Crônica - O carnaval da Vitória - Manoel Messias Pereira


O Carnaval da Vitória

O dia de hoje 27 de março em Angola comemora-se o Carnaval da Vitória. Recordo que essa expressão vi pela primeira vez no livro de literatura que li chamado "Quem me dera ser onda", escrito por Manuel Ruy, e depois também vi essa expressão no livro "saberes e Sabores das narrativas africanas" escrito por Célia Ferreira de Souza.

O livro de Manuel Ruy narra a história do garoto que ganha o porquinho e tem que conviver com ele no condomínio. E com isto driba a policia que eles chamam de "pecepe",  e o síndico do prédio porem o o porquinho urbano vai crescendo e todos convivendo com o animalzinho mas que na verdade todos esperavam era fazer o drink na festa do Carnaval da vitória. O que desagradava o garoto dono do porquinho da história.

Era aluno da professora Tânia Macedo, foi ela quem indicou o livro do Manuel Ruy, e na época achei bem interessante até pela linguagem diferente da mesma língua portuguesa que falamos no Brasil, quem tens certas particularidades e expressões diferentes conforme a cultura local. A professora que também é escritora do livro "Angola e Brasil -estudos comparados", e tenho o livro dela aqui na estante ainda hoje. Ela que também era hábil na cozinha e ofereceu a nós alunos várias receitas, como o frango com amendoim, que geralmente nem um restaurante oferece por aqui.

E neste contexto fiz na época até um estudo comparado com o personagem de Manuel Ruy que era o garota que tinha o porquinho criado no apartamento. Mas que vivia num conflito pois todos ficaram sabendo e desejavam fazer o porquinho frito no carnaval da Vitória. E o estudo comparado foi com  uma reportagem feita pela Folha de São Paulo, sobre o porquinho da cidade de São Paulo que passeava no shopping, e tinha o apelido de Pitt. Reportagem do dia 25 de maio de 2007. Nesta matéria mostra que a dona do animalzinho de estimação era Sueli Almeida, que achava Pitt, lindo, fofo, e o porquinho recebeu esse nome em homenagem a ator Brad Pitt. Essa moça dona do porquinho paulistano que morava nos Jardins, era segundo a reportagem diretora artística do Via Funchal bairro oeste da cidade de São Paulo. E na reportagem ela falava do banho que tomava o porquinho, usando xampu infantil e tinha até cobertor para dormir. E confesso que nunca soube o destino de Pitt. A única coisa que vi era que a ficção do escritor angolano, virou realidade numa cidade brasileira. Depois dela outras histórias semelhantes surgiram por aqui, como a Globo que em 2012 trouxe o empresário Bruno de Freitas também adquiriu um porquinho passeando com o animalzinho até no shopping. Um animalzinho que tomava banho tinha alimentação balanceada além de usar creme hidratante na pele.

Já no livro de Célia Ferreira de Souza não tenho essa obra em mãos e não sei a abordagem feita pela autora. Mas  citando o carnaval da Vitória, que de princípio no meu estágio de ignorância, acreditava ser uma festa de fim de ano, onde se pudesse fazer um churrasco e por isto passei alguns anos lembrando de meu réveillon por aqui sem esquecer do livro de Manuel Ruy, que confesso que já não está mais em minha mesa, mas com certeza em outras mãos. E bendito sejas o livro que possa bem circular.

Porem pude saber mais tarde que o Carnaval da Vitória iniciou-se, quando o poeta e revolucionário Dr. Agostinho Neto, conseguiu com as forças angolanas expulsar o último sul africano do solo angolano, pois a ideia de extrema direita de Peter Botha com o seu entendimento de apartheid não era bem vindo no território de Angola. E para tal fazem a festa. E em 1978 o próprio Agostinho já doente  senta-se na Avenida de quatro de fevereiro ou Avenida Atlântica de Luanda ao lado de seu ministro da defesa Iko Carreira do jovem José Eduardo dos Santos, que viria a ser mais tarde presidente de Angola diga-se por longos trinta anos. 

Essa festa tinha um caráter de revolucionário. e foi esse carnaval que possibilitou outros carnavais, tendo um chamado gosto de vitória. E nesta festa angolana já passou vários artistas brasileiros como Carlinhos Brown, Martinho da Vila, Marisa Monte, que ao lado de artista consagrados de Angola como Bongo, Ruy Mingas e Dionísio Rocha cantaram. Repertórios que Bonga dizia ser de resistência. Era a música de forma sutil fazer ouvir-se a resistência de novos tempos e novos ares político. 

Hoje a festa e o carnaval já não tem esse caráter, essa nuance. E o carnaval da Vitória foi tema do Jornal brasileiro Brasil de Fato.

A compreensão histórica sempre é importante mesmo que passamos a conhece-la por meio  da literatura ou da própria música depois, a história assenta-nos no terreno sociológico, antropológico e com certeza social. E parabéns a todos os angolanos, por esse 27 de março. Embora o mundo viva em tempos de vírus Covid-19, em que todos precisam ficar em casa, e as autoridades de Angola pede para alimentar-se com alimentos ricos em vitamina D.

Manoel Messias Pereira
professor, cronista e poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto-SP.



Comentários