Crônica - Amilcar Cabral em memória - Manoel Messias Pereira


Amílcar Cabral em memória

O dia 20 de janeiro de 1973, assinala a morte Amílcar Cabral, estupidamente assassinado  na Guiné-Conakry, por Inocêncio Kaní, um espião agente do colonialismo português infiltrado no PAIGC, e ao mando do general António Spínola que foi governador colonial da Guiné Bissau.

Para tanto o assassino era da etnia Manjango da Guiné Bissau arquipélago no lago Bissangos-arquipélagos e serviu no Exército Colonial Português e em 1960 juntou-se com Partido Africano para a Independência de Cabo Verde e Guiné Bissau. Com amizade que fez com Amílcar Cabral foi enviado para a União Soviética, em que teve um treinamento e em 1969 foi promovido ao Ato comando, e perdeu por corrupção. Mas escondeu -se no Partido e na frente do apartamento onde vivia Amílcar e sua esposa Ana Maria  Cabral, a terceira é última. A execução de Amílcar foi com dois tiros, sendo que  o primeiro Kaní atira no fígado. Cabral senta no chão e tenta conversar com aquele que ele supostamente achava que era um de seus camaradas, mas um segundo disparo é feito desta vez na cabeça. E o líder do PAIGC, perde a vida.

Após essa morte e sobre o comando de Sekou Touré, presidente da Guiné Conacry, foi constituída uma comissão internacional para apurar as circunstância da mesma. Os conspiradores juntamente em numero de três entre eles Inocêncio Kaní, foram presos e entregues aos militantes do PAIGC, que por meio de um tribunal militar prendeu julgou, condenou e prosseguiu em fuzilamentos de Kani e seus companheiros. Os motivos do assassinato foi pessoal e há acusação racista. Porém é sabido que os documentos do julgamento desapareceram.

O poeta Manuel Alegre acreditava que Amílcar Cabral foi o mais inteligente, criativo e mais brilhante de todos os dirigentes da luta de libertação dos povos africanos colonizados. E Cabral tinha um presságio de que ele seria assassinado por pessoas próximas. E essa morte pelo que se sabe hoje estava nos planos da PIDE, a policia política portuguesa.

No livro "A ponta da Navalha" escrito pelo jornalista francês  Gerard Chaliand, consta um diálogo em que disseram a Nelson Mandela "tu es o maior" e Nelson respondeu com toda a simplicidade que o maior era Amílcar Cabral. Mas quem faz a afirmação disse Cabral foi assassinado e Mandela disse "porque não tinha consigo nenhuma arma, ele que era o principal teórico da luta armada afrina de libertação.

A biografia de Amílcar Cabral, traz a informação que ele nasce em 12 de setembro de 1924, em Bafatá - Guiné Bissau. Era filho de um professor primário chamado Juvenal Cabral e de Dna Iva Pinhel Évora. Aos oito anos muda-se com a sua família para a Ilha de Santiago em Cabo Verde em que viveu sua infância e juventude na localidade de Santa catarina. Entrou no Liceu de São Vicente na Ilha de Cabo Verde em 1937 e termina o ensino secundário em 1944. Ano em que fundou e foi secretário do Boa Vista Esporte Club, obteve uma bolsa de estudos para o Instituto Superior de Agronomia e viaja para Portugal em 1945 e 1946. Quando conhece apaixona-se,  namora e casa-se com Maria Helena  de Ataíde Vilhena Rodrigues, a sua primeira esposa.

Em Portugal juntamente com outros estudantes africanos participa da luta anti - fascista. Foi militante do Movimento de Unidade Democrática da Juventude (MUDJuvenil), da qual afastou-se por divergências  em relação as questões coloniais. Amílcar sempre defendeu os seus ideais de libertação das colônias africanas e de uma foram muito ativa. De 1948 a 1951 foi eleito presidente do comitê da Casa de Cultura dos Estudantes do Império (CEI), Secretario Geral de 1950 e em 1951 seu vice. E juntamente com José Tenreiro e Maria Pinto de Andrade criam em Lisboa o Centro de Estudos Africanos que pela execução do seu programa de "reafricanização dos espíritos" e exerce imensas influências na futura constituição dos organismos políticos unitários.

Em termos de seus estudos ele acaba indo trabalhar na Estação agronômica de Lisboa. E em 1956 juntamente com Viriato da Cruz e outros africanos fundam o PLUA - Partido de Luta Armada Unida dos africanos e mais tarde em Guiné Bissau, juntamente com cinco camaradas fundam o PAIGC - Partido Africano da Independência da Guine e Cabo Verde. E ele tem uma iniciativa de realizar uma Reunião de consulta para o desenvolvimento de um luta nas colonias portuguesas. Desse encontro surge clandestinamente o MAC - Movimento Anti colonialista, em Lisboa.

Em 3 de agosto de 1959, os estivadores e e marinheiros do Porto de Bissau resolvem reivindicar seus aumentos de salários e a reivindicação chega até a uma greve e durante esse período morreu o cão do administrador do Porto, E tudo acabou gerando uma grande repressão por parte das autoridades coloniais na qual morreram  aproximadamente 50 pessoas centenas de pessoas foram feridas. Esse acontecimento foi chamado de Massacre Pidjiguiti. E Amílcar estava lá participando.

Em 1960 ele vai partiipar da Conferência dos Povos Africanos, em Tunis e em junho do mesmo ano dá uma Conferência de imprensa em Londres  em nome dos povos em lutas contra o colonialismo lusitano. E publica "Fatos acerca das colonias africanas de Portugal" de sua autoria, usando o codinome de Abel Djassi. Esse trabalho serviu de texto guia a 1a. Conferência Internacional denunciando o colonialismo português. E em Guiné -Conacry sob a chefia de Cabral surge o secretariado Geral do Partido sob a chefia de Amílcar Cabral.

Em 1961 prossegue com a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colonias Portuguesas (CONCP), criada em Rabat em Marrocos, na qual foi Cabral um dos principais promotores. E faz uma análise geral a marcha de luta do PAIGC escrevendo "Rapport General" que é o Relatório Geral.
Em 1962 apresenta-se pela primeira vez diante das Nações Unidas com uma profunda análise crítica do colonialismo e da defesa dos interesses do Povo de Guiné Bissau e Cabo Verde.

Em 1963 o Partido decide ir para a luta armada. Em 1964 dirige o 1.Congresso do PAIGC em Cassacá nas regiões libertadas ao sul, que operou mudanças decisivas nas marchas de 13 a 17 de fevereiro de 1964. E em  maio deste ano Amilcar participa do Treviglio (Itália), num seminário organizado pelo Centro Franz Fanon de Milão, cujo o tema era "A luta da classe explorada pela sua emancipação nos países subdesenvolvidos dominados pelo imperialismo" A sua intervenção suscinta enormes interesses em todo o mundo e é divulgada em diversos países, sendo o primeiro texto de análise profunda de Guiné. Em 1965 escreve "Palavra de ordem" em que mostra a direção da ação revolucionária a estabelecer em Guiné e em Cabo Verde, em todos os domínios. E foi neste ano que ele casa-se pela segunda vez com Sra. Maria Foss de Sá.

Em janeiro de 1966 Amilcar Cabral dirige a delegação do PAIGC à reunião em Havana (Cuba), que criou a "Organização de Solidariedade dos Povos da Ásia, África e America Latina (Tricontinental), fez uma intervenção altamente discutida e bastante apreciada, e é considerada uma contribuição teórica original no plano histórico-filosófico, no que respeita à análise da marcha da luta dos movimentos de libertação nacional em África e dos fundamentos e objetivos da luta. Tem encontro com Fidel Castro e Chê Guevara.

A Solidariedade para com os povos das colonias portuguesas, a qual serve de base a preparação da conferência de Roma. Por diversas vezes há denuncia de violência que Amílcar Cabral faz perante a ONU, relativo a ação dos portugueses nos territórios colonizados. Em toda a vida a inúmeras ações do partido e da presença de Cabral, seja em Moscou 04/1970, Estados Unidos em Nova York, Roma, Suécia, na Etiópia, reuniões da ONU, da OUA-Organização da Unidade Africana.

Em janeiro de 1970 - O papa Paulo VI recebe em audiência Amilcar Cabral do PAIGC, Agostinho Neto do MPLA e Marcelino dos Santos da Frelimo. E Amilcar Cabral recebe o título de Dr. Honôris Causa da Universidade Lincoln dos Estados Unidos.

Quando temos uma sua morte, temos  a sua eternidade, não podemos esquecer aquele que lutaram desde cedo para o processo de libertação social de um povo, faz desta luta a sua liberdade embora isto as vezes fica como uma história de dor.  Os criminosos confessaram que o organizador do atentado foi Ioda Nagbogna, conhecido como Batia, e disse que as autoridades portuguesas tinham lhe prometido dar a Independência de Guiné desde que o PAIGC fosse exterminado e todos os cabo-verdianos fosse excluídos, pois Portugal pretendia continuar como colonizador, daí a ideia da infiltração de espião no PAIGC,  FRELIMO e MPLA. Outro criminoso foi Lasana Bang que afirmou que os imperialistas portugueses preparava um plano de agressão contra a República de Guiné, Tanzânia e Zâmbia. Entre outras coisas assassinar Amílcar Cabral ou Eduardo Mondlane, mas não conseguiram impedir a independência de toda a África.

Amílca foi morto em janeiro de 1973 e em setembro deste mesmo ano tivemos a Independência de Guiné Bissau, em novembro de 1975 tivemos a Independência de Angola, em 25 de junho de 1975 a Independência de Moçambique e em 5 de julho de 1975 a Independência de Cabo Verde.

A transformação da sociedade segundo os princípios marxistas exige concepção científica do mundo, e com isto a importância da filosofia como instrumento do pensamento humano da importância de suas leis gerais do desenvolvimento da natureza e da sociedade do conhecimento em que a economia política que procura estudar as relações de produção, numa revolução que abranja todas as esferas, num enriquecimento continuo. Numa luta coletiva em que os explorados e dependentes possam respirar, e lutar continuamente por seu processo de emancipação politica.


Manoel Messias Pereira

cronista
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São Jose do Rio Preto -SP. Brasil








Comentários