Artigo - 24 anos sem Maria Beatriz do Nascimento - Manoel Messias Pereira

24 anos sem Maria Beatriz do nascimento

Hoje para todo o Movimento Negro, assim como para toda a militância Feminista no Brasil é um dia de reflexão, é um dia que nos vem a memória o assassinato de Maria Beatriz do  Nascimento, no dia 28 de janeiro de 1995. 

Maria Beatriz do Nascimento, era professora de História, formada pela UFRJ, especialista em " sistemas alternativos organizados pelos negros: dos quilombos as favelas". mas o seu trabalho mais conhecido foi "Ori", o filme brasileiro, lançado em 1989 de 131 minutos, de sua autoria, dirigido pela socióloga e cineasta Raquel Gerber e que foca na história do Brasil, em que os negros que para aqui foram trazidos para trabalhar mas por aqui encontrou o processo escravocrata. E muitos tinham o sonho de voltar, alguns ficaram nos quilombos e outros conseguiram voltar. No filme passa a figura rio-pretense da Professora e embaixadora Dulce Pereira, passa o seu ex-marido que foi um grande pesquisador e jornalista  Hamilton Cardoso, outras figuras que pude ver no filme e que recordo ainda hoje foi de Luis Silva (Cuti), negro afro descendente doutor em literatura pela USP, e um dos fundadores do grupo-literatura Quilombhoje.

Maria Beatriz nasceu em Aracaju -Sergipe, em 12/07/1942 era filha da dona de casa Sra. Ricardina Pereira do Nascimento e do pedreiro sr. Francisco Xavier do Nascimento, tinham dez filhos e todos vieram para o Rio de Janeiro, para ter uma condição de vida melhor. entrou no curso de História na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ , com 28 anos de idade graduando em História em 1971, foi trabalhar na rede de ensino estadual do Rio de Janeiro , articulando pesquisa e ensino estagio com o professor José Honório Rodrigues no arquivo nacional. Criou o grupo de Trabalho  André Rebouças em 1974 na Universidade Federal Fluminense - UFF, em que compartilhava com os estudantes a discussão da temática racial no Brasil, tanto acadêmica quanto no ensino. A conclusão do seu Lato Senso foi "Sistema alternativos de organização dos afros brasileiros  dos quilombos as favelas" Estudou por vinte anos a temática relacionada ao racismo e aos quilombos, abordando as correlações entre a corporeidade negra e o espaço com as experiências diaspórica dos africanos e seus descendentes em terras brasileiros. Devido as suas pesquisas viajou por duas vezes a Angola. Teve inúmero artigos publicados em revistas e jornais do Brasil, entre os quais podemos lembrar a Revista do Património Histórico e Artístico Nacional, a revista de cultura Vozes, na Folha de São Paulo, Jornal Maioria Falante, na Ultima Hora, Revista Manchete entre outro. E vale ressaltar que o Conselho Nacional pelos Direitos da Mulher escolheu-a como a Mulher do Ano de 1986, por seu trabalho como feminista.

Os pesquisadores como Eduardo Oliveira, Lélia González e Hamilton Cardoso, juntamente com ela trabalharam a temática etnico racial no sentido de ganhar a visibilidade social na Universidade e fortalecer a discussão para os movimentos negros. Agora ela estava no caminho do Mestrado na UFRJ orientada pelo professor Muniz Sodré, quando a sua vida foi interrompida.

Segundo consta as noticias que veicularam pela televisão e pelos jornais, Maria Beatriz do Nascimento aos 52 anos de idade, divorciada com uma filha, ao convesar com uma amiga que veio pedir a ela um conselho pois tinha um relacionamento violento e abusivo por parte de seu esposo. Ela afirmou que não era uma boa coisa conviver com toda essa violência e que hoje em dia seria melhor separar-se, do que viver num inferno no relacionamento.

Por isto o Sr. Antonio José Amorim Viana o seu assassino não gostando do conselho dado a sua esposa, veio até a professora e efetuou  cinco tiros, matando-a. E  afirmou que ele matou pois a professora interferiu na vida privada dele. E alguns dia ou seja no dia 9 de fevereiro de 1995, trezedias do ocorrido acabou sendo preso num bar. Esse assassino já respondia por outro assassinato, além de tenttiva de estupro e era ligado as drogas, e cumpria onze anos e seis meses de cadeia. Alegou que tinha saído e bebido um pouco por isto matou a professora.

Antonio Viana em 17 de abril de 1996 foi condenado pela morte de Maria Beatriz do Nascimento, e sua namorada foi acusada de prestar falso testemunho e acabou também respondendo a processo.

Para toda a militância do Movimento Negro foi um dia de dor, assim como para todos os seus familiares. Para o Movimento Feminista  um dia de luto, pois em cada palestra, em cada palavra proferida por uma militante, e evidente que tens todo um sentimento de amor pela vida. Além de professora, pesquisadora, roteirista, era poetisa e deixou algumas palavras proferidas para a nossa meditação quotidiana.



Seu nome era dor
Seu sorriso
dilaceração
Seus braços e pernas, asas
Seu sexo seu escudo
Sua mente libertação
Nada satisfaz seu impulso
De mergulhar em prazer
Contra todas as correntes
Em uma só correnteza
Quem faz rolar quem tu és?
Mulher!…
Solitária e sólida
Envolvente e desafiante
Quem te impede de gritar
Do fundo de sua garganta
Único brado que alcança
Que te delimita
Mulher!
Marca de mito embotável
Mistério que a tudo anuncia
E que se expõe dia-a-dia
Quando deverias estar resguardada
Seu ritus de alegria
Seus véus entrecruzados de velharias
Da inóspita tradição irradias
Mulher!
Há corte e cortes profundos
Em sua pele em seu pelo
Há sulcos em sua face
Que são caminhos do mundo
São mapas indecifráveis
Em cartografia antiga
Precisas de um pirata
De boa pirataria
Que te arranques da selvageria
E te coloque, mais uma vez,
Diante do mundo
Mulher.
Fonte do poema: Nascimento, Beatriz. Todas (as) distâncias: poemas, aforismos e ensaios de Beatriz Nascimento/Organizado por Alex Ratts e Bethânia Gomes; ilustrado por Iléa Ferraz e revisado por José Henrique de Freitas Santos. Salvador: Editora Ogum’s Toque Negros, 2015. P.32

Maria Beatriz do Nascimento, presente, presente, presente , hoje e sempre.


Manoel Messias Pereira 

professorde história, escritor, brasileiro, Membro do Coletivo Minervino de Oliveira de São José do Rio Preto-SP, Membro do Conselho Afro Brasileiro de São Jose do Rio Preto, Membro do projeto Jongo Ibilce/Unesp, Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB de São José do Rio Preto e Uberaba-MG.




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