Cronica - Fama Somnia - Manoel Messias Pereira

Fama somnia


Eu encontro a matéria prima para a minha obra literária no brilho dos olhos das pessoas, na leitura dos lábios delas, no cheiro que elas trazem da vida, nos sentimentos em que elas procuram exaltar-se, como ser pensante, como ser filosófico. Pelos sentimentos de paz, de amor, de dor e maldades, que elas possam transmitir, sem dó nem piedade.

Outro dia lendo teoria da literatura escrito por Stéphane Santerres-Sarkany, editado pela publicações Europa América, vi um apud em que dizia que Jean Paul Sartre nos seus escritos classificava a poesia que utilizava as palavras como a pintura usa as cores, como uma  arte não transitiva. E mais tarde ele vai admitir que havia uma espécie de poesia que não estava englobada  nesta categoria e que possui o caso de transitividade como é caso da literatura em geral.

Eu penso que um olhar, em que cai uma lágrima, há um momento de emoção, nesta lágrima, há um sentimento íntimo que permite essa lágrima sair do contorno dos olhos e bailar pela face. Esse sentimento pode estar na alegria, pode estar na dor. Esta na emoção humana refletida naquele corpo. 

E quem nem sempre tem condições de ver. Pois o sentimento não é um sujeito físico. Mas pode haver também uma questão pessoal, psicológica, há um acontecimento histórico talvez que não abale a humanidade, o país, o estado ou a cidade. Mas traz desconforto ou conforto ao ser humano, que está sentir aquela emoção.

Quando afirmo sobre a palavra dor, o amor, a paz a maldade , são elementos que entra na composição do poema como tijolos entra na construção da casa, assim como fios que liga os sonhos a realidade.

Quando Sartre fala da pintura e compara com a literatura é bom ressaltar que ambas são expressões artística e parte do sentimento humano do instrumento da arte que é o artista mas que muitas vezes, tem o olhar interno voltado pra dentro de si, tem o olhar externo para toda a coletividade e não dá mesmo, para olhar somente para o brilho das estrelas. Até por que como dizia o renascentista Leonardo da Vinci, quem prende os olhos  apenas nas estrelas, fica lá e não se volta. E esse é o erro ou o deslize que pode haver poeticamente.

A pintura é uma expressão visual, o sentimento ali se expõe. E quem olha precisa ter no olhar a emoção para enxergar. Caso contrário existe uma banalidade, um desfazer emotivo. Em relação a escrita não há cores, mas precisamos expressar a alegria das cores fortes e vivas. mas também entender o cinzas da existência.

É necessário ter um olhar  horizontal, e ver o brilho da estrela que estavas no céu, aqui no colo da terra, onde estão todos esses seres humanos, que caminha, trabalha, vive harmoniosamente e também desesperadamente. Mas o importante é manter a arte, que permite a emoção. E entender a realidade da vida e da morte.

A ficção e a verdade andam juntas e elas estão sempre presente na literatura poética ou na prosa crônica. Uma obra de arte não deve ser apenas um tecido de ilusão, é a existência da ilusão. Ou melhor a aplicação da ilusão às vezes até enganadora, outras vezes são ilusões interrompidas, realizadas e completamente transformadas. Mas tudo isto é uma verdade.

A arte e o conhecimento as vezes tem até o mesmo peso. A arte vai além desta estrutura de entendimento traz outra visão como num sonho. Tinha um professor que dizia a arte é transcendente vai além do que o ser humano pode perceber, por isto julgar arte, concurso artístico, nem sempre tem  esse explicito pensar. Já o conhecimento é algo que vamos adquirindo e esmerilhando muitas das vezes colhidos na ciência. E a verdade cientifica é a verdade que vem de uma experiência. Uma experiência, que trouxe para realidade um resultado um teste, uma cientificidade. Já a verdade artística é quase sempre inexplicável, mas é verdade.

Escrever é sempre criar, e permanecer numa ideologia humanista. É sair da dependência de uma ordem externa. É ter a ideia de tudo pelo ser humano, e pelo ser humano e sair deste ninho de seres humanos, é circular tautológico, limitando repetir sempre a mesma imagem. Cria é dar cria, é gemer de dor, mas depois ter o prazer de lamber a obra com muito amor.

Outro ponto a ser destacado é a proteção que homem tem, que entra em contradição, entre o proteger e transformar. Poeticamente há quem deseja o homem alienado iludido. E há quem defenda isso. E por si só a poesia é um espécie de essência. Ou seja a uma verdade linda como a flor, que tens corpos de flor, e perfume de flor, e há o extrato da flor, o cheiro da flor, mas que não apresenta-se fisicamente. A não ser quando ela é concreta, é de processo, é de leitura semiótica.

Nenhum ser nasce homem ou mulher, se transforma em homem ou transforma -se em mulher num poema de processo, num concretismo ou neoconcretismo, num androginismo. Conheço vários, uns até precisam dar cordas.

A minha poesia nada tem de religiosa ela não é teológica ela apenas antropológica. Aparentemente uma mutação radical que opera-se, na continuidade na operacionalidade. E a mutação é só uma adaptação da própria transformação. E o algo novo. 

Ah! quanto a maldade ela está exposta numa serie de atrocidades, que a humanidade cometem. Como ser pregado na Cruz, como um ser exposto a tiros de fuzis, pelas ruas do Brasil, como um ser enforcado nos Estados Unidos provindo de outro país. Historicamente localizamos Jesus, noutro caso encontramos Marielle, noutro Sadam Hussein. As vezes a maldade parte dos juízes, principalmente dos desmiolados. Mas como dizia Fenelon, quem julga um homem observa os amigos. Outros juízes decidem sem antes ouvir as parte ou analisa-las, ou seja não seguem e talvez nem goste da escrita de Aristóteles. Tem juízes que já guarda a sentença pronta antes de dar inicio ao processo e tudo é a falsidade em si. E essa é a verdade dos julgamentos.

Poeticamente temos esses pontos como matéria prima da obra que escrevo, entenderam.

Manoel Messias Pereira

poeta, cronista
São José do Rio Preto - SP.











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