Cronica - Movimento negro e a busca da eficácia de suas pautas - Manoel Messias Pereira


Movimento negro e a busca da eficácia de suas pautas

Movimento Negro é toda luta que a comunidade afro-descendentes no Brasil, tens para organizar a sua pauta de reivindicação, de direitos, de liberdade de expressão, de trabalhos culturais, direito da mulher, de luta contra o preconceitos e o processo discriminatório, de liberdade religiosa, de afirmação cultural, contra a intolerância religiosa, de busca educacional e pelo direito de estudar em todos os níveis assim como na manutenção da vida e contra a violência empregada pelos serviços de segurança do próprio Estado, na busca do stricto cumprimento da lei estabelecida no país,e tão desrespeitadas inclusive por autoridades policiais e judiciária. Na luta das terras quilombolas.  E na leitura de desrespeito social e racial é que  este é um painel de questões que são tratados por diferentes segmentos da comunidade afro brasileira.

Embora a legislação constitucional brasileira, no seu Artigo 5, afirma que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, a liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos da lei.Temos a lei assim estabelecida como garantias quase de forma ideologicamente positivista como se não houvesse entre o sistema politico social em que vivemos ou seja no capitalismo a chamada luta de classe. Porém ela existe e daí as contradições e a defesa que o próprio Movimento Negro faz de suas pautas de reivindicações.

O processo na república brasileira tem uma fase inicial que vai de 1889 a 1937, quando os ex-escravos e seus descendentes, começam a organizar-se e surgem inúmeras entidades de cunho social, cultural, assim como o Club 13 de maio de Hmens Pretos de 1902, como o Centro Literário dos Homens de Cor de 1915, o Centro Henrique dias de 1908 e muitos outros sendo que no Estado de São Paulo foi criada 123associação de negros entre 1907 e 1937 e amais antiga entidade do Estado, no perído da república foi o Club 28 de setembro de 1897. Portanto criado pouco tempo depois  da Lei Áurea. Entre as Cias de teatro vamos encontrar o Grupo dramático e recreativo Kosmos e o Centro Cívico Palmares de 1908 e 1926. Portanto essas entidades tinham um perfil, assistencialistas, recreativas e culturais.

Num trabalho escrito pela professora Ana Loner vamos encontrar associações estritamente de mulheres negras como a sociedade Brinco da Princesa de 1925.

Se fomos observar os levantamento feitos pelo jornalista negro José Correia Leite, ele chegou a afirmar que a comunidade negra tinha a necessidade de uma imprensa alternativa que transmitisse informações que não havia em outras partes. E entre os jornais que ficou mais conhecidos  temos Òrgão dos Homens de Cor, O Combate de 1912, A Pátria de 1899, O Menelink de 1918, O Baluarte de 1903, o Getulino de 1924, e o Clarim da Alvorada que foi dirigido por José Correia leite e Jayme Aguiar de 1924.

Em 1931 surgiu em São Paulo a Frente negra Brasileira, sucessora do centro Cívico Palmares de 1926. Que teve a sua importância teve inicio de um pensamento estruturado até mesmo em correntes politicas que impossibilitaria o movimento de ter a sua plena liberdade.

Na cidade de São José do Rio Preto-SP, fundada em 1852, portanto uma cidade com um olhar quase republicano, os donos de seres escravizados mesmo com 1888 e o diploma legal do fim da escravatura, levaram o processo de escravidão ainda além desta data, conforme publicações histórica do diário da região. E aqui o primeiro movimento afro recreativo marca a data de 1925 como a União faz a força. Se observamos atentamente o livro de Aristides dos Santos vemos ainda Grêmios literários e recreativo, e até o a sociedade Ponte Preta, que era um time de futebol. Além disto os blocos escolas de sambas que movimentavam o ano todo para fazer o carnaval como o Cruzeiro do Sul, Clarão Verde, que dá origem mais tarde ao Gato Verde, ao Céu Azul, ao Grisi, ao Grupo X. A um famoso baile da comunidade, em que teve até mesmo a presença de um presidente e diretoria do Corinthians Esporte Club. E somente por vota de 1964 Surge a Recreativa e mais tarde 1979 a Fusocaab.

Porém com o trabalho de Roger Bastides e Florestan Fernandes, considerado por todos os paulistas como o pai sociologia nesse trabalho que foi realizado para a Unesco, vimos ali um aprofundamento da questão racial em São Paulo feito com esmero de um grande pesquisador como diria Fernando Henrique Cardoso. Eram os homens de aventais brancos que dedicavam plenamente aos estudos. E com Floresta Fernandes e seu trabalho do Negro no Mundo dos Brancos, podemos chegar a compreender que ele além da questão de raça trazia um outro componente a classe social. Com isso nasce o Movimento Negro que segue a linha raça e classe.

Hoje  observo que alguns dos partidos ditos de esquerdas no Brasil organizam seus movimentos em coletivos, e na sua maioria tens essa linha que é alicerçada no contexto marxista. Portanto no que entendemos de Movimento Negro classista, podemos observar que esses movimentos são na sua maioria anti-racista, anti capitalista e, anti imperialistas. E nessa linha temos Movimentos como do Coletivo Minervino de Oliveira, que já está organizado em quase todo o Brasil.

Nisto podemos dizer que entre os movimentos negros há uma costura interna sobre esse bordado. Os classistas defedem a luta anti-racista aliado a classe social. Já que para uns a questão é somente racial. Porém é classista. Pois no sistema capitalista em que vivemos é comum o uso  do racismo, do preconceito e ate do processo discriminatório para impor-se, sub-julgando uma classe sobre a outra. E Florestan Fernandes sempre vai estabelecer que a ideia de classe/raça é fundamental para a luta eficaz do movimento negro. Em relação ao imperialismo, embora não podemos compactuar ou aceitar a exploração de um ser sobre o outro na linha da degradação humana. Não podemos também de aceitar uma nação sobrepor a outra, na degradação da vida das pessoas, na exploração do trabalho forçado, na imposição religiosa ou na imposição do força bélica, ou experiências científicas no uso de venenos que tantas vidas já roubaram sob a ótica de uma falsa humanidade. Pois enquanto alimenta-se um imperialismo, criamos nações dependente, sub-julgadas, com fantoches como autoridades, que se vende ao país imperialista.

Esses estudos contrapõe a ideia da chamada democracia racial de Gilberto Freire, uma democracia em que a participação do negro era sub-julgada no seu silencio, enquanto o dono da casa grande podia surrá-lo, podia estuprá-lo, podia mutila-lo. Podia vende-lo, uma harmonia construída sobre uma mentira. Ou sobre uma verdade inventada inexplicável.

Sei que trabalhar o elemento classe e raça é ter em mãos um componente explosivo socialmente e revolucionário. E por isto deve estar simbolicamente juntos, nos tratos com a coletividade afro -brasileira. Que hoje tens na sua pauta de reivindicações, o fim da matanças de jovens negros por forças de segurança do próprio Estado, que tens na sua pauta de reivindicações a luta contra a intolerância religiosa que agem com violência extremada sobre os cultos de matrizes africanas, que deseja o fim do racismo estrutural, e gostaria muito que delegados, promotores e juízes tivessem atentos a lei e não fora delas como é  a práxis no Brasil. Que os estudos em todos os níveis e em todas as áreas fossem plenamente garantidos a todos os brasileiros independente de sua cor raça ou condição social, que as mulheres afro possam ser respeitadas como seres humanos pensantes, seres filosóficos e não como objetos sexuais, que as terras quilombolas sejam respeitadas no seu contexto social, ou seja respeito é bom e as pessoas gostam disto. Que todos possam ter direito ao trabalho, a liberdade individual e coletiva. Mas sabemos que que os tratamentos aos seres humanos de uma elite e da classe popular é deferente. E essa diferença é exatamente pelo olhar da indiferença de quem é elite, de quem tens os poderes constituídos nas mãos de quem sempre julgou, explorou e desrespeito o seu próximo. E esqueceu inclusive a celebre frase de Jesus Cristo "Ame o seu próximo como a ti mesmo e tenhas Deus sobre todas as coisas"., ou na ânsia capitalista a frase "é mais fácil passar um camelo no buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino do céu". E a exploração capitalista só tens um viés ter lucro e que se dane o outro no caso o negro aquele que ganha menos e tens maiores obstáculos para viver neste sistema.


Manoel Messias Pereira

professor, poeta e cronista
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto-SP.





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