Artigo - Revolta marracuene - Manoel Messias Pereira




Revolta Marracuene


Em 2 de fevereiro de 1895 na proximidade de Marracuene  ou Gaza - Moçambique enfrentaram -se as forças rongas comandadas pelo príncipe Zixaxa e as forças portuguesas comandadas pelo major Alfredo Augusto Caldas Xavier. Uma batalha contra a neocolonização como parte do imperialismo europeu e o domínio da África.
Na foto temos o imperador Ngungunhane
Na Batalha que ocorreu as forças portuguesas contavam com 37 oficiais e oitocentos soldados, canhões e metralhadoras, já os rongas apenas com 4000 homens sob o comando do príncipe nuã - Malidjuana co Zixaxa iMpfumo, que acabou sendo preso e deportado. Enquanto que o chefe Moamba aliou-se aos portugueses e somente Matibejana e Mahazul combateram ao lado dos nativos rongas.
As forças portuguesas com o seu poder de fogo assassinaram 66 rongas e deixaram muitos feridos, que em seguida foram também assassinados e incinerados com petróleo. E entre os portugueses um saldo de apenas 24 pessoas mortas e 28 feridos.

Após alguns dias os portugueses vão para são Lourenço marques e os rongas vão tentar organizar-se.


Revolta Marracuene
Num olhar mais abrangente, lembramos que o mundo estava vivendo um processo em que havia a expansão da Revolução Industrial por meio do processo imperialista, que os países da Europa, organizaram a Conferência de Berlim entre 15 de novembro de 1884 a 26/02/1885 e havia chegado a conclusão de que era o momento de uma recolonização do mundo, asiático, africano e latino americano.
E neste contexto tínhamos o Imperador Ngungunhane governando um território de 90.000 Km quadrados com mais de um milhão e meio de habitantes, tinha a sua corte fixado em Manjacaje desde 1884 que tornava-a capital de Gaza.
Ngungunhane não admirando a conferência, pois o seu relacionamento com os europeus e em especial com os portugueses fazia parte das suas prioridades governativas.
E em janeiro de 1885 os portugueses em Chiloane anuncia a sucessão como uma oportunidade de reforçar a presença portuguesa junto aos angunes ou vátuas no seio africano. E este território moçambicano era cobiçado pela Inglaterra e pela Alemanha. E neste contexto os portugueses foram rápidos e hábeis. E em 1886 o Ministro dos estrangeiros Henrique de Barros Gomes assinar com Otto Von Bismarck o Tratado de delimitação das colônias, dos dois países que anexados ao chamado mapa - cor-de-rosa, e que é Angola e Moçambique. Esse território foi acordado para o domínio português. Enquanto também crescia a presença dos britânicos  e bóer e em particular o general Charles Warren com 5000 homens armados e há uma aproximação dos portugueses com eles e para tanto nomeiam junto a corte de Ngungunhene, o militar José Casaleiro de Alegria Rodrigues num misto de conselheiro político e embaixador. E o imperador Ngungunhane  em 1886 oficializa no dia 9 de janeiro deste ano, a residência e a presença de portugueses livres no território de Gaza. ele tenta mudar a capital para um novo Manjacaze (Mandlakasa) exatamente a 600 Km no sul causando uma resistência e novas guerras. Além do mais Ngungunhêne  defende a independência de Moçambique em relação aos portugueses e com pretensões sobre as minas de Manica e contando com apoio dos ingleses e de Cecil Rhodes.
Dias depois os portugueses vão para Lourenço Marques enquanto os rongas se organizam em torno de Magride, onde os regimentos de Nwamatibvane e Andgundjuana refugiaram ficando sob a proteção de Ngungunhane que lhes aceita a vassalagem. mas o poder de fogo dos portugueses não permitem que os nativos africanos consigam vencê-los, Mas esse confronte é considerado em Moçambique por Gwaza Mithine expressão em idioma xi-Rongo que significa "lugar do trespassar, atravessar uma lança ou azaguaiar".

Vale lembrar que Ngungunhane o chamado Leão de Gaza, como era chamado o imperador que foi feito prisioneiro, por Joaquim Augusto Mauzinho de Albuquerque, foi levado para Lisboa e depois para o Açores, juntamente com o seu filho e acabou falecendo onze anos mais tarde. E muitos moçambicanos foram nesta luta depois condenados a morte. Diria que o imperador de Gaza caiu numa teia de aranha do neocolonialismo creio eu.

Houve tentativa de conciliação entre abril a agosto de 1895, após isto outros combates vaio ocorrer entre a resistência e os portugueses, como o de Magul e Coolela.
Essa revolta deixou uma marca os seres humanos de Marracuene são sinceramente heróis e esse reconhecimento é visto nas suas organizações cívicas com Moçambique hoje, um dia de luta que permanece no inconsciente coletivo daquela população.
Manoel Messias Pereira
professor de história, cronista, poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto-SP. Brasil.


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