era o horário de meu almoço. Corria até o fogão alenha onde mamãe deixava a comida, pegava o meu prato na prateleira, e enchia o mesmo de arroz, farofa e um feijão cheio de carne de porco, parecia uma feijoada. E fazia assim a minha deliciosa refeição. Depois pegava uma caneca ia até o pote e tomava água.

Já quando tinha os meus nove anos aproximadamente recordo que estava na escola. Adorava seguir pelos trilhos da linha férrea para chegar até o terminal, e fazia isto quase que religiosamente. Proximo da estação ferroviária encostavam os ônibus, de passageiros. Via cenas lindas de despedidas. Que hoje já não consigo mais assistir. Era choro, era lenço na despedida parecia um romantismo louco entre quem partia e quem chegava e isto repetia-se também em quem ia viagem de trem.

Porém o meu destino não era que ia viajar mas sim comprar bugigangas, como martelinho de plástico, bonequinha de plastico branquinha de cabelo loiro, que dava uma vontade de comprar e depois queimar, pois lá em casa as minhas irmãs eram todas negrinhas e via aquilo uma forma de contemplar a nossa negritude. Mas um dia queimei a boneca de minha irmã na brasa do fogão a lenha e ela que chorou até, coitada ela era difícil de entender as coisas, acho que tinha um problema de cabeça. Outra coisa que via era carrinho de plastico, mas gostava mesmo era de comprar caneta tinteiro e aquele vidrinho de tinta. As canetas tinha uma bombinha que nós enchíamos e quando levávamos na escola também usávamos o borrador.

Já nesta época fiz a viagem até Rubinéia de trem. E a impressão foi de uma festa a vigem de trem era muito alegre. E o clima era de festa a mãe Linda, do Terreiro Cacique da Mata Virgem, lá do Jardim Vitória Regia, foi entoando pontos de terreiro e fazendo saudações até chegar em Rubinéia. Naquele tempo ainda não havia a linha desta estrada rodoferroviária que chega até o Mato Grosso e Goias. Lembro que foi linda a viagem.

Hoje o trem virou uma coisa só leva soja, açúcar, óleo diesel e outras bobagens do mundo capitalista, dos homens que só sabe acumular lucros e riquezas. Porém da minha parte só acumulei saudades. De alguns amigos que partiram de trem e outros que partiram da vida, tenho saudade de um grande amor, mas deixa para lá eu nem era tão bom assim de conquista.

Mas a vida seguiu a vida,o progresso, o tempo e aqui vou caminho hoje na solitude do quintal, observando os pássaros que cantam em meu cajueiro, e fico olhando as rosas que murcham nas roseiras numa sinfonia dos ventos, que me trás essas lembranças, porém não vejo mais o apito do trem às nove horas. Apenas fico sorrindo do meu passado.

Manoel Messias Pereira

professor de história e cronista
São José do Rio Preto-SP.-Brasil




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