Crônica - A saga do esquecimento - Manoel Messias Pereira



A Saga do Esquecimento 

A Democracia para mudar. Esse foi o primeiro livro que recebi das mãos do professor Fernando Henrique Cardos e ainda tenho autografado numa escrita que é quase um rabisco, dedicado "para Manuel" e assina. Esse livro na verdade contem as 30 horas de entrevista que ele deu em 1978. Porém quando chegou a Presidência da República, que no Brasil é o cargo executivo máximo ele deixou um recado em que dizia para esquecer tudo aquilo que ele escreveu.
Neste livro logo na capa ele menciona ser o filho do General Leonidas, uma pessoa que chefiou a famosa passeata das panelas vazia, e foi nisto que talvez tenha o levado para a vida pública. Lembrando que a vida pública e acadêmica caminharam para ele juntas, e por isto ele se meteu em defesa da escola pública. Mas  há um fragmento  na sua página 11 em que ele disse que pertenceu a uma geração que sabe os custos das palavras uma geração de resistência e cita o MDB que era o Partido da qual estava filiado.

Fala dos companheiros dos amigos que tiveram que exilar-se, e mostra que o Partido naquele momento era um guarda chuva para abrigar-se. Diz que os perseguidos são nossos. E diz que estão abrigados no partidos famílias que viveram a agonia de  quem sabe e do talvez, na busca de seus entes mais queridos.

Antes de nós companheiros nossos ideais democráticos legaram a nós o protesto mudo de seus corpos.

E é neste momento que passo a refletir sobre a figura da menina Lourdes Maria Wanderley Pontes que também usava o nome de Luciana Ribeiro Silva. Uma simples estudante. Lembro de Valdir Sales Saboia um ex soldado da policia da Guanabara, Fernando Augusto da Fonseca um ex bancário e estudante de economia da UFRJ, de Jorge Silton Pinheiro estudante do ateneu riograndense, José bartolomeu Rodrigues de Souza e Getúlio de Oliveira Cabral, todos jovens, todos sonhadores, todos militantes políticos e membros do Partido comunista Brasileiro revolucionários -PCBR. Todos foram presos e assassinados coletivamente pelo CODI do Rio de Janeiro e depois tiveram seus corpos incendiaram isto num final de ano 29 de dezembro de 1972. 

Que final de ano foi esse para seus pais, parentes, que final de ano foi para a escola que estudavam. É um período em que o Estado Brasileiro ao assassinar as pessoas jovens por ser militantes cometiam a mais desastrada desgraça, ou falha de governo. Pois o assassinato precisa ser repudiado. pois a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tem em um dos seus artigos o Direito a vida. O que é essencial para a existência humana.

O que esperava do governo de Fernando Henrique Cardoso era que ele começava a lembrar da escola Pública como ele escreveu em 1978. Que ele realmente recolhesse todos os fragmentos da existência de todos os brasileiros, e desse um olhar de socorro de respeito, de dignidade a essas famílias desoladas pela violência do Estado. Mas ele apenas pediu para esquecer tudo aquilo que ele escreveu.

O Movimento Democrático brasileiro, cresceu dividiu-se teve uma outra perna um outro braço surgiu o Partido da Social Democracia Brasileira, que me fez apenas  lembrar que social democracia pelo que sei se dividiu em três grupos distintos durante a Segunda Internacional Socialista. Portanto era em tese no passado um fruto que nascera no ninho da classe trabalhadora, mas que teve os revisionistas de dirigidos por Ernest Bernestein, que discordava  das ideias dos marxistas. E nisto é que enquadra essa social democracia. 

Outro grupos sociais democratas eram os moderados, liderados por Karl Kaustsky, que discordava dos revisionistas e que acabaram defendendo as teses de Karl Marx e Friedrich Engels e por fim o grupo dos chamados radicais ou revolucionários. Que chamamos hoje carinhosamente dos pensadores comunistas, como Rosa de Luxemburgo, Lênin.

E é breve lembrança que os socialistas no final da Segundo Internacional em 1914, portanto no principio da chamada guerra imperialista intitulada de Primeira Grande Guerra, que este evento ocorreria para a expansão do capitalismo e que os socialistas não dariam apoio alguns aos governos.

Sabemos que o papel do Estado no período ditatorial foi nefasto. Acreditaria que não deveria ser no governo que se dizia democrático nos marcos óbvio da democracia burguesa. Sem maiores desejos, mas que fosse apurados os crimes da ditadura e punidos quem de direitos. E esse abrigo que o famigerado MDB, dizia ter dado pudesse de fato ser concreto. Mas não foi e sim apenas um foi abstrato. Uma desconversa. E o PSDB um escamoteamento social de quem não sabia de nada. E o próprio Fernando que escreveu Democracia para mudar pedia para esquecer o que estava escrito. Show deprimente.

A história não tem uma máquina do tempo que volta atrás, que refaz as angustias causadas, não tem. Vimos surgir neste 2018 uma extrema direita, no Brasil e que precisa ser contida em relação ao incentivo a violência, a morte de lideranças indígenas, a juventude negra, aos homossexuais em todas as suas extensões LGBT, a violência contra mulher e o assassinato delas, a ideia de uma raça superior a outra, ao processo de desigualdade que vem crescendo naturalizado. Esse 2019, conseguiram acabar com os direitos trabalhistas, e temos desempregados e pessoas trabalhando em empregos precários, seus direitos conquistados no passados viraram pó. Seus direitos previdenciários estão esculhambados. Mas o atual governo de Jair Bolsonário vai na contra mão destas medidas de conter a violência.

E uma onde de falar contra a esquerda, contra o socialismo. Sem que nunca ter uma experiência socialista no Brasil.Pois o socialismo deve conter os seguintes princípios: 1) superação dos meios de produção enquanto propriedade privada e isto não ocorreu nunca no país. 2)superação do regime de produção de mercadoria e enfraquecimento do dinheiro, isto também nunca ocorreu. 3)abolição da troca (e da propriedade privada), do consumo de mercadoria, pelo menos dentro das comunas, isto também nunca existiu. 4)Controle dos produtores sobre o produto de seu trabalho e sobre as relações de trabalho, as quais incluem, entre outras coisas, o poder imediato de dispor (ter acesso direto) sobre os meios de produção e o consumo da mercadoria. 5) O poder dos indivíduos sobre si mesmos, seu relacionamento mútuo, o que entre outras coisas, exclui como não necessário o aparelho repressivo à sociedade .

É isso nunca existiu. Porém a campanha politica não se discutia mais politica. Os mediadores televisivos no Brasil, eram só controladores de fala e desconexa da realidade. E os candidatos o despreparo em si. 

Em nome de todos aqueles que sofrem com os desmandos brasileiros em termos governativos e que ainda hoje estão sofrendo angustiados sem empregos sem direitos ou lembrando de que esse país poderia ter trilhados por outros caminhos mais aprazível. Em nome das famílias, da Lourdes Maria do Valdir Sales, do Fernando Augusto, do Jorge Silton, do Jose Bartolomeu Rodrigues do Getúlio de Oliveira Cabral todos sonhadores e de outros anônimos em que a família reza e chora todos os dias. Vi que o livro democracia para mudar que recebi do então professor, que um dia tornou-se senador e depois presidente. Continua aqui na minha mesa embora ele mesmo pediu para esquecer tudo que escreveu. Que pena.

Manoel Messias Pereira

professor, poeta e cronista
São José do Rio Preto-SP. Brasil


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