Artigo - O professor de História - Manoel Messias Pereira



O professor de História

A minha vida como professor de história no ensino fundamental e médio, foi de uma grande preocupação conteudista. Pois quando temos um conjunto de conhecimentos históricos, que traz em si, um momento político, social, econômico e um aspecto filosófico de cada tempo e época parece que viajamos e muitas vezes trazemos aquele passado para o nosso presente, no chamado ir e vir da ciência histórica. E possibilitando assim uma leitura sociológica para os dias atuais. Muito aprende-se com o passado e a luta é para não repetir os erros do passado mas para entende-los e possibilitar uma nova construção identitária para o momento em que vivemos. eu sempre começava as aulas lembrando de um fato histórico que permitisse abrir a possibilidade de um dado conhecimento. E a data de hoje 5 de fevereiro lembra 1599, quando os holandeses que invadem o Brasil são repelidos pela primeira vez. Pelo menos é o que conta a nossa história.

Esse é um período em que o Brasil vivia com o domínio espanhol, chamado pelos livros de período filipino. E é interessante quando os livros escreve que os holandeses invadiram o Brasil. E os alunos e os professores não discutem ou não mantem o diálogo sobre as tais necessidades mercantilista do colonialismo português.

E na questão econômica não podemos esquecer das características da sociedade açucareira colonial, que era o reflexo da estrutura econômica escravagista e portanto era a estrutura para tender aos interesses mercantis da metrópole.

E no Brasil havia um elemento feudal e o capitalismo importado de Portugal, e assim tínhamos uma sociedade colonial com característica própria. E apesar do domínio absoluta do senhor de engenho em suas propriedades e até fora delas,a sociedade colonial não era feudal e sim escravagista.

Essa sociedade escravagista que tínhamos aqui, era uma um processo escravocrata que foi estruturado como elemento de acumulação capitalista em conjunção com uma política mercantilista. E nada tem com aquele chamado modo de produção escravo de Roma ou Grécia antiga. E também nada tinha com o sistema feudal, em que o servo era livre  não era propriedade do senho apenas preso a terra . Já no período da produção colonial o ser humano escravizado era propriedade do senhor inclusive nos registros contábeis tido como um semovente, portanto um animal. E não um ser humano.

Era uma sociedade praticamente estamental, a mobilidade social era praticamente inexistente. A vida social se restringia aos limites da propriedade açucareira que em sumo era o engenho. E duas classes sociais distintas do senhor de escravo o branco  e do negro (preto) escravizado. A classe média não existia. Em resumo tínhamos uma sociedade escravista, rural,bipolar socialmente ou seja duas classes, aristocrática ou seja dono da terra uma alta nobreza e por fim patriarcal, o homem  branco como chefe da família.

Essa classe senhorial era a elite. Suas palavras tinham força de lei e contestá-los era uma abuso imperdoável. As mulheres além de subordinadas aos homens era considerada um ser inferior. Tinha que obedecer cegamente aos ordens do pai ou do marido. A preservação da virgindade era fundamental até o casamento e as meninas antes do casamento devia ficar confinadas. e estavam preparadas para casar entre quinze e dezessete anos. Na verdade mulher era um objeto de troca de favores políticos.

Em relação aos negros escravizados os senhores submetiam a uma verdadeira depravação. todos os escravos estavam sujeitos as bestialidade e perversão e sadomasoquismo dos senhores portugueses, que atribuía tudo a lubricidade da raça negra. Era uma coisa bem nojenta. Sem esquecer que esses senhores depravados espalhavam doenças veneras para todo o lado e esses escravizados morriam muitas vezes sem nenhum tratamento.

E nesta época a produção açucareira era estruturada no tripé, monocultura, latifúndio e escravidão. O português tinha a terra que plantava a cana-de-açúcar, tinha o negro escravizado como mão de obra especializada na produção do açúcar e tinham os holandeses como distribuidor do produto. Tanto que a divisão econômica e financeira era assim propagada, 10% do colono, 20% da coroa e 70% dos holandeses. Portanto a Holanda era parte deste negócio. Daí acho estranho quando falam que os holandeses invadiram.

Agora quando o Brasil torna-se uma colonia dirigida pelo rei da Espanha Felipe II, em 1580 e fica até 1640, o que nós entendemos como o período da União Ibérica. E vamos observar que a Espanha católica tinha um certo constrangimento com a Holanda protestante. E as duas nações estavam em guerra por domínios territoriais e luta por independência. É que Felipe era um católico devoto a fé e dedicou a interromper o progresso protestante. Começou com a quebra da Trégua de Vaucellis assinado com a França em 1556, ao qual se uniu ao papa Paulo IV contra os protestantes. E no plano religioso Felipe recorreu ao Tribunal da Santa Inquisição contra os protestantes e seu domínios. Tivemos com isso a tal Revolta Holandesa de 1568 a 1648 foi a chamada guerra de secessão na qual o território dos países baixo se tornou independente frente a Espanha . As províncias do norte formaram a União de Utrecht e a guerra tornou-se uma luta religiosa. E durante esse período Holanda tornou-se uma potencia, com uma grande poder naval e um crescimento econômico , científico e cultural.

Lógico que aqui no Brasil a União Ibérica vai proibir  a Holanda de continuar a fazer fortuna com o nosso açúcar.. E com a expulsão mesmo dos holandeses mais tarde eles vão produzir açúcar nas Antilhas, fazer um grande concorrência com a economia da colonia, o que foi nefasto para a nossa produção. As fianças espanholas começam a ser sensivelmente prejudicadas e as companhias de comercio criadas pelos holandeses passam a atacar as colonias espanholas.

Em 1602 protegido e apoiado pelo Estado vários empresários vão  criar a Companhia das ìndias Orientais e conquistar posições espanholas na Ásia e na África, fazem acordos comerciais com povos orientais tais como os japoneses, os chineses os persas (atual Irã) e passam a controlar parcialmente o tráfico de pessoas escravizadas. E essa politica dos holandeses acarretaram um grande prejuízo para os espanhóis. E forçaram a Espanha a assinar a Trégua dos Doze Anos (1609 a 1621), findo esse período os holandeses fundaram a Companhia das Índias Ocidentais, responsáveis pelas tais invasões na América espanhola e como aqui também era da Espanha, embora diga-se de passagem Portugal em 1581 temos o chamado Juramento de Tomar, em que o rei tinha uma série de compromissos em relação a Portugal. Mas retomando o que estávamos dizendo os holandeses estiveram na Bahia em 1624 a 1625 e depois em Pernambuco entre 1630 a 1654. Depois ainda tivemos o Governo de Mauricio de Nassau de 1637 a 1644. Sendo que em 1640 Portugal vai restaurar a sua Independência com D. João IV e a dinastia de Bragança. Dai sim Portugal assina agora um acordo de Paz com a Holanda, que mesmo assim os holandeses contrariaram depois em 1641 conquistando áreas da África portuguesa e além de anexar o Maranhão.

O que ficou evidente é que os Holandeses vieram aqui exclusivamente para a obtenção de seus lucros e não para fixarem na terra ou colonizar. E deram um impulso em relação a economia devido aos seus interesses mercantis. Em relação aos escravizados continuaram a sofrer por um bom tempo aquela condição desumana e degradante, porém deixaram de serem escravizados e hoje só assalariados, ou desempregados e o salário  aprovados pelo Congresso e pela Presidência é um desrespeito social, pois falta compromisso em cumprir com ética e moral, o que estabelece a Constituição Cidadão da República federativa do Brasil. Pois aprova um salario de ficção para o povo brasileiro, são bem canalhas os nossos representantes dos poderes constituídos. Em relação a mulher precisou lutar muito para sair das condições de submissão imposta pela tradição patriarcal. E para deixar de ser objeto, ela continua buscando sua independência, sua autonomia e sua identidade própria em relação a forma de família monogâmica imposta, é ainda difícil dizer que vão respeitar outra composição que não essa. Em relação a política, o Brasil deixou de ser colonia, passou a ser uma monarquia teve dois imperadores, transformou-se em republica, porém as atitudes dos nossos governantes tem o o atraso do século XVI em pleno século XXI. Somos bem mal representados. E quem dá o voto pra desgraçar o país são eleitores, que votam tem  medo do gatilho, e mantém o coronelismo eterno no País. E um governo que um show de atraso e estupidez humana.


Manoel Messias Pereira
professor de história e cronista
São José do Rio Preto-SP. Brasil.


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