O Massacre de Wiriyamu
O fato histórico conhecido como Massacre de Wiriyamu, ocorrido no centro de Moçambique em 16 de dezembro de 1972, no Contexto da Guerra Colonial, parte de uma violência praticada por militares portugueses quando do Estado Novo, portanto a ditadura de Portugal que durou aproximadamente quarenta e um anos ou seja desde aprovação da Constituição de 1933 até a queda do regime em 25 de abril de 1974. Período que abrange o tempo de Salazar e o tempo de governo de Marcelo Caetano que vai de 1968 até 1974.
O Fato tem por traz ação da PIDE que instigou essa violência na Operação Marosca, guiada pelo comandante Chico Kachavi, que foi assassinado mais tarde. As ordens que esse comandante deu era para que assassinassem indiscriminadamente todos os civis, inclusive mulheres e crianças. De princípio relatos diziam que procuravam as turras como eram conhecidos, os militantes da Frente Popular de Libertação a FRELIMO, desde o dia 14 de dezembro de 1972. Dois dias depois vieram os ataques dos militares usando inclusive helicópteros e jatos bombardeando e matando centenas de pessoas civis. Além dos ataques por terra. Ataques feitos pela 6a. Companhia de Comando do Regime do Estado Novo Português. E após esse ataque tivemos durante três dias interrogatórios e assassinatos, o que chamam de limpeza. E isto tudo há quem diga que está no contexto da Guerra Ultramar, na luta colonial, no contexto de libertação da Independência.
A ideia era acabar com a presença da Frelimo na cidade de Tete e da barragem de Cahora Bassa nos povoados de Wiriyamu, Djemusse, Riachu, Juawu e Chaworha, no chamado Triângulo de Wiriyamu. Inicialmente temos relatos históricos que desde 1969 as forças portuguesas do Estado Novo atacavam a Frelimo no norte de Moçambique, para fragilizá-los na luta de frente de libertação, o que foram obrigados a deslocar-se para o centro onde intensificam e vão formando bases, com esses dados a PIDE, organiza o massacre. A informação que havia em Portugal era que ali estavam aproximadamente trezentos guerrilheiros.
Os relatos deste massacre em Wiriyamu, foi de princípio negado por Portugal, porem missionários espanhóis e ingleses mais médicos denunciaram isto internacionalmente que foi matéria denuncia do Times do dia 10/07/1973, portanto não no calor dos fatos, mais somente depois do padre britânico Adrian Hastings denuncia isto. Porém vamos ver falas como de Laurean Rugombuwa que é Arcebispo de Dar es Salaamque chegou a afirmar que as mortes foram provocadas por soldados da Frelimo, e não pelas forças portuguesas. E há ainda relatos da chamada direita capitalista que mantinham um processo neo-colonial, na verdade um imperialismo politico e económico na região dizer que o que desejavam era acabar com a reputação dos portugueses.
Neste jogo de poder havia muita informação e muita contra informação, e por isto até hoje há quem considera que a Frente de Libertação, nem sempre protegeu, porém sabemos que a vida é de luta de classe e foi uma forma como os fascistas portugueses puderam legitimar a sua presença e sua repressão a um povo como os moçambicanos, ou angolanos e assim por diante no contexto das lutas ultramar.
As informações permitiram Mustafah Dhada, lançar um livro de ssua autoria intitulado o massacre em Moçambique de dezembro de 1972, em que ele trata a violência do massacre como parte inerente dos fascistas portugueses. Livro esse possível de publicar por meio da impressão chinesa.Através do Editorial Reviews. No seu relato Mustafah disse que as mortes foram ordenadas inclusive de mulheres, de crianças no largo principal da povoação e foi ordenado que batesse palma, que cantasse para despedirem da vida e após isto os soldados abriam fogos. E os que escapavam dos tiros ainda tinham que conviver com as granadas, e com os gritos brados de "matem Todos". E que os militares estenderam o morticínio ao longo do Rio Zambeze onde encontravam mais quatro povoados. E o corpo de aproximadamente 400 aldeões foram incendiados pelas piras dos fascistas portugueses.
Em 2012 pesquisadores como Bruno Cardoso Reis e Pedro Aires de Oliveira publicaram um artigo na revista Civil Wars com o título "Cutting Heads ou Winning Hearts: Late Colonial Portuguese Counterinsurgency and the Wiriamu Massacre of 1972. E a primeira frase dava conta das dificuldades em investigar um acontecimento sobre o qual não foi realizado nenhum inquérito independente e poucos são os regístros oficiais, sendo que em vários povoados de Moçambique a provas há relatos suficientes, e relatos do massacre, resultados de tortutras e execuções sumárias.
O historiador português Fernando Rosas esteve naquele povoado onde foi erguido um monumento para assinalar o ocorrido e disse que as operações contra o movimento de guerrilha de libertação eram considerados contraproducentes. E mesmo pelos sul africanos e pelos rodesianos que colaboravam nessas operações ressaltam que no fundo a guerrilha não estava lá, e sim estavam lá mulheres, crianças que foram vítimas daquela violência brutal e inconsequente.
Ainda hoje Wiriyamu é um local de imensa pobreza, até outro dia não havia energia elétrica, não havia água encanada e como disse os cronistas politico Tete continua longe numa distancia insuportável. A fome por lá existe, a seca faz parte da paisagem. ali produzem para o consumo mapira e amendoim e o dinheiro que obtém vem da venda de carvão que é vendido na cidade. O neto de Wiriyamu, que dá nome ao local hoje é um lenhador, que faz carvão e ele disse que toda a sua família na época foi dizimada e ele fugiu para o mato. Assim sobreviveu.
Manoel Messias Pereira
professor de história, cronista, poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto-SP. Brasil
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