Cronica - Imbá - Edvaldo Giacomelli

Imbá



Acordo, é o telefone. Tão cedo! O que desconfiei se tornou real. Não era boa notícia. Amigos estão partindo de perto da gente, fisicamente. Adentrando campos que só imaginamos. Perto de Deus, ao lado dos anjos. Fica uma sensação de vazio; ao fundo o eco da risada feliz pelo amor que o amigo decretava à vida. Depositado no cofre da memória. Imbá, nosso afável José Afonso, lutou com persistência e dignidade para sarar da enfermidade do corpo.



 Desígnios divinos, incontestáveis, o levaram para junto do Pai. Pouco tempo atrás aconteceu o mesmo a Roberto Bittar. E Aldair Aquino. Amigos declamadores, que emprestaram voz às almas das escrituras de poetas e contadores de causos escritos. Fico imaginando os saraus que formarão, nos abraços fraternos, na recepção. Dói perdê-los, amigos. Irmãos de luta, cabeças de artistas, encéfalos entusiastas! Sei que é uma perda momentânea, pois o tempo se trata de frações infinitas na complexidade da vida. Esta atemporalidade da alma, que flui no ecossistema da existência.



 A continuidade das ações se multiplica em potencialidades imponderáveis diante da compreensão dos enigmas lógicos do que transcende a humanidade. Faz parte da vida a perda. Não há como fugir desse estágio. Torna-se acúmulo de ausências não queridas. Só que é real. Incorporamos esta realidade de forma aflitiva, relutando na aceitação. Talvez no erro de indução. Porque há de existir a preparação diária do distanciamento físico na agenda divina. O bem que dividimos e o bom que implantamos prevalecerá. As risadas que compartilhamos e as lágrimas que compusemos deixarão cifras de melodiosas canções de companheirismo.



 Não se conhece alguém por simples disparo de sirene. Não se aprende a amar alguém por mera coincidência de detalhes. Muito mais elementos estão presentes. Ternura e tolerância, olhar com os olhos do outro, sentir-se no sentimento alheio, interpretar vontades que não temos, visualizar sonhos lúcidos. Amigos que somos, causa-nos cicatrizes que denotam separação. Física que seja, mas aparte de pensamentos límpidos que se encontram em sintonia. Desligo o telefone. A notícia foi absorvida. Entendo que Deus assim quis. Fui fazer a última despedida terrena.



Edvaldo Giacomelli
poeta e cronista


Academia de Letras do Brasil -ALB

São José do Rio Preto -SP.
Texto publicado no Diário da região.


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