A Nudez Ideológica
Outro dia lendo o livro de Martha Medeiros, intitulada "Strip tease" encontrei na pagina cinquenta e oito o texto "quanto mais palavras saem da minha boca/mais me dou conta de que não sou eu que falo/pois o que penso não tem nada a ver/e o que faço já é outro papo/e o que parece já não sei contar" Este fragmento literário trouxe-me a ideia de que nosso mundo está alicerçada numa infra-estrutura física, biológica na qual insere-se a vida humana, que estabelece-se e convive com uma supra-estrutura ideológica quer-se física para atender as necessidades físicas do ser humano mas submetida a uma supra-estrutura sócio-cultural na qual verificamos que a política, a cultura, a economia, as ciências, a filosofia convergem na lógica da dominação de poder.
A partir deste ponto ir contra a lógica é estabelecer o conflito, que pode ser dolorido, mas que é também saudável ao impulsionar atitudes, que leva-nos a romper com o imobilismo. E isto é dar o pontapé inicial no processo dialético, para caminharmos até o gol da transformação social. Se procurarmos olhar o idealismo hegeliano na chamada síntese ou negação da negação, veremos que Friedrich Hegel afirmou que cada conceito possui em si o seu contrário, cada afirmação a sua negação. O mundo não é um conjunto de coisas prontas e acabadas mas o resultado do movimento gerado pelo choque dos antagonismos e dessas contradições a afirmação traz o germe da negação e depois de desenvolver essa negação entra em choque com a afirmação e este choque vai gerar um elemento mais evoluído, a síntese.
Agora o nosso olhar procura ver o que Karl Marx e Friedrich Engels fizeram com a dialética hegeliana, veremos que ele virou pelo avesso a teoria hegeliana. E assim no marxismo a história desenvolveu-se dialeticamente a partir das relações de produção existentes em cada momento. As tais relações seriam a infra-estrutura sobre a qual sustenta-se a supra-estrutura, política, jurídica e ideológica.
A superação de um modo de produção por outro dar-se-a à partir das lutas de classe, com a derrubada da nobreza pela burguesia e com isto afirmou-se o capitalismo. Já no Manifesto Comunista, as ideias ali contidas dizem que a luta de classe entre trabalhadores e burguesia derrubariam o capitalismo.
Porem a crítica que Marx e Engels fizeram ao capitalismo é a respeito de seu caráter exploratório da burguesia sobre os trabalhadores e fundamenta-se na crítica so liberalismo clássico inglês, no postulado do iluminista David Ricardo e a sua teoria do valor do trabalho.Para Marx bastaria apenas quatro ou cinco horas de trabalho para o operário comporem o seu salário. Os restantes das horas trabalhadas são apropriadas pelos patrões e isto é o que Marx chamou de "mais valia". A lógica marxista foi contrária a lógica hegeliana gerou o conflito ideológico e impulsionou a ação humana, na qual referimos a luta de classe. Pois a luta de classe no marxismo compreende-se a luta económica, política e ideológica.
O professor George Politzer, diz que não se pode lutar pelo pão sem lutar pela paz, sem defender a liberdade e todas as ideias que servem a luta por tais objetivos. E o mesmo aconteceu na luta política depois de Marx, tornou-se uma verdadeira ciência pois é preciso ter em conta ao mesmo tempo a situação económicas e as correntes ideológicas para conduzir essa luta. A luta ideológica geralmente manifesta-se pela propaganda, deve-se ter em consideração, quer seja pela eficiência, a situação económica e política.
Todos estes problemas estão intimamente ligados, porém é na luta ideológica que devemos quotidianamente ter subsídios para resolver inúmeras questões, até então tidas como como verdades absolutas, como a imortalidade da alma, a existência de Deus, a origem do mundo, a existência do demônio, o destino pré estabelecido o horóscopo, a igualdade iluministas e tudo parece ser sem nenhum mistério combinado. E pra entender Martha Medeiro no seu livro Strp Tease, ela tenta dispor-se de todas as palavras que saíram de sua boca e descobre que todas foram traçadas, armadas, organizadas por um conjunto de valôres ideológicos, que domina o nosso tempo e que estas já estão incorporadas intimamente em nós. Romper com isto é outro papo, é ficar nu ideologicamente e romper com o imobilismo dialético e dar outro pontapé no status-quo, e ai o jogo é outro.
Manoel Messias Pereira
professor, poeta e cronista
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto-SP.
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