Revista Veja - peça Vestido de Noiva de 1943 - Evangelia Guinle, Setela Perry e Maria Barreto Leite.
Os 75 anos de Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues
Uma das artes mais completas, que conheço é o cinema. Porém sempre achei a arte mais viva é do teatro. Pois o artista está frente ao público, com o seu olhar, seu corpo e suas expressões. E o maior teatrólogo do mundo acredito que foi Shakespeare e a primeira peça que assisti foi dele. Porém para mim o brasileiro que tens maior destaque como autor de peças no Brasil é Nelson Rodrigues. Que inclusive teve a setenta e cinco anos o lançamento da sua peça "Vestido de Noiva".
Uma peça pela qual a imprensa dizia não era tão trágica e nem tão cronica. E que havia uma mescla de linguagens.O crítico Décio de Almeida Prado escrevendo na revista Clima disse que a estreia havia mudado o teatro brasileiro. E essa mesma opinião também é vista num artigo escrito por Sábato Magaldi, que ao descrever toda a mudança feita pelo diretor Zimbinski, o polones, teve o princípio do Moderno Teatro Brasileiro.
A estreia inicial se deu em 28 de dezembro de 1943, e o diretor havia chegado no Brasil foragido da Segunda Guerra Mundial, e o que ele muda no conceito teatral é que por aqui havia uma hegemonia do astro sobre o restante do elenco. Nesta montagem impõe-se uma noção de equipe teatral, em que todos são valorizados na mesma arte num processo de autonomia da companhia. O local desta mudança foi no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Tomas Santa Rosa foi responsável pelo desenho do cenário, até hoje considerável inesquecível.
Nelson Rodrigues desejando promover sua peça compartilhou om vários intelectuais seu texto, e entre eles Astrogildo Pereira, jornalista, comunista, Otto Maria Capeoux, Augusto Frederico Smith, e Manuel Bandeira, que ao ler o texto disse "essa é uma peça para cadeiras vazia"
Rodrigues usou o artifício ficcional de admirável eficácia e tudo passou para o plano da memória e da alucinação, num imaginário criado em 1943 revelado numa enredo em que a personagem Alaíde, que foi atropelada no Largo da Glória e até sendo operada, já na mesa de cirurgia, ela passa a ter delírios numa mescla de memória e alucinações. Vai lembrar que a sua irmã Lúcia de quem roubou o namorado Pedro e se casa com ele, mas porém Pedro não perde o vínculo com Lúcia com quem continua o caso com Lúcia. Lembra-se de Madame Ciessi, uma cafetina assassinada pelo namorado em 1905. de quem Alaíde encontrou um diário num bau em sua casa. E entre outras cenas vê Pedro transformar-se no namorado de Madame Ciessi.
Vale recordar que a atriz Stela Rudge Perry, que fez a personagem Lúcia chegou a dizer que ninguém iria entender a peça. essa obra teve na sua ficha tecnica Ziembinski como diretor, Evangelina Guinle como Alaide, Auristela Araujo como madame Ciessi e mais outros vinte e cinco autores que revezavam-se em trinta e dois personagens. Um episódio que contam é que um vento soprou toda a marcação deixada em pequenas anotações. Mas o diretor não teve duvida passou a dirigir as mais dezenas de tomadas usando a memória.
O enredo desta peça, não foge a muito do que conhecemos de Nelson Rodrigues, um autor que talvez usou um realismo na sua ficção, e retratou nos seus personagens um pouco desta linha marginal, não sei se seria a expressão certa, para observar uma realidade que geralmente o brasileiro não gosta de revelar. Mas no Brasil, há de fato feminicídios, há de fatos violência contra jovens adolescentes e crianças, assim como há situação de "trois " na convivência harmoniosa, mas também em desarmonia num contexto da vida, e para tanto basta seguir um roteiro examinando todos os escritos do autor. Verificando as peças como "Mulher sem pecado, a Valsa n.6, Album de família, Anjo negro, A falecida, Perdoa-me por te traíres, Bonitinha mais ordinária, O casamento. e algumas destas peças chegaram ao cinema e deram outro olhar para a arte das películas.
Porém embora neste setenta e cinco anos do lançamento da obra como "Vestido de Noiva " e pela grandeza do autor sendo talvez o maior teatrólogo do Brasil, observamos os festivais de teatro, observando a crítica jornalística e especializada, não percebi no mundo cultural, nenhuma lembrança, nenhuma nova roupagem sobre essa peça em específico. E no momento lembrando que neste 21 de dezembro lembramos a morte do autor nada mais óbvio de recordar esses momentos de gloria que eterniza na história do teatro brasileiro, com o chamado corte epistemológico artístico teatral.
Manoel Messias Pereira
professor, cronista e poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto-SP/Uberaba-MG.
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