Artigo - Quase 50 anos sem Mário Alves de Souza Vieira - Manoel Messias Pereira

Quase 50 anos sem Mário Alves de Souza Vieira 

Mario Alves de Souza Vieira, jornalista, após sair de sua casa no  bairro Abolição no subúrbio carioca, no dia 14 de janeiro de 1970,  foi simplesmente parado por agentes da repressão que prendeu-o, sequestrou -o, como aliás fazem muito bem todos os grandes marginais quotidianamente no Estado brasileiro, somente com um detalhe a violência foi em nome do governo brasileiro. E pelo que consta o que temos a seguir é o seu total desaparecimento na qual nem o corpo até hoje sabe-se lá onde foi esquecido, ou plantado em vala comum ou descartados como indigente.E a sua morte foi dada no dia 16 de janeiro de 1970

O que sabe -se, que ele disse aos familiares  antes de sair que voltaria logo, porém nunca mais voltou. Os agentes que levaram-o eram militares que atuavam no Destacamento de Operações de defesa Interna - Centro de Operações - Doi-Codi/RJ. Foi levado para a rua Barão de Mesquita na Tijuca-RJ e submetido a Câmara de Tortura para ser supliciado, teve o corpo molhado levou choques e foi jogados no corredor do Pelotão de Investigações Criminais  -PIC todo desfigurado.

Mário era jornalista, um estudioso do marxismo - leninínsmo, foi Membro do Comitê Central eleito desde 1957, trabalhou na Revista Problemas, esteve na URSS, na China, e também trabalhou como tradutor, um homem que dominavam vários idiomas um revolucionário, esteve no Partido Comunista Brasileiro -PCB desde a sua juventude ainda na adolescência. Dirigiu a publicação da imprensa partidária no início de 1960. E em 1964 foi preso no Rio de Janeiro e libertado em 1965, após a concessão de habeas -corpus. Em 1966 teve seus direitos políticos cassados por de anos. Foi nesta época que em 1968, por divergir  da atuação do Partido ele juntamente com outros membros do  saíram e criaram o PCBR. Entre esses companheiros de luta, Mário contava com a presença de Carlos Marighella, que defendia  a resistência armada por meio de atos de guerrilhas ao regime,alem de  Apolonio de Carvalho e Jacob Gorender. E assim passaram a defender a inserção  no movimento de massas e a luta armada contra a ditadura.

O seu desaparecimento ocorreu quando estava com quarenta e seis anos, pelas informações que foram levantadas na Câmara de Tortura, foi espancado barbaramente embolado com arame farpado, por recusar a dar informações exigidas pelos torturadores do 1 Exercito e do Dops como denunciou a sua companheira Dilma Borges e alguns presos políticos que ali estavam entre os quais Antonio Carlos Carvalho (Tonico) Renê Carvalho e Raimundo Teixeira Mendes que presenciaram a sua agonia as condições de sua morte, desmentindo as versões oficiais que negaram o ocorrido. Sua companheira companheira fez a denuncia ao comandante do I Exercito Sr. Siseno Samento. O que sabemos que alguns presos foram levados a sala de tortura para limpar o sangue de Mário e viram-o, no chão nu, sangrando pela boca, pelo nariz, arquejante pedindo água e os militares em volta rindo.

A Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil -CNBB e a Ordem dos Advogados do Brasil -OAB, denunciaram, juntamente com os parentes esse caso que repercutiu na imprensa nacional e internacional e principalmente em todo o mundo. O Ministério Público Federal denunciou e concluiu que os agentes de segurança da ditadura civil e militar pelo sequestro e desaparecimento do jornalista Mario Alves de Souza Vieira militante político, foi ilegalmente detido e morto neste dia 16 de janeiro de 1970. A vítima presa, torturada, e essa denuncia foi a primeira do gênero tomada pelo Ministério Público Federal no Rio de Janeiro. E os procuradores pedem que os acusados sejam condenados pelo crime de sequestro qualificado com o reconhecimento das circunstâncias agravantes, como motivo torpe, abuso de autoridade e abuso de poder. A promotoria requer ainda a perda de cargos públicos dos envolvidos, o cancelamento de suas aposentadorias, ou quaisquer proventos remunerados, a retiradas de medalhas e condecorações e o pagamento de uma indenização de R$100 mil a título de reparação material a família da vítima. Os identificados como responsáveis pela ação criminosa  foram os agentes Luis Vieira Vlle Correa Lima (Tenente Correia Lima), Luis Thimóteo de Lima (inspetor Timóteo), Roberto Sugusto de Mattos Duque Estrada (capitão Duque Estrada), Dirlene Aleixo Garcez dos Reis (Tenente Garcez) e Valter da Costa Jacarandá (Major Jacarandá). Para os autores da denuncia a possibilidade de morte da vítima nõ desqualifica a tipificação do crime de sequestro e de delito permanente, que continua se consumando durante o dia todo em que a vítima foi privada de sua liberdade. e de acordo com a promotoria, o sequestro e o encarceramento da vítima foi ilegal pois os agentes do Estado ditatorial jamais estiveram legalmente autorizados a privar pessoas e suas liberdades indefinidamente, sem comunicação às autoridades judiciárias, tampouco de fazê-las desaparecer, sem mesmo de acordo com a ordem jurídica autoritária vigentes na data dos fatos. 

Mario  Alves de Souza Vieira teve graves sofrimentos físicos e moral em razão do período de sequestro do regime de incomunicabilidade a ele imposto, além de torturas de choques elétricos, afogamentos, espancamentos no pau de arara. A decisão para acatar o pedido do Ministério Publico Federal ficou a cargo do  juíz Alexandre Libanate de Abreu da 2a. Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.

Em nós camaradas o tempo não passa, são quarenta e nove anos sem a presença física do Mario. E sua senhora na dor deixou essas frases "choro sozinha, não tenho maior recursos para me fazer ouvir, tenho o coração partido e reclama o corpo de meu marido", mas  que nunca veio". A Comissão da verdade concluiu que a prisão de Mario, o sequestro e sua morte foram atos ilegais, criminosos e faz parte desta triste história vivida por todos os brasileiros nos chamados anos de chumbo, que teve início em 1964 e estendeu-se até 1985.


Manoel Messias Pereira

professor de história, cronista, poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB -São José do Rio Preto
Membro do Coletivo Minervino de Oliveira-São José do Rio Preto











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