Era exatamente dia 16 de março de 2014, quando a auxiliar de limpeza Claudia da Silva Ferreira a Cacau, saia de casa para fazer comprar a seus filhos ela que era casada a vinte anos tinha quatro filhos e ainda cuidava de outras quatro crianças e adolescentes entre as idades de cinco a dezoito anos. Quando por uma operação policial foi baleada no Morro da Congonha onde vivia. Após ser baleada a policia disse que prestaria socorro colocou-a na parte do porta mala da viatura e com a porta aberta arrastou a moradora por 350 metros.
O detalhe era uma mulher negra, trabalhadora, mãe e cuidadora de crianças, que levantava de madrugada para trabalhar num hospital tinha a filha mais velha trabalhando numa mercearia ou supermercado, portanto pessoas simples. E ia completar de casada neste ano em setembro vinte anos de casada.
E no detalhe foi assassinada pela policia militar, portanto pelo Estado do Rio de Janeiro. O seu corpo arrastado pela Estrada Intendente Magalhães foi filmado por um cinegrafista anônimo que seguiu de carro a viatura. Sei que a sua filha tinha dito que levaria até um pronto socorro , mas foi empurrada pelos policiais conforme reportagem da rede Globo. O vídeo macabro foi divulgado pela imprensa. E as imagens teve grande repercussa nacional e internacional na época pois foi de uma crueldade imensa enquanto que policiais riram, num total desprezo.
Na época uma intervenção durante uma sessão especial do Senado Federal, contou com a ativista Arisia Barros que falou da representatividade do caso diante do legado do racismo no Brasil.
A presidente do Brasil a Sra. Dilma Rousseff lamentou o ocorrido e numa nota escreveu "Nessa hora de tristeza e dor, presto a minha solidariedade à família e amigos de Claudia. A morte de Claudia chocou o país. Claudia da Silva Ferreira tinha 4 filhos, era casada a vinte anos e acordava de madrugada para trabalhar num hospital."Dilma Rousseff.
O governador da época do Rio de Janeiro Sr. Sérgio Cabral qualificou a ação policial como abominável e reuniu com a família de Claudia logo após a sua morte e disse "O mínimo que se esper dos três policiais é que seja expulsos da corporação. Governador Sergio Cabral.
Em abril de 2014, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro firmou um acordo com o governo do Rio de Janeiro para garantir uma indenização por danos morais e materiais.
O laudo pericial constatou que a causa morte foi um tiro que atingiu o coração e o pulmão.
Em relação aos policiais que arrastaram Claudia, dois deles identificados forams os subtenentes Adir Serrano Machado e Rodney Miguel Archanjo do 9o Batalhão da Policia Militar. E ambos já tinham envolvimentos em casos que resultaram em mortes pelo menos 69 (sessenta e nove ) pessoas, durante o suposto tiroteio registrados como auto de resistência entre os anos de 2000 a 2014.
Em maio de 2014 seis policiais envolvidos na operação foram indiciados por crimes incluindo homicídios dolosos e fraude processual. No entanto em julho do mesmo ano eles já voltaram ao trabalho e em outubro de 2014 livraram-se de ter que prestar conta a justiça. E em 2016 nenhum policial havia sido responsável por sua morte.
O caso ganhou a atenção por suas imagens chocantes e reacendeu o debate sobre a violência policial e a impunidade no Brasil. Um levantamento da Anistia Internacional aponta que pelo menos 16% dos homicídios do Rio de Janeiro são cometidos por policiais entre 2010 a 2015. Sendo esse uma dos maiores índices de letalidade policial do mundo. Em 220 casos examinados pela organização de direitos humanos envolvidos homicídios por policiais, apenas um policial havia sido indiciado.
O que sabemos é que já quase duas décadas as policias militares passam por crises estruturais e esse processo passam a provocar a violência contra a população que precisa ir e vir, ter aumento de salários. Mas é preciso rever o esquadrão da morte que opera dentro das corporações policiais é necessário cursos periódicos de atualização para todos os policiais, precisa de salário contra a corrupção policial, preciso ampliar a jurisdição dos tribunais civis, que passam também a julgar réus militares, precisam também apurar o controle disciplinar destes servidores quando não agem de forma apropriada. é preciso entender que pobreza não é licenciosidade para o policial atirar.
Hoje lembramos deste caso coberto de injustiça, de desrespeito, num simbolo de opressão do Estado sobre a população e este é um quadro de tristeza muito bem discutido pela sociedade ativista, pelos Movimentos dos Direitos Humanos, pelo Movimento Negro, que deseja ver uma ruptura nesta conduta que traz mais infelicidade do que benefício a sociedade brasileira. Hoje é um dia de lembrar Claudia da Silva Ferreira, que não pode ser mais uma na estatística melancólica da história deste país
Manoel Messias Pereira
professor de história, cronista e poeta brasileiro
Membro da Academia de Letras do Brasil
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