Cronica - Meu tempo de Criança - Manoel Messias Pereira



Meu Tempo de Criança

Eu sempre sonho em voltar os tempos de criança em que descia a Rua Regente Feijó, para ir a escola. Passar por minha rua sem calçamento, torta e cheias de buracos causados pela enxurrada, onde essa água caia no rio Aterradinho antigamente o rio do Nicolau. E sei lá quem era esse cara, eu não sabia mas ninguém que perguntava também sabia. Coisa de São José do Rio Preto.

Eu sempre sonho passar na frente da casa daquele japonês, onde hoje é uma Creche da Prefeitura Municipal chamada cachinhos de Ouro, mas que antes foi uma creche espirita. O japonês que morava lá juro que não sei o nome até hoje, mas que plantava flores, juncos e verduras. Fazia um barraquinho traçado com taboas, um lago onde lavava as verduras. Com certeza comercializava.

Eu me lembro que ele fazia um espantalho engraçado, como um chapeuzinho que parecia de brincadeira de criança. Mas também lembro do cruzeirinho que existia na rua regente feijó. Onde hoje é a Escola Objetivo. Ah meu neto estuda lá. Naquele cruzeiro eu perguntava, diziam creio que mataram alguém por ai, mas tenho certeza que não sei quem morreu.

A minha escola ficava exatamente há 10 quarteirões de casa. Eu tinha que ir a pé, de sapato preto engraxado, camisa branca, e calça azul. Era o uniforme da época. Teve um moleque desgraçado chamado Tiririca, que chupava manga e que resolveu sujar a minha camisa com o caroço da fruta. Na escola lembro de uma professora chamada Marcia Mendonça, era uma mulher que tinha na cabeça um penteado que parecia um panetone, Um risada forte que parecia da personagem Maléfica e espirrava tão forte que o dois quarteirões inteiro ouvia-se. Bem isto porque naquele tempo não tinha esse barulho infernal de veiculo automotores, de funk nos carros. Mas o importante é que ela enviou para minha mãe um bilhete, seu filho veio à escola com a camisa suja, e tinha o sapato empoeirado.

Minha mãe leu e veio conversar comigo. Eu disse:

- mãe a senhora quer resolver pega uma foice e corta a mão do Tiririca. Ela não vai sujar mais minha camisa. Outro fator era que aquele desgraçadinho tinha um monte de amigo que parecia a turma da Zona Norte, do gibi do bolinha, era os maus exemplos, rico e filho da puta. Quanto o empoeiramento do meu sapato desculpe-me eu ainda ando não voo e nem sou passarinho. Adoro aquela professora, mas ela está passando do limite.

E ela falou ah! tá bom, eu tenho coisa muito mais importante para resolver. Foi rezar e firmar os seus pontos no chão de casa. 

Eu respondi, Arerê minha mãe. Ela falou vai brincar. E eu fui brincar de escrever tudo o que tinha observado no dia a dia. Todas as loucuras quotidianas,  de  meus tios, meus amigos, e depois ria sozinho.

Engraçado que nunca ninguém sabia nada. Eu perguntava do rio porque tinha o nome de Nicolau e não tinha resposta aos 16 anos eu escrevi uma carta para o jornal falando do rio Aterradinho. Até hoje falam do Córrego Aterradinho, e o Córrego do Nicolau está sepultado.

 A última pessoa que poderia falar sore isto comigo era a dona Nilce Lodi uma historiadora que escrevia no Diário da Região, mas a última noticia é que ela havia afastado e estava muito doente.

Quanto o japonês que plantava flores verdura e junco, não sei mudou-se a casa foi demolido e surgiu a creche. Os juncos tem na sua raiz uma batatinha, tomei com vinho branco aquele de laranja. É uma delicia.

Quem morreu para ter a igrejinha e o cruzeiro nunca soube. Só sei que surgiu uma escola que é uma franquia vinda não sei de onde. E creio que nem um aluno faz ideia dos valores antropológicos do lugar e muito menos as professoras. Geralmente vejo professor da escola particular como robôs que ditam cartilhas pré estabelecida por um sistema de ensino. Escolinha mecanizadas. São expressões minhas desculpas se vão contra a que outras pessoas pensam.

Ah! onde está instalada a escola era a SANBRA-Sociedade Algodoeira do Noroeste Brasileiro, era mais ou menos assim o nome era o único local que tinha telefone. E nós do bairro vizinho ia lá pedir para fazer algumas ligações como de ambulância ou coisa assim. Tempos que o povo já esqueceu. Pois creio que ninguém sabe nada porque tem o dom  do esquecimento como primeira ordem. E nisto não sabe nada que perguntamos, e isto recordo desde criança.

Hoje não sabem nada de politica, nada de religião, nada de antropologia, nada de sociologia, nada de jornalismo. e sabe outro dia antes das eleições de 2018, numa banca de revista, que é algo que futuramente deve acabar, o jornaleiro dizia que votaria no Bolsonaro e disse mas ele não é fascista/nazista, e ele disse mais isto não é bom.

Eu olhei pro jornaleiro e dei um leve sorriso desconfiado  e pensei deve ser bom pra ele fazer um campo de concentração e por você lá pra morrer na câmara de gaz, idiota.

Manoel Messias Pereira

professor, cronista, e poeta
São José do Rio Preto-SP





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