Artigo - Os cinquenta anos do assassinato do Padre Antonio Henrique Pereira Neto - Manoel Messias Pereira


Os cinquenta anos do assassinato do Padre Antonio Henrique Pereira Neto

Há cinquenta anos no dia 27 de maio de 1969 falecia em Recife o Padre Antonio Henrique Pereira Neto,que era professor e padre com apenas 29 anos de idade, filho de dona Isaira Pereira da Silva e de Sr. Jose Henrique Pereira Neto e as circunstância de sua morte consta que o padre foi sequestrado, torturado e depois assassinado, pelo grupo Comanda de Caça aos Comunistas -CCC além de agentes da policia civil de Pernambuco.



O padre Antonio Henrique como era conhecido nasceu em 28 de outubro de 1940, teve a sua formação sacerdotal em Olinda e João Pessoa. Estudou Psicologia nos Estados Unidos e sua ordenação sacerdotal foi em 25 de dezembro de 1963 pouco dias após o término do Concílio do Vaticano II.

Trabalhava com jovens no final do Ensino Médio e no inicio do curso universitário orientando-os para o bom caminho da vida.Um padre e professor que fez parte da Juventude Estudantil Católica a JEC. Participava dos encontros da Pastoral da Juventude, dedicando orientá-los a partir da Sagrada Escritura e das liturgias. Foi responsável pela Pastoral da Juventude da arquidiocese e reservava as tardes para o encontro com os jovens e orientações, conversando e discutindo temas de interesses juvenis. Atendia no prédio do Secretário Juvenato Dom Vital e também no Colégio Marista do Centro.

No dia 26 de maio de 1969, o padre Antonio Henrique participou de duas reuniões com jovens e com pais, sendo a última no largo  do Parmerim. Recusou reiteradamente carona de seu alunos e foi visto pela última vez por sua aluna Lavínia Lins, que estranhou que ele estava com três homens e entrou numa william rural de cor verde e branca. E no dia seguinte o seu corpo foi encontrado  com tiros na cabeça e seu corpo apresentava sinais de torturas entre o meio fio e uma cerca de aramefarpado em uma avenida da cidade Universitária.

O modo operandi, as circunstância, as lesões e a natureza do crime indicavam ter sofrido torturas e execução por mais de um agente. De acordo com documentos do Centro de Informações da Marinha Cenimar, segundo os relatos de parentes, familiares e colega de trabalho o padre er alvo de intenso monitoramento, inclusive por escutas telefônicas. E todas as informações consta em relatório oficial da Anistia Internacional. além da Comissão Estadual da Verdade Dom Helder Câmara.

O irmão Orlando Lima da Cunha relatou que dias antes da morte do padre, foi metralhado o secretário Juvenato Dom Vidal. E numa ação em que foi atingido o estudante Cândido Pinto que ficou paraplégico .E também apurou-se que o padre havia recebido ameaças de morte do Comando de Caça aos Comunistas - CCC dias antes de sua morte.

Na época o governador Nilo Coelho instaurou uma comissão judiciária que foi presidida pelo juíz Aloísio Xavier. E a Comissão de Inquérito terminou o trabalho em 24 dias. E concluiu com a incriminação de jovens civis a despeito da suspeita da família e do detetive envolvido nas investigações, ambos acusando agentes policiais. Além disso a dona Isaira mãe do padre Antonio Henrique que alguém havia colocado o seu filho em perigo e um jovem que frequentava a casa do padre trouxe o seguinte recado se procurasse quem matara o seu filho ela seria baleada pelas costas.

Em dezembro de 1970 o Ministério Público  de Pernambuco apresentou as alegações finais e concluiu que foi um crime comum, mantendo as acusações realizadas pela comissão Judiciária de Inquérito contra Rogério Matos do Nascimento - pronunciável, e Pedro Jorge Bezerra Leite, Jorge Caldda Tavares, Michel Maurice Och - impronuciável por falta de provas.

Em 1988 para evitar a prescrição do crime o Ministério Público ofereceu inédito denuncia-crime contra Bartolomeu Gibson na época diretor do departamento de Investigações da Secretaria do Estado e Segurança Pública de Pernambuco -SSP/PE, Henrique Pereira Filho e Rivel Gomes Rocha. Contudo o Tribunal de Justiça de Pernambuco decidiu pelo arquivamento da ação penal contra os acusados. Deixando alguns aspectos da execução como tortura até então não esclarecido.

No entanto as investigações realizadas pela Comissão Estadual de Memória e Verdade Dom Helder Camara -CEMDP e a Comissão Nacional da Verdade -CNV encontraram indícios que permitem desconstruir a versão oficial de crime comum e indicar os agentes responsáveis pela execução.

Os principais indícios advém de um documento bastante esclarecedor: o informe confidencial n.685/70 do Serviço Nacional de Informações -SNI de 1970 e consta  que o promotor de Justiça Dr. José Ivins Peixoto, procurou o general Carlos Alberto Fontora do SNI, para informar que o Ministério Público Federal de Pernambuco havia redigido as alegações finais para o caso nas quais afirmavam que a execução do padre teria sido realizada por grupos de jovens de extrema direita em co-autoria com a policia civil de Pernambuco, tendo inclusive usado o carro da policia civil no sequestro. Nas alegações há menções direta aos nomes de Rivel Rocha, Humberto Serrano Souza, Rogério Matos, Jerônimo Duarte Rodrigues Neto e próximo ao padre Bartolomeu Gibson como responsáveis pelo crime.

Por se preocupar com as imprevisíveis consequências maléficas da repercussão da publicação das alegações finais, o promotor considerou oportuno avisar o SNI, antes de apresenta-las. O SNI encaminhou esse documento para o Ministério da Justiça e, Alfredo Buzaid por meio portando da portaria n.114 -BC de 6 de agosto de 1970 ao Ministério de Justiça. Nesse parecer informou que os depoimentos de Risoleta Cavalcanti, do tenente coronel reformado Agenor Rodrigues da Silva e do irmão Orlando lima da Cunha, além das provas levantadas pelo Ministério Público, indicava que tratava de um crime politico, de responsabilidade do CCC e dos agentes da Policia Civil de Pernambuco.

O que se concluiu é que o padre Antonio Henrique Pereira Neto foi torturado e executado em decorrência da ação perpetrada por agentes do Estado Brasileiro, em contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovido pela ditadura Civil e militar implantada em 1 de abril de 1964. E recomendou-se que haja continuidade das investigações sobre as circunstâncias do caso para identificar os demais agentes envolvidos.

Esses cinquenta nos de sua morte serão lembrados na Mesa redonda "Missão Martírio e Verdade na Universidade Católica de Pernambuco.
Manoel Messias Pereira
professor, cronista e poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto-SP. Uberaba-MG
Brasil


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