Refletir: 115 anos da morte de José do Patrocínio
Lembramos hoje que neste dia 29 de janeiro de 2020, estamos completando os (115) cento e quinze anos do falecimento de José Carlos do Patrocínio do escritor, jornalista, professor, farmacêutico, membro da Academia Brasileira de Letras criador da cadeira n.21, e cujo o patrono era Joaquim Serra, que para quem não sabe também era um jornalista, um professor, teatrólogo e politico de São Luís do Maranhão.
José do Patrocínio faleceu aos 51 anos de idade, quando discursava no Teatro Lírico numa homenagem a Santos Dumont, que havia iniciado a construção dum dirigível com o desejo de voar chamado o Santa Cruz, neste momento Patrocínio foi acometido de uma hemoptise que é o sintoma da tuberculose e que vitimou. Vale lembrar que a tuberculose foi considerada a doença do século XIX, e ele faleceu em 29 de janeiro de 1905, portanto no princípio do século XX.
A história de José do Patrocínio traz algumas considerações para os dias atuais de certa maneira importante, ele nasceu em Campos dos Goytacazes em 9 de outubro de 1853, é filho do padre João Carlos Monteiro, que era vigário da paroquia de Campos de Goytacazes, e orador sacro de reputação na Capela Imperial, e a mãe era uma jovem escrava de (15)quinze anos chamada Justina do Espirito Santo. E foi cedida a serviço do cônego por dona Emereciana Ribeiro do Espirito Santo, proprietária da região.
Esse episódio do pai ser o padre, e por sinal orador sacro de reputação, cabe uma reflexão, quando dizem dos padres pedófilos ou quando atribuíam que o padre fosse quase um santo. Mostra o ser humano, com suas vontades suas taras e na época as negrinhas era consideradas pessoas pronta para o sexo e isso nós podemos ver no texto "Preto no Branco; estudo dos problemas da raça no Brasil" de José Oliveira de Meira Penna, que vai narrar toda a questão da relação entre os negros e os senhores e como viam isso por um olhar da sedução e erotismo.
O padre não reconheceu a sua paternidade e levou o menino para a sua fazenda que mesmo liberto convivia com os outros escravizados e com rigorosos castigos. Aos quatorze anos Patrocínio termina a escola primária e recebe uma autorização para ir para o Rio de janeiro. E foi trabalhar como servente de pedreiro na Santa Casa de Misericórdia em 1868, tendo mais tarde indo trabalhar na Casa de Saúde do doutor Batista Santo. Quando passou a interessar em farmácia. E para isso retornou aos estudos no Externato João Pedro de Aquino, onde após isto vai estudar farmácia na Faculdade de Medicina, concluindo o curso em 1874. E como desfez-se da vida de estudante e precisando ter um local para morar, Patrocínio conta com a ajuda de um amigo do externato que é o jovem João Rodrigues Pacheco Vilanova, cujo o padrasto de sua mãe era o fazendeiro e capitão Emiliano Rosa Sena um rico proprietário de terras e imóveis. Que vai fornecer local para morar mas em pagamento José do Patrocínio vai trabalhar como professor de seus filhos. Foi nesta época que patrocínio começa a frequentar o clube republicano que funcionava na residência de Emiliano. E neste contexto conheceu Quintino Bocaiuva, Lopes Trovão, Pardal Mallet e outros.
E José do Patrocínio que viveu maior parte da vida no sistema monárquico, que tinha um carinho especial pela família real, inclusive no contexto da Abolição da escravatura foi ele, que ajoelhou, curvou-se para beijar as mãos da Princesa Isabel, num gesto submisso e agradecimento. Portanto com o clube republicano, acreditamos que passou a florescer a idealização de uma liberdade, que levou-o para o movimento abolicionista. Porém sem perder os laços monárquicos. E é interessante que ele morre no princípio da república portanto sem compreender as mudanças simbólicas do Brasil. E eu digo simbólica porque a elite governante passou é a mesma, nada mudou. Inclusive aqui nunca se preservou a ideia de ideologia, e sim de um poder. Tanto que a república no Brasil nasce pelas mãos dos monarquistas como Rui Barbosa e o próprio Marechal Deodoro, que inclusive não sabia o que era uma republica. No Brasil o Partido Liberal na monarquia nada tinha de liberal se entendes-me, se compararmos com os ideais liberais da Europa.
Outro momento interessante, o amor toma conta dos olhares, do coração e do cérebro de José do patrocínio quando ele resolve apaixonar por Maria Henriqueta, uma das filhas do militar capitão Emiliano Rosa Sena, que não gostou nada. Mas diante do amor correspondido de Maria Henrique, depois do casamento em 1879, o militar precisou socorrer Jose do Patrocínio, auxiliando talvez financeiramente.
José do Patrocínio estreou no jornalismo satírico, escrevendo com pseudônimo, em 1875 com o jornal Os ferrões, e teve 10 edições depois em 1877 foi admitido na Gazeta de Noticias como redator, encarregado da coluna semanário parlamentar, assinava com outro pseudônimo. E como jornalista foi conhecendo e formando um núcleo da chamada Sociedade Central Emancipadora, onde figurava pessoas como Joaquim Nabuco, João Clapp, Lopes Trovão, Paula Nei, Teodoro Fernando Sampaio, Ubaldino do Amaral.
E fundou juntamente com Joaquim Nabuco a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, em 1880. Com recursos de seu sogro adquiriu a Gazeta da Tarde e assumiu a direção. E passa a ter agora não apenas a missão de escrever mas de angariar fundos, para a emancipação de pessoas escravizadas, organizar fugas, organizar campanhas para alforriar negros, com a promoção de espetáculos vivos em teatros e manifestações em praça pública. Começa de fato o grande ativista.
Em 1882 Paula Nei convida para visitar a província do Ceará, onde foi recebido com um triunfo. E esse foi o Estado que primeiro aboliu a escravidão no Brasil em 1884.
Em 1885, ele visita Campos de Goytacazes terra que nascera, para auxiliar a sua mãe que já estava bastante cansada com o peso da idade que abatera sobre a sua vida e doente. E a sua progenitora falece exatamente neste mesmo ano. O sepultamento de sua mãe virou um ato político, que recebeu Rodolfo Dantas, Rui Barbosa, Campos Sales, Prudente de Morais. Vejam eram todos monarquistas, que quando veio a republica eram seres que assumiram os poderes, como ministros, como presidentes, como senador, por isso aqui não se guarda ideologia ou formas de governo. E sim o sistema econômico é o mesmo o capitalismo que se inventa o povo que trabalha e morre doente com isso e deixam as famílias da elite mais ricas e soberanas.
Em 1886 José do Patrocínio é eleito como vereador no Rio de Janeiro, com uma intensa votação. Em seguida passa a participar da maçonaria e juntamente com a sociedade contra a escravidão. E para isso creio que os ideais liberais passou a fazer sua consciência. Em 1887 abandonou a Gazeta da Tarde e funda a Cidade do Rio um periódico, que intensificou mais a sua militância. E foi neste jornal que ele saudou a senhora Princesa Isabel, pelo processo de Abolição da escravatura em 1888. e depois foi até ela ajoelhou, curvou-se e beijou as mãos.
Esse gesto apontou José Carlos do Patrocínio como um monarquista. E de forma simbólica assim que veio a republica entrou em confronto com o marechal Floriano Peixoto e acabou sendo detido e foi mandado para Cucuí no alto Rio Negro. Seu jornal foi suspenso. Ficou sem rendas. Depois disto foi morar em Inhaúma no subúrbio, foi apontado como mentor da guarda negra um grupo que agia contra os comícios republicanos.
Esteve como fundador da Academia Brasileira de Letras fundada em 20 de julho de 1897.Entre as suas obras merecem destaques Os ferrões de 1875, Mota coqueiro ou apenas de morte que é um romance, Os retirantes de 1879 que é outro romance em 1883 o Manifesto da confederação dos abolicionistas e em 1884 Pedro Espanhol. Após sua morte sua cadeira de numero21 foi sucedida por Mario Alencar.
Na minha opinião Jose do Patrocínio teve o seu papel enquanto ser humano enquanto ser pensante enquanto ativista, e teve uma contradição em sua vida que foi ter vivido tempos demais na monarquia, mesmo estando gestando em si o pensamento da revolta, da liberdade dos ideais republicano e seu gesto de curvar de beijar as mãos da princesa foi como um insulto. Aqueles republicanos que tinham antes de tê-lo como um amigo um negro. E traziam todos eles o ideário do branqueamento que sempre esteve presente na cultura brasileira. Sendo que aqui até hoje falamos do racismo estrutural. E creio que já é tempo de aprofundarmos neste tema. Por outro lado se ele foi o mentor da Guarda Negra, provavelmente foi. Porém o que precisamos compreender não é a diferença entre os ideais da monarquia e da república e sim, a luta de classe se dá entre explorados e exploradores. E neste contexto todos os ricos republicanos eram exploradores e muitos até escravocratas. Basta ver o ato politico que se formou em torno da morte da mãe dele. E se não bastasse isto na Universidade Federal do Ceará, li uma obra em que Marechal Deodoro e Rui Barbosa, disseram que arrependeram da república pois ambos eram monarquistas. E isto remete-me ao pensar de Joaquim Nabuco quando ele disse "não é possível exprimir senão lados do pensamento; o pensamento, em seu conjunto retira-se, mal percebe que o querem prender".
Manoel Messias Pereira
professor de história, cronista e poeta
São José do Rio Preto-SP
Academia de Letras do Brasil -ALB
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