A Cortina de ferro latino americana
Hoje vejo que muitas pessoas no Brasil, falam temas como a democracia em perigo, falam tema como o autoritarismo em nosso país, ou o fascismo brasileiro, e coisas assim. Porém recordo a todos que no Jornal da USP, a 27 (vinte e sete anos) li um artigo que dizia que o "totalitarismo, uma tradição na América". E que o conceito de democracia não é feita para os latinos e abriu a porta do continente para as ditaduras.
E vi neste artigo uma imprecisão, primeiro ao falar de latinos, refere-se aos países de fala, italiana, francesa, portuguesa e espanhola, que são as línguas que originaram do latim, e por ser um jornal de Universidade precisaria ter de princípio esse cuidado. Porém quando fala do continente refere-se apenas ao Continente americano, que foram colonizados por povos de língua latina, em grande parte, por exemplo o espanhol, o português, o francês.
Porém esse assunto publicado no Jornal semanal da USP, página 8, datado de 24 a 30 de agosto 1992, e é fruto de uma mesa redonda do congresso "América 92: raízes e trajetorias". Através do cientista social e ensaísta Oliveira Viana, Maria Stella Bresciani, da Unicamp, que fizeram um apanhado da origem da linguagem totalitária da América Latina.
E mostra que as ideias politicas chegaram ao Brasil, desde 1870 e eram tidas como exóticas e importadas. O pensamento positivista "Ordem e Progresso", cria o ideário da ditadura. E a tradição brasileira ditatorial vem do positivismo, disse Sra. Maria Stella Bresciani. Como o Brasil era uma mistura de pensamentos, o ditador seria a única saída. aos poucos foram sendo absorvida ideias europeias que se colocavam contra o liberal. "Já existe uma ideia ditatorial arraigada aqui no Brasil, afirma Maria Stella.
As massas são vistas como irracionais, crentes de líderes. O comportamento do homem em multidão passa a ser objecto de estudos da ciência. Médicos , juristas se interessam. O próprio Freud contribui.Acreditava-se que as multidões erm só de pobres. Na prática o contrário era constatado. Não era só o pobre. Porém sempre foi pensado que o pobre era um incapaz. Mas o rico também começa a ir para as multidões, a questão é retomada. E a conclusão é que qualquer homem em multidão se torna irracional, deixando levar-se pela imagem sem nenhuma articulação racional.
Porém Maria Stella, alerta que essa preocupação fazia parte do pensamento científico internacional. Havia um anacronismo das análises que propunham a importação das ideias no momento em que elas eram universais.
Para Oliveira Viana o paradoxo se estabelece: as instituições políticas são nacionais , mas o pensamento universal.
E completa se existe pensamento universal, falta solidariedade de nacional, braileira. Sentimento de solidariedade: não temos isto, afirma stella. O solidarismo foi outro ismo francês. Stella explica a noção está fora de qualquer forma de política. E uma questão de sobrevivência, manutenção da espécie humana. Mesmo o pouco foi trazido de Portugal se perdeu. Não existe solidariedade no Brasil. E explica que a relação entre brasileiros se dá em nível de dependência. Enquanto a solidariedade acontece entre os iguais, no Brasil não temos os iguais. Stella explica que é o superior e seus subordinados.
Sem solidariedade não há politica solidária. É impossível termos aqui formas políticas que nasçam da solidariedade, concluiu. E o restante do texto são comparações que faziam invocando outras histórias que não a brasileira, como a Alemanha, a Argentina, o nazismo, o anti semitismo. Porém o que foi falado sobre o Brasil está expresso neste artigo em que pude retirar do texto.
Acho que esses apontamentos talvez não responde todas as dúvidas, e até porque há outros pontos de vistas, que necessita ser analisados também com cautela que toda a ciência social exige, pois não é uma ciência exata e sim social. E a sociedade é influenciada por pensamentos, e nele ocorre mudanças, ideológicas, comportamentais, mas o que vemos é a experiência brasileira, sempre as voltas com a ditadura, e uma forma de pensar alicerçada numa extrema direita, se levarmos em conta o Brasil e os períodos como de Getúlio, de Dutra, depois de Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastuzu Medici, Ernesto Geisel, João Figueiredo. São momentos de chumbo vividos pelo País. Inclusive, inexplicável quando há elementos históricos que até hoje ficam nebulosos e sem explicação por exemplo não há um estudo que mostra por exemplo o acidente que matou o presidente Castelo Branco, ou seja os envolvidos e como ocorreu. Nem mesmo a evolução da trombose cerebral de Costa e Silva e nem mesmo a evolução da mão de Getúlio puxando um gatilho mas que não dava para atingi-lo uma vez que a trajetória da bala mostra-se havia um provável assassinato. Mas nenhuma universidade vai patrocinar um estudo deste. E assim mantemos uma cortina de ferro sem abertura.
E agora em 2019, já podemos ver que ganha o poder no Brasil um presidente, Bolsonário que mantém um discurso bronco, estúpido, muito parecido com de João Figueredo, porém bem piorado do ponto de vista moral e intelectual. E um olhar ditatorial sobre todas as coisas simples acreditando que a democracia é coisa da esquerda e que os direitos humanos é coisa dos comunistas. Com isto reforça -se o pensar estabelecido no Jornal de que democracia no é um conceito para latinos americanos. Diga-se de passagem a minha discordância do uso da palavra latinos somente para evocar a América. Pois a história revela que Lácio, de onde surgiu os povos latinos está localizado na Europa. E a Universidade precisa fazer o uso da palavra com propriedade e não com o desdenho do desconforto de fora da Academia.
Manoel Messias Pereira
professor de história
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto -SP. Brasil
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