A arte no processo revolucionário da classe trabalhadora
Quando deparo com qualquer obra extraída do sonho estético da beleza e da harmonia traçada por um ser humano na sua expressão de sentimentos e chamo isto de arte. E no processo educacional há uma matéria ou disciplina chamada de Educação Artística, em que a juventude passa a ter as primeiras compreensões das artes visuais, da arte harmônica fundamentadas nos sons dos instrumentos musicais e nos cantos, nas combinações temáticas, no desenvolvimento da arte dramática, cinematográfica, na fotografia, e aliada a isto a arte literária, da poesia, do conto, das cronicas dos romances. E são esses instrumentos que são ideologicamente usados pela mídia, pelo Estado para fazer a difusão cultural de quem domina na super-estrutura ideológica o espaço de cultura.
Conversando com a camarada Julia Saraiva, observei por parte dela a preocupação em trabalhar com a juventude exatamente no sentido de contrapor ou de fazer a contra cultura que possa ser de fato a própria vida do ser humano, se compreender que arte como linguagem do ser humano. Já que o ser humano é o ser de múltiplas linguagens, seja ela em todas as matrizes possíveis uma forma de expressar os seus sentimentos dando formas e simbolismos a isto. E assim observamos como na concepção das obras de Dostoiévski, os sentimentos são expressos transcendendo-se nas distancias, despertando sonhos, criando fantasias, estimulando as crianças, e interagindo socialmente.
Em Hegel, aprendemos que a arte é simbólica é a forma de arte que não se realiza o belo e a ideia que ainda não é a ideia propriamente dito, mas que vimos e encontramos -a em três momentos distintos como simbolismos inconscientes, simbolismos fantásticos e simbolismos consciente.O educador francês Georges Snyders chama a atenção para a satisfação e alegrias culturais que os seres humanos experimentam ao progredirem em seus saberes sobre as questões da vida nas cidades do planeta e do universo em que vivem. O mesmo acontece com os saberes estéticos artísticos deste mundo em que já assimilamos desde a nossa infância e no convívio da família, dos grupos de amigos, do trabalho. E em seu texto "A Alegria na Escola"Snyders propõe que a escola trabalhe com as alegrias proporcionadas pelas melhorias culturais que levem em consideração, como ponto de partida, os saberes cotidianos, comunicacionais dos estudantes e apoia para isto na afirmação de Spinosa em sua "Ética": "A alegria é a passagem de uma perfeição menor a uma perfeição maior", Só que precisamos entender que a arte não se aprende apenas na Escola. E não podemos esquecer que a escola reproduz exatamente o que propõe a elite governamental, que representa a elite patrocinadora de quem está no poder, e nisto essa arte tem uma dose de contaminação do processo capitalista da exploração de um ser sobre o outro.
E o que precisamos entender é que neste sistema capitalista a elite não representa a maioria da população e sim a uma minoria, mas impõe o seu pensar artístico as vezes erudito outras vezes não.
E a classe popular, dos trabalhadores, sejam eles proletários, camponeses, operadores de máquinas, profissionais da educação com o seu labor do ensino aprendizagem, dos docentes científicos, dos profissionais de saúde somos aí sim a maioria. Nós povos que fomos dominados numa super-estrutura ideológica a partir de um sistema capitalista, numa sociedade que não corresponde aos nossos interesses sociais e revolucionários. Por isto devemos lutar por uma nova sociedade, para educar o ser humano para vencer essas contradições e nisto chegamos as ideias marxistas.
Precisamos ter um ensino que possibilitem por a ciência a serviço do povo e de uma revolução, por a ideia de estudantes, professores e intelectuais a serviço de todos os trabalhadores. precisamos ter uma saúde que deve materializar o princípio de uma liberdade, em que os benefícios científicos e tecnológicos devem estar a serviços de todos, e não como apresenta-se o sistema capitalista um hospital para rico e um destacamento de lamentações e depredações para o trabalhador.
Em relação a cultura como escreveu um dia Amilcar Cabral, "que tenhamos uma cultura que lhe compete no âmbito do desenvolvimento de libertação, e este deve saber preservar os valores culturais positivos de cada grupo social bem definido, de cada categoria realizando a confluência destes valores no sentido da luta e dando uma nova dimensão, tanto na luta da preservação, sobrevivência dos valores culturais do povo pela harmonização e desenvolvimento destes valores".
E para isto creio na necessidade de paixão de amor, pois inspirado em Gramsci, ele afirmava que os sentimentos populares, não podem ser desprezados, mas precisam ser estudados tal como se apresenta e desta feita o elemento de paixão igualmente necessário à ação política. Pois não é possível saber sem compreender e, principalmente, sem sentir e estar apaixonado pelo seu objeto de saber. Pois um intelectual orgânico apaixona-se pelo motivo da sua luta transformadora, identifica-se com as paixões elementares do povo, nutre-se dela para as elaboração científica da concepção de um mundo revolucionário fincada em bases populares. E não se faz política sem esta paixão que é uma conexão sentimental entre o intelectual e o povo. E daí vem a concepção de força de coesão do bloco histórico.
O trabalho cultural na área da juventude com o conjunto da classe trabalhadora, é um campo fértil de lutas para nós camaradas. a atividade cultural é um instrumento importante para o reconhecimento da realidade e da necessidade, favorecendo a tomada de consciência e mesmo a organização para a luta. E para tanto é preciso potenciar a juventude através da criação assim como o fortalecimento dos espaços culturais, congregando jovens artistas e ativistas culturais.
E na obra de Pierre Macherey, "Para uma teoria da produção literária" ele escreve que Marx e Engels preocuparam sempre com a produção literária e artística em geral. Mas nem um nem o outro consagraram um estudo completo aos problemas da arte. Fazem alusões, estudam -nos de passagem (Eugénie Sue, em A Sagrada Família), lançam as bases duma reflexão teórica, (Introdução à Crítica da Economia Política) mas não chegaram a desenvolvê-la. Manifestaram por este assunto um interesse constante sem, no entanto, o terem chegado a tratar de maneira autonóma. De tal modo que, no princípio do século XX surgiu a obra de Plekhanov e os ensaios de Lafarg sobre a arte e a vida social. Não havia uma estética marxista, mas apenas um projeto muito vezes reiterado mas ainda por realizar. Por outro lado os escritos de Lênin consagrou o Tolstói, nos últimos anos de vida do escritor e na sua morte, constituem uma obra excepcional na história do marxismo científico. E para isto há uma série de artigos de Lênin escritos entre 1908 a 1911. Embora a primeira característica destes textos são de que eles são trabalhos políticos e não literários. Em outra oportunidade temos Lênin tentando utilizar a obra populista Engelhardt (pintor da vida rural) em que é necessário distinguir nela : a doutrina (uma certa maneira de ver as coisas e interpretar) e os dados elementos da realidade reproduzida por uma observação perspicaz como uma educação não adequada aos dados a estrutura da obra é contraditória. A função da literatura propriamente dita, o que fica depois de retirar da obra tudo o que pertence à ideologia, será a de produzir observações, distintas da doutrina, que possuam o privilégio de constituir os elementos dum verdadeiro conhecimento.
Diante desta exposições em que há o estabelecimento do pensamento capitalista nas obras, e é necessário que a ideologia da classe trabalhadora que precisa ser construída e identificada com os parceiros e isto é o que vemos a arte, assim como o trabalho científico, literário, todo ele adequado a entender, é algo instrutivo como constitui um processo legítimo e necessário a transcendência defendida por Dostoiésvk, e com isto também passamos a compreender essa ideia da arte do simbolismo de Hegel, inconsciente, fantástico ou consciente.
E a nossa consciência, é que precisamos pensar a nossa arte obra extraída do sonho estético da beleza e da harmonia, ou seja das obras de artes que identifique exatamente com essa massa trabalhadora, que faz o mundo econômico girar, através de sua ação transformadora que é a de ser o principal operador dos meios de produção.
Quando na verdade temos os grandes proprietários que apenas sabe explorar a mão de obra barata desta grande massa, e ainda estabelece uma estrutura ideológica que vai da igreja, a formação das escolas e sobretudo das expressões e da mídia. Um conjunto de valores para não fazer a emancipação intelectual dos indivíduos, que fica a mercê de um "salvador", que hipotéticamente seja o patrão, ou o governo. E romper com essa lógica cabe a discussão da arte além do riso ou das lágrimas, da tragédia ou da comédia e sim é lutar pela operacionalidade.
Manoel Messias Pereira
cronista, poeta, professor de história
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto -SP. Brasil
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