República Centro Africana - quatro soldados da Paz da ONU são feridos em emboscada

República Centro-Africana: quatro soldados da paz da ONU são feridos em emboscada com rebeldes

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Missão da ONU na República Centro-Africana reportou nessa semana que quatro integrantes das forças de paz da Organização ficaram feridos em uma emboscada promovida por grupos armados próximo a Ippy, na prefeitura de Ouaka. Missão da ONU impediu entrada de combatentes em campo para deslocados, enquanto em outras regiões a situação também permanece tensa.
Confrontos entre a coalizão ex-Séléka, majoritariamente muçulmana, e a milícia anti-Balaka, de maioria cristã, colocaram o país de 4,5 milhões de pessoas em conflito civil desde 2013.
Residentes de Sangari, local para pessoas internamente deslocadas na República Centro-Africana, escutam a rádio Lego Ti la Ouaka (‘A Voz de Ouaka’). A rádio comunitária de Bambari está reunindo muçulmanos e cristãos para construir a tolerância e aliviar as tensões no país assolado pela guerra. Foto: OCHA / Gemma Cortes
Residentes de Sangari, local para pessoas internamente deslocadas na República Centro-Africana, escutam a rádio Lego Ti la Ouaka (‘A Voz de Ouaka’). A rádio comunitária de Bambari está reunindo muçulmanos e cristãos para construir a tolerância e aliviar as tensões no país assolado pela guerra. Foto: OCHA / Gemma Cortes
A Missão Integrada Multidimensional de Estabilização da ONU na República Centro-Africana (MINUSCA) reportou na quarta-feira (22) que quatro membros das forças de paz da Organização ficaram feridos em uma emboscada promovida por grupos armados próximo a Ippy, na prefeitura de Ouaka.
De acordo com o porta-voz do secretário-geral, os integrantes das forças de paz impediram que vários combatentes – incluindo membros da Frente Popular para a Renascença da República Centro-Africana (FPRC) – entrassem em um acampamento para pessoas internamente deslocadas em Ippy. Algumas pessoas na multidão dispararam contra soldados da paz, que retornaram fogo, matando dois membros da FPRC.
Em um comunicado à imprensa emitido no início deste mês, a MINUSCA havia enfatizado que duas facções do grupo armado ex-Séléka – a coalizão Frente Popular para a Renascença da República Centro-Africana e o Movimento para a Unidade e para a Paz – ameaçam os civis do país e que as forças de manutenção da paz das Nações Unidas responderão em caso de violência.
Diante da situação, a Missão pediu a todos os grupos armados que cessem imediatamente as hostilidades, bem como resolvam qualquer problema através do diálogo no âmbito da Iniciativa Africana para a Paz e para a Reconciliação.
Na semana passada, a MINUSCA informou que aumentou a sua presença na cidade de Bambari, enviando tropas adicionais e especiais à região e estabelecendo uma unidade de resposta rápida no local.
Os confrontos entre a coalizão ex-Séléka, majoritariamente muçulmana, e a milícia anti-Balaka, de maioria cristã, colocaram o país de 4,5 milhões de pessoas em conflito civil em 2013.

ONU e organizações internacionais condenam ataques a civis

A ONU, a Comunidade Econômica dos Estados da África Central (CEEAC), a União Africana, a Organização Internacional da Francofonia (OIF) e a União Europeia condenaram no domingo (19) os atos de violência realizados por grupos armados na República Centro-Africana e manifestaram forte preocupação com a situação de segurança e humanitária da região.
De acordo com uma declaração conjunta emitida pelas cinco organizações, a violência perpetrada pela Frente Popular para a Renascença da República Centro-Africana e seus aliados, bem como pelo Movimento para a Unidade e para a Paz, causou várias mortes de civis, bem como o deslocamento de muitas pessoas, aumentando os problemas humanitários na região.
Mulher segurando criança em Bambari, na província de Ouaka, na República Centro-Africana, onde a violência perpetrada por grupos armados causou o deslocamento de várias pessoas. Foto: OCHA / Gemma Cortes
Mulher segurando criança em Bambari, na província de Ouaka, na República Centro-Africana, onde a violência perpetrada por grupos armados causou o deslocamento de várias pessoas. Foto: OCHA / Gemma Cortes
Exigindo a cessação urgente das hostilidades, as organizações sublinharam que todos os ataques contra a população civil, contra o pessoal da ONU e agentes humanitários podem ser sujeitos a processos judiciais, de acordo com a legislação nacional e o direito internacional humanitário.
Os organismos também elogiaram a “ação robusta” empreendida pela MINUSCA para proteger os civis e ajudar a pôr fim à violência nas áreas ameaçadas pelos combatentes, e encorajaram a missão a prosseguir com os seus esforços.
“Apenas o diálogo, em precisa observância da ordem constitucional e democrática, permitirá aos atores sociais do país encontrar respostas adequadas e sustentáveis às suas legítimas reivindicações”, afirmaram em comunicado.
“A este respeito, destacamos a importância da Iniciativa Africana para a Paz e a Reconciliação liderada pela UA, pela CEEAC e pela Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos [ICGLR] e apoiada por Angola, República do Congo e Chade”, acrescentou o documento.
Os organismos afirmaram ainda que vão trabalhar em conjunto para o sucesso da iniciativa e se comprometeram em apoiar os esforços do presidente Faustin-Archange Touadéra, a fim de promover de forma sustentável a reconciliação e uma governabilidade inclusiva.
Em meio à violência renovada, o mais alto funcionário das Nações Unidas no país pediu livre acesso a civis impactados pelos confrontos entre grupos armados rivais.
“É inaceitável que os civis paguem o preço por rivalidades entre grupos armados por causa de suas convicções religiosas ou filiação política”, disse o coordenador humanitário da RCA, Aboubacry Tall, apelando às partes no conflito nas províncias de Ouaka e Haute Kotto para que respeitem e defendam o direito internacional humanitário.
De acordo com o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) no país, desde o início de 2017 houve conflitos mortais entre grupos armados rivais nessas duas províncias.
A cidade de Bambari, capital da província de Ouaka, tem atualmente 45 mil pessoas deslocadas de uma população de 160 mil. Desde o final de novembro de 2016, cerca de 20 mil novos deslocados internos foram registrados.
A cidade de Maloum, a 63 quilômetros a norte de Bambari, recebeu recentemente cerca de 4 mil novos deslocados devido a confrontos entre grupos armados nas províncias de Haute Kotto e Basse Kotto, bem como na província de Ouaka (Ndjoubissi, Ndassima, Ippy, Belengo, Mbroutchou e Atongo-Bakari).

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