Crônica - Confissão da Serenidade - Manoel Messias Pereira


Confissão da Serenidade

As vezes temos a sensação de que temos uma certa tranquilidade por ter uma casa, por ter uma família, por ter filhos, por ter uma horta, por ter um jardim, dois cachorros de estimação e uma tartaruga. E a mulher ter uma bíblia sobre o criado mudo. E falar que Jesus vai voltar de forma displicente, pregacionista, sem nenhuma preocupação maior em relação as condições materiais da vida.

Ah como fico triste  com essas pessoas que se entregam na ilusão de uma leitura, esperando que o céu vá se abrir e que a solução será num repente na vinda do Messias. E fico triste pois sei que isto é parte de uma miserabilidade intelectual. As pessoas parece que apoderou-se de um conceito que remonta a antiguidade, e se refaz nas palavras de Lao Tsé (604 a 517), como instruir o povo é enfraquecer o governo ou esvaziais a cabeça e enchei os ventre .

E essa tristeza as vezes passo adiante para o meu próximo. A minha preocupação é para que as pessoas possam instruir-se e entender que vivemos num mundo ilusório e que as nossas bandeiras de cada dia é instrumentalizada, por um conjunto ideológico poderoso na qual há ideologia de que  não temos que contestar. E sim calar e aguardar a conformidade do que é divino. E isto a grande massa segue, porém há uma pequena parte intelectual, que continua a pregar isto, talvez instruída ou não pelos detentores de um poder, político, económico, social.

Esse é o desencanto que encomoda-me, e que permite-me, tentar sair de uma zona de conforto, que na verdade sinto-me como uma zona de incomodo em que há pessoa que está ao meu lado, mas não tem a capacidade de perceber isto. E não adianta exemplificar, ou falar, pois o grau de embrutecimento alimentada pela teoria da ignorância segue as raias do absurdo que enquanto falo ela não raciocina.

E assim vivo a intensa contradição do sistema, penso que não concordo com essa pobreza, que é fruto desenfreado da ideias de que o ser individual precisa ter a sua alta estima o seu protagonismo e construir um outro mundo de valores alimentados por um eterno consumismo. Mas ciente estou que nesta sociedade de competição há quem fica para traz é esquecido pelo sistema, é queimado pelo sistema ou abandonado pela exclusão.

O ser humano na exclusão social, perde a sua identidade social de consumo, mas fica presente , como papel descartado na rua, como o toco de cigarro jogado no chão, como fogo que se coloca em lixeira, ou seja a sociedade capitalista oferece um enorme desprezo. E com isto eu não posso concordar.

E muitas vezes esse pobre esse excluído acaba sendo contaminado pela ideologia plantado pela elite capitalista que ela é culpada por sua própria desgraça, ou que faltou o amparo do céu, de Deus, faltou fazer as cosias, que vem das religiões. E é nessa crença que muitos acreditam, e passa a condenar, as pessoas que mantém a indução ao estudos das causas politicas e económicas por um olhar  que mexe com as raízes dos problemas. E sobre isto  temos estudos económicos de Karl Marx, que nos mostra todas as teorias dos lucros onde e quem é lubridiado no contexto de  exploração do homem pelo homem ou de nação por outra nação.

E essa é preocupação que permite-me eu dizer que a casa está caindo no sentido figurado e não podemos esperar que a lage da construção esmague as nossas cabeças temos que sair a buscar um refugio seguro. E que permitem todos nós a organizar-se, de forma cooperativa, de forma solidária, esperando que as lágrimas do outro possa ser enxugada pelo ato de socorrer, no contexto do convívio social. E para tanto penso que temos que juntar nossas famílias, nossas amizades e compartilhar esperanças. Retomando uma construção de amor. Embora diante, e no meio de todos os desencontros desta grande multidão em solidão.

Dai a ilusão da tranquilidade, por ter uma casa, uma família, uma horta, um jardim dois cachorros e uma tartaruga e uma bíblia sob a cômoda ou criado mudo da esposa. é triste. Quase que  o angustiante  e ainda mais quando fico observando a esposa com os olhos votado no céu acreditando na vota do Jesus, esquecendo quase que o nosso tempo e o nosso espaço é direcionado e limitado pelo capital. É o quadro é melancólico imensamente, mas temos que nos proteger.


Manoel Messias Pereira

professor de história, poeta e cronista
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto-SP. Brasil


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