Professor José Julio de Araujo - Presente
Em 18 de agosto de 1972 - Foi assassinado pela repressão o professor José Julio de Araujo, que militou junto ao Partido Comunista Brasileiro, na organização e na resistência entre os professores intelectuais e profissionais liberais da Guanabara no período que sucedeu ao golpe de abril de 1964. Foi cercado e preso por volta do meio dia de 18 de agosto de 1972 pela equipe do torturador NEI do CODI/DOI São Paulo, onde foi torturado, teve sessões de choques elétricos, espancamento e consequentemente a sua morte.
Nascido em Itapecerica, em Minas Gerais, era filho de Maria do Rosário Corrêa Araújo e do comerciante José de Araújo. Com dois meses de idade, perdeu uma porcentagem significativa da visão de seu olho esquerdo, fruto de uma catapora tardiamente tratada, mas mesmo assim, seguia uma vida normal e ingressou no Colégio Herculano Paz. Após alguns anos, se mudou para Belo Horizonte juntamente com sua família e passou a estudar no Grupo Escolar Cesário Alvim, sendo posteriormente transferido para o Colégio Anchieta, onde desenvolveu seu gosto pela literatura.
Aos 14 anos de idade, deu início a sua carreira profissional e começou a trabalhar no Banco da Lavoura de Minas Gerais. Nessa mesma época, por influência de um colega de trabalho, passou a se interessar por princípios socialistas, procurando se informar sobre as questões sociais do país e descobrir informações sobre a situação política vigente. Desistiu do colégio em seu 3º colegial (antiga 3ª série ginasial), com o pensamento de que sabia mais que seus professores.
Graças a sua linha de pensamento, fez amizade com muitas pessoas parecidas com ele e começou a participar de uma militância de maneira sigilosa pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), escondida de seus familiares e colegas. Nacionalista, tinha como preferência os cantores e compositores brasileiros, fã de Elis Regina e Carlinhos Lyra.
Com 20 anos de idade, deixou o trabalho no banco e passou a trabalhar em uma empresa de atacados chamada SOCIMA, da qual seu pai era sócio. Durante a intensificação da perseguição política em 1968, viajou clandestinamente a São Paulo, onde passou a viver e atuar de modo sigiloso em sua militância.
Seu último contato pessoalmente com a família aconteceu no mesmo ano de sua viagem, durante um almoço com a presença de sua mãe e Valéria, sua irmã, e o amigo Gilney Amorim Viana - que posteriormente se tornou um anistiado político 2 -, no Restaurante do Papai, onde alegou que teria uma viagem ao Rio de Janeiro. Duas vezes após esse encontro, a polícia procurou pelo militante na casa de seus pais.
Em 1969, José Júlio viajou para Cuba, onde recebeu um treinamento militar. Na mesma época, estabeleceu o que seria seu último contato com a família, através de uma carta datada de 2 de março de 1971, em que pedia notícias dos familiares e solicitava ajuda a seus amigos que se encontravam presos.
Após morar um ano no Chile, ele voltou ao Brasil em 1972, onde o cenário nacional de perseguição àqueles que eram contra o regime vigente já estava evidente, com ênfase naqueles que retornavam de Cuba. Passou a residir em São Paulo, junto com os companheiros Iara Xavier Pereira e Arnaldo Cardoso Rocha, todos militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN), pouco antes de seu desaparecimento.
Enquanto conversava em um bar com Valderez Nunes Fonseca, no dia 18 de agosto de 1972, no bairro paulista da Vila Mariana, foi preso pela equipe C do DOI-CODI, equipe chefiada por Dr. Ney, e desde então não foi mais visto.
O inquérito oficial afirma que José Júlio de Araújo teria sido morto durante um tiroteio, baleado por seguranças no bairro de Pinheiros, na rua Teodoro Sampaio.
O policial Maurício José de Freitas, conhecido como Lunga3 , afirmou em sua versão que José havia encaminhado os policiais até outro militante, e roubado uma arma. Nesse depoimento, o torturador ainda afirmou que o jovem teria saído correndo em zigue-zague após o furto, e por este motivo acabou sendo atingido.
O laudo necroscópico foi assinado por Isaac Abramovitch e José H. da Fonseca, confirmando que o falecido teria sido atingido por quatro tiros: no lábio, no ombro direito, na cabeça e no peito.
José Julio de Araujo - Presente. Essa é a memória histórica de um povo que não foge a luta.
Manoel Messias Pereira
professor de história, cronista, poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto-SP
Uberaba-MG.
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