poesia - Para sempre - Carlos Drummond de Andrade

Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão -se embora?
mãe não tem limite
é tempo sem hora
luz que não se apaga
quando sopra o vento
e a chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
como o que é breve e passa
sem deixar vestígio
mãe, na sua graça
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do mundo
baixava uma lei
mãe não morre nunca
mãe ficará para sempre
junto de seu filho
e ele velho embora
será pequenino
feito grão de milho.


Carlos Drummond de Andrade

31/10/1902 +17/08/1987
poeta, cronista, contista brasileiro.




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