Crônica - O Natal - Manoel Messias Pereira



O Natal

Hoje é a véspera do Natal. A data magna da Cristandade. Pois os católicos passaram a comemorar o dia de Nascimento de Jesus Cristo a meia noite do dia 25 de dezembro.

Não há quem não tenha uma lembrança nesta noite, as vezes triste outras vezes alegre. Porém sabemos que toda  história de Natal tem um nó em nossa garganta. Tem um elo de tristeza, que aparece, até porque vivemos no estágio do capitalismo, que é o sistema politico econômico fincado na competitividade, onde temos uns poucos que aventuram e destacam-se por saber explorar o seu próximo melhor e ficam bem financeira e economicamente, porém a grande maioria ficam na ilusão de um dia ser contemplado. 

A melhor lembrança que tenho era da residência de minha bisavó dona Gertrudes, quando tinha apenas 4 ou 5 anos. Recordo que vinha todos os parentes e traziam instrumentos e ficavam tocando na sala, ela preparava uns bolinhos e chás. Além de um licorzinho que continha álcool, portanto  nós que éramos criança, como eu e meus primos não tomávamos.

Recordo que a letra da canção tinha um verso que dizia "cristo nasceu em Belém para todo o nosso bem, para todo o nosso bem Cristo nasceu em Belém", havia um dueto de flautas doces e pífanos, acompanhados com rabecas e violinos, pois via os instrumentos muito parecidos e meu pai tocava a caixa de repique enquanto outros tocavam um tambor, que fazia a marcação. As vezes tinham alguns que tocavam viola ou violão.

Geralmente organizavam aquela noite após rezar o terço, que sempre via uma repetição da Ave Maria, e achavam isto engraçado, pois comigo eu pensava. Pô sera que Maria, Jesus, não observam que essa lenga lenga esta se repetindo até encher o saco de Deus? Mas nunca disse nada as vezes dava um leve sorriso.

Porém antes de terminar a noite íamos dormir. Pois havia aquela bobagem de que o Papai Noel, traria um presente pra gente na noite de Natal. Geralmente não recebia nada e aprendi desde cedo que essa era uma ilusão dos adultos para fazer com que as crianças pudesse comportar. E eu já era comportado, mas sabia que meus pais nunca tinham dinheiro.

Outro momento era o almoço agora na minha avó dona Ana, ela preparava aquele macarrão com frango picado e molho de tomate e sempre lembrava que era dia de tomar o refrigerante Coca Cola.E logo chegava o tio Eugênio que trazia um garrafão de vinho e vinha para todos tirar fotografia, depois ia embora bêbado vomitando aquele vinho com o almoço. 

Outro fato que sempre faz recordar o Natal era o fato de ter chuva neste dia. Parece que sempre chovia mas eu ficava observando os presépios que sempre indicam que no Natal tem frio e tem neve. Sinto que há uma confusão entre a figura do papai noel e de Jesus Cristo.

Porém mais tarde venho a descobrir que a data do Natal, se buscarmos nos evangelhos nada dizem sobre o mês e o dia do nascimento de Jesus Cristo. E no livro de Ambrógio Donini intitulado "O Cristianismo" lançado pela editora Edições 70, consta que a data de 753-754 para a fundação de Roma que se tornou assim o ano I de nossa era foi apenas fixada na primeira metade do século VI, no tempo de Justiniano por obra de um monge, cita Dionísio , o Pequeno, que se baseou nos cálculos imaginários, tirados do Evangelho de Lucas . Se se aceita ao contrario do que nos conta Matheus que situa o nascimento de Cristo nos tempos de Herodes (II,I), deve recuar-se pelo menos 5 (cinco) ou 6 (seis) anos, pois Herodes morreu a 4 a. C e este é um dado seguro. Porém todos que contam a história de Jesus fixam-se no campo da fé um pouco diferente da orem cronológica.

Os primeiros padres da Igreja mostravam-se indecisos. Até o início do Século IV, tinham proposto o Natal para as datas de 25 a 28 de março e 2 a 19 de abril, este último mais provável por Clemente de Alexandria. E por vezes 29 de maio. No entanto a cena descrita no evangelho de Lucas com os pastores que passavam a noite ao relento para guardar os rebanhos (II,6) fazia pensar mais na Primavera do que no inverno.

A escolha de 25 de dezembro remota à época de Constantino e está relacionada com a velha teologia solar. É que no calendário romano coincidia como soltíscio do Inverno , era desde muito tempo comemorado no Oriente e no Mediterrâneo como data de nascimento do Sol, um divindade difundida identificada como Mitra. Desta forma a igreja não teve dificuldade em fazer a sua solenidade, extremamente popular, visto os apologistas apresentar Jesus como o verdadeiro e único sol da salvação.

Uma outra tradição, de origem não menos antiga, considerava que o dia da revelação ou epifania, do deus solar era o 6 de janeiro desta forma esta data fica ligada à natividade de Jesus em algumas igrejas cristãs como a egípcia, a armênia e ainda a ortodoxa. Diga-se e passagem cristianismo católico.

Hoje estava dialogando com um amigo quando ouvi uma bandinha que tocava a música de Assis Valente. A bandinha tocava em ritmo de carnaval, bem alegre quando atentamos para a letra e de uma tristeza sem tamanho. E o próprio Assis Valente que sofria de depressão suicidou-se, porém todo o ano escuto suas músicas e num silêncio profundo tenho vontade de chorar, principalmente no trecho que disse "Eu pensei que todo mundo fosse filho de papai Noel...", mas pelo visto não é. E o Natal tem um profundo significado capitalista. Pois é quando todos recebem o 13 salário, e pode fazer a economia girar, consumindo no comércio.

E essa data sempre traz em todos uma lembrança.O bom que todos podem dar os cumprimentos ao seu próximo desejando muitas felicidades e isto é o que conta.


Manoel Messias Pereira

professor, poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto-SP/Uberaba-MG

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