O capitalismo e o mercado de seres humanos na Líbia
A história sempre traz-nos reflexões que aproveitamos na continuidade de nossa existência. Não há como ser diferente. Sabemos que o grande mal da humanidade chama-se sistema capitalista. Pois é um sistema que apenas visam o lucro, os altos juros, que beneficia a classe burguesa em detrimento dos trabalhadores, sejam eles operadores de fábricas, camponeses, boias frias, ou meros trabalhadores de serviços. E o Brasil que teve trabalhos escravos até o Século XVIII e mesmo após abolição no final do século XX haviam trabalhadores escravizados, trabalhos urbanos precarizados, e uma legislação que dizia que protegia mas que não dava proteção alguma. E maioria dos trabalhadores vinham do continente africano. O mundo mudou para a classe burguesa já estamos no Século XXI, e pasmem estamos diante do comercio de pessoas escravizadas, na Líbia.
E temos Organizações das Nações Unidas - ONU, como guardiã dos Direitos Universais, que provavelmente tem dificuldades em parar de vez com essa humilhante situação internacional. Porém se há comercio de pessoas, há comercio de orgãos humanos, há comércio da exploração sexual de crianças. E assim caminha a humanidade por um túnel de horrores e paralelamente a isto o mundo é inundado por violências chamadas de terroristas e que são grupos patrocinados por grandes potencias do capital, pois compram armas, tem explosivos e uma mídia pra ganhar dinheiro em cima do terror.
No ano de 1995, escrevi um texto que falava do dia 20 de novembro, Dia cívico e de consciência negra. Foi quando na galeria da Câmara Municipal de São José do Rio Preto-SP., conseguimos introduzir na galeria dos presidentes o quadro de Pedro Amaral Campos, o primeiro mandatário de origem negra que passou por nosso legislativo. E outro fato foi a troca de nome da Rua Domingos Jorge Velho para Zumbi dos Palmares, graças a um projeto de Lei do vereador da época professor Carlos Eduardo Feitosa. E eu acredite que o Século XXI, seria por certeza melhor ou seja teríamos uma Conferência Internacional contra o Racismo em 2001, realizada na África do Sul, e via nisto a possibilidade de chegar à este século com cada ser humano priorizando o respeito ao outro. E nós brasileiros com a nossa diversidade étnica com o coração repleto de esperanças, de amor e paz como algo relevante.
E essa esperança nascia muito antes do que pode-se imaginar os seres que foram frutos deste século XXI. Pois no final da década de oitenta mais específico em 1986, o professor Fernando Henrique Cardoso, dizia no Jornal da Comunidade Negra que "Hoje o Brasil se orgulha de ser a oitava potência industrial do mundo, mas é a 56a. sub-potencia, em termos de pobreza. a questão social é fundamental e não está equacionado e com se acaba com a miséria no país este é o grande desafio". E afirmava que o grande problema social é a miséria. E quanto ao negro ele afirmou !Eu vejo que a comunidade negra encontrou a sua identidade, que é cultural, e busca afirmar-se, não pelo embranquecimento, mas através de suas características próprias. E colaborando com essa fala vi a carta de Osíris Camargo Appolinário de Jandira-SP, "a liberdade chegou foi uma pena que ela ficou muito tempo estagnada não vindo porém a servir como ponto de partida para eclodir em forma de liberdade de ação e expressão para essa raça de escol."
Enquanto essas falas estava sendo escrita, ainda no final do Século XX, conforme uma publicação da Folha de São Paulo de 6 de julho de 1991 uma matéria escrita assim "PF prende acusados de submeter trabalhadores a regime escravos", e neste contexto a prisão fora feita em Linhares -Espirito Santos a 130 km de Vitória, e os presos fora o gerente de recursos humanos de Linhares Agroindustrial Lasa, Sr. Virgílio Reis e o empreiteiro Cícero Tenório, que mantinham em cativeiro 500 trabalhadores. E essas prisões foram em decorrências de denuncias de trabalhadores de Maceió que conseguiram fugir da Lasa. E colaborando a isto teve denúncia de trabalho escravos ainda no pará na empresa reunidas com trabalhadores do Maranhão.
Além da escravidão tínhamos no passado a luta contra a discriminação no Trabalho, e a nossa luta sindical foi para que houvesse o cumprimento da convenção 111, da OIT.
E neste mesmo momento contemporâneo víamos o fim do apartheid da África do Sul, a queda do outro muro dos guetos negros, com a revogação da lei de registro da População, e o presidente da época Frederick De Klerk dando passos para desmontar a espinha dorsal do sistema de discriminação racial institucionalizado na África do Sul à cinquenta anos, em que classifica as pessoas pela cor da pele e não havia nem um caráter meramente burocrático, condicionava negros em todo o seu futuro, a um funil de espectativas, dizendo onde devia moral, quais empregos podiam fazer, em que hospitais podiam ser atendidos, e até aonde podiam frequentar em termos de praia. As mudanças foram na época recebidas com satisfação porém com reservas. A riqueza tomada não foi devolvida. Os negros ilhados em favelas ficaram em 45% de desempregados. No sistema de ensino a linha divisória não foi rompida. a abertura foi lenda e gradual, participei do Projeto Amndala, e não tenho maiores informações sobre a África do Sul dos dias atuais.
Diante destes fatos no final do Século XX, pensava num melhor performance social e humanística no século XXI, porém o sistema capitalista, que tenho sempre a plena noção que é o bicho papão, que produz a miséria e desumaniza o pensar, pois tudo é pelo mercado. Vemos que surgiu em 2001 a folha de São Paulo, numa reportagem de Paulo Daniel Farah:
"A cada ano, milhares de sudaneses -em sua maioria mulheres e crianças- do sul do país são capturados, levados para o norte e forçados a trabalhar.
Grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que há dezenas de milhares de escravos no Sudão, a maioria trabalhando para muçulmanos nas Províncias de Darfur e Kordofan.
As crianças contam histórias de violência, estupro e assassinato. "Fui capturada, amarrada e forçada a andar para o norte. No caminho, fui esfaqueada porque eu não conseguia acompanhar os outros. Muitos homens me estupraram. Meu senhor cortou meu órgão genital com uma tesoura", diz Ahok Akot Akot, 12.
Embora se negue a usar o termo escravidão, Cartum afirma ter posto em prática medidas para acabar com os "sequestros". Grupos oposicionistas dizem não ver nenhuma iniciativa.
Segundo várias ONGs que lidam com a questão, a maior parte das vítimas é cristã ou animista e originária do Estado de Bahr al Ghazal, perto da "fronteira" entre o norte e o sul.
Desde a década de 80, o país vive uma guerra civil entre forças leais ao governo, que quer impor o que vê como lei islâmica em todo o Sudão, e rebeldes do sul, que seguem o cristianismo e cultos animistas e lutam por mais autonomia. Estima-se que a repressão à rebelião no sul e a fome, agravada pela seca, tenham causado a morte de 1,5 milhão de pessoas e provocado o deslocamento forçado de 5 milhões desde o início da guerra. O país tem 27 milhões de habitantes.
A ONG de defesa dos direitos humanos Solidariedade Cristã Internacional (SCI), com sede na Suíça, afirma ter libertado mais de 11 mil cativos desde 1995.
"Pagamos em geral US$ 33 por pessoa, o preço de duas cabras, em dinheiro", diz o presidente da SCI, Hans Stuckelberger.
Os críticos da prática de comprar escravos para depois soltá-los afirmam que ela estimula o comércio de escravos.
"Com até US$ 50 por escravo em um país em que a maior parte das pessoas sobrevive com menos de US$ 1 por dia, essa prática estimula o tráfico e a criminalidade", diz o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância e Adolescência).
Ex-escravo
Francis Piol Bol Bok tinha sete anos quando foi feito escravo. Na cidade de Gorian (sudoeste do Sudão), costumava ir ao mercado para vender ovos e feijão.
Num desses dias, a região foi invadida por "recrutadores", que amarraram as crianças a burros para a viagem que fariam em direção ao norte; as crianças consideradas pequenas demais eram colocadas em cestos puxados pelos animais. Todas foram levadas para um mercado de escravos em Kirio, onde havia centenas de recém-capturados; Bok foi ofertado ao irmão do líder dos "recrutadores".
"Aquele homem me levou para a casa dele e disse à família para me bater e me chamar de escravo, escravo", afirma Bok.
Depois de sete anos de maus-tratos, durante os quais teve de dormir com os animais do "senhor", o sudanês tentou fugir pela primeira vez. Com marcas na testa que o identificavam, foi rapidamente capturado e, em seguida, espancado.
"Eles me disseram que, se eu tentasse escapar novamente, eles me matariam", relata. "Mas eu sabia que eu teria de fugir. Quando você chega aos 16 ou 17 anos, eles começam a achar que você pode representar algum tipo de ameaça e o matam."
Logo após ter completado 17 anos, Bok fugiu e conseguiu uma carona com um caminhoneiro até alcançar a capital sudanesa, Cartum. Depois de ser torturado por agentes de segurança do governo, segundo conta, conseguiu escapar para o Egito. Em 1998, obteve o status de refugiado.
Hoje, com 21 anos, é membro do Grupo Americano Anti-Escravidão, baseado em Boston."
Em 2015 aqui no Brasil a pastoral da Terra trouxe o assunto sobre o tráfico de pessoas e a escravidão moderna, associadas a duas situações, seres humanos vítima da exploração sexual e o trafico de pessoas para o trabalho escravizado como do período colonial brasileiro. A Pastoral fêz retomarmos ao Protocolo de Palermo ratificado pelo Brasil junto a ONU em janeiro de 2004. Com o decreto 5017 por se tratar de um direito Internacional considerado na hierarquia no protocolo abaixo de nossa constituição. Já no Brasil de 2014, vimos que o Conselho Nacional do ministério Público (CNMP) publicou os dados a respeito dos procedimentos extrajudiciais do MP em relação ao tráfico de pessoas. Portanto temos por aqui o Ministério Público atento.
E em 2017 Contra o tráfico e a pirataria o Continente Africano com quarenta países adotaram uma Carta para garantir uma melhor segurança na costa do continente, numa reunião realizado no Togo, conforme informou Denis Sassou Nguesso presidente do Congo.
E o que vemos agora publicado na "Esquerda Diario é a noticia de que seres humanos fugindo da pobreza e de guerras incentivadas e criadas pelo imperialismo, milhares de negros de toda África se amontoam na Líbia, sonhando com a dura e perigosa travessia até a Itália. No fundo do Mediterrâneo se acumulam corpos de africanos, sírios, afegãos, imigrantes que não resistiram à perigosa viagem.
A Europa, convertida em uma prisão, com campos de concentração para impedir a chegada de imigrantes, está dando dinheiro para a Líbia impedir a travessia de imigrantes. Isso tem incentivado não somente os estupros, assassinatos, tortura, mas também a escravidão.
Vem sendo denunciada, desde o primeiro semestre desse ano, a situação de escravidão pela qual passam os negros na Líbia. Da ONU à União Europeia, muitas foram as ONGs, governantes e líderes a se pronunciar, em decorrência das imagens chocantes divulgadas. A hipocrisia do imperialismo é imensa.
A situação de emigração nos países devastados pelas guerras imperialistas expõe milhares de imigrantes que viajam até a Líbia para chegar à Europa, com o risco de serem sequestrados, abusados, mortos e vendidos em mercados de escravos no país localizado ao norte da África. Essa situação foi denunciada por dirigentes ocidentais e africanos e teve grande impacto. A indignação causada certamente obrigou que inclusive os países imperialistas se pronunciassem, e o fizeram com tom de espanto.
Mas o imperialismo não somente sabia como incentivou essa barbárie. “Com exceção do cidadão comum, todo mundo sabia, os governantes, as organizações internacionais, os líderes políticos”, relata Hamidou Anne. Alioune Tine, diretor para a África ocidental e central na Anistia Internacional, com sede em Dacar. Também afirma que “a tomada de reféns, a violência, a tortura, os estupros eram normais na Líbia, e da escravidão já se fala faz tempo”.
A presidente do Médicos Sem Fronteiras, Joanne Liu, questiona que, “em seus esforços por conter o fluxo (migratório), os governos europeus estarão dispostos a assumir o preço do estupro, da tortura e da escravidão?” Sabemos que a resposta é “sim”, pois de nada interessa a eles que rompam com a xenofobia que assassina todos os dias milhares de imigrantes. “Não podemos dizer que não sabíamos disso” ela afirma.
Essa denúncia não é de se espantar, pois é de grande interesse para os capitalistas que essas atrocidades sigam acontecendo enquanto comandam as guerras imperialistas e racistas em todo o mundo, principalmente na África e no Oriente.
A barbárie da escravidão na Líbia é continuação da barbárie dos botes com refugiados se afogando, dos campos de concentração e das guerras imperialistas. Com o ódio que essas fotos provoca é preciso reafirmar quem são os culpados: o capitalismo e o imperialismo.
Diante disto estamos convivendo com a violência de cada dia produzida pelo sistema do capital. E isto não é um filme, traçado pelo olhar de uma câmara instruindo os voyeuristas a ter um espetáculo de dor na tela e depois ir dormir. O que vemos hoje na Líbia assim como em outras partes do planeta terra é uma ação barbarística, que não permite-me ser apenas um espectador, mas alguém que toma partido, pois devemos pensar num humanismo que precisa ser construído, com a paz, com o pão, com a leitura do respeito coletivo.
Manoel Messias Pereira
professor de história, cronista, poeta
membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto-SP. Brasil
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